Carlos Alberto dos Santos Dutra
Corria o ano de 1996 e a Educação garantida aos filhos de
Brasilândia neste tempo que hoje é só lembrança, acontecia pelos desvãos
das empoeiradas estradas que ligavam o campo à cidade e nele o progresso
que aos poucos a todos foi alcançando.
No distrito Debrasa, sacolejando lá vai um ônibus mercedes-benz de cor
bege arrebanhando alunos, entre porteiras e cercas, gado e seriemas,
adentrando o coração das fazendas que vão surgindo entre ipês, pequis e
carandás.
Fátima, Jesuíta, Córrego Azul, Modelo, Miracema e arredores da Debrasa
uma a uma vão acolhendo o frescor da juventude e inocência pelas mãos
dos motoristas até chegar à
Escola para beber do saber e o desafio do amanhã.
Heráclito Luiz da Silva era o professor da estrada. Assim como outros, na
pessoa de
Alessandro Gonçalves da Cruz e seu mercedes-benz de cor verde, ou os
proprietários das famosas peruas Kombi encarregadas de transportar
docente e discente por caminhos nativos, do conhecimento de muitos, em
especial dos
alunos que por lá trilharam essa educação sobre rodas.
E lá estão, muito cedo, aquelas meninas brancas, de rodas, céleres, cortando o
município rumo ao Porto João André, fazendas Modelo, Córrego Azul,
Antares, Boa Esperança e Vista
Alegre, pelas mãos prestativas do Sr. Auri Vieira dos Santos recolhendo o bem mais precioso -- os filhos --, de pais que fitam de
longe, vê-los transformados em cidadãos de bem.
Enquanto isso, esses pupilos aguardam, pacientes, junto à porteira ou
sob uma árvore, protegendo-se do frio ou do sol, que nasce muito cedo
para os que precisam vencer distâncias no tempo da discórdia e na
história das injustiças.
Nos trajetos mais longínquos, o dia parece noite e a linha da Fazenda
Pontal, feito pela Kombi do Sr. Jesumiro Olimpio de Lima, ou a linha da
Barra Bonita, realizada pela Kombi de propriedade da Srª Silvana Alves, é trajeto
seguro para o aluno aplicado mesmo que retorne sonolento e cansado para os braços da família.
Alunos e pais permanecem olhando para o amanhã, entre o cerrado e a
estrada, enquanto o veículo se esconde no bambusal do caminho. Sentem
conforto e
confiança em saber que há um futuro para seus pequenos e frágeis
tesouros.
Quanto aos professores, que também viajam no itinerário deste
aprendizado, por dever e cotidiano de luta, sonham em ver aqueles
rebentos, que também são seus, formados, colocados no mundo das
realizações e das
oportunidades que todos desejam.
O amanhã logo chegará. Mais uma parada, mais uma porteira a ser aberta,
mais um viagem cumprida, rompendo o silêncio, mesmo que o gado estoure
e
o vento balance com força o junco da cana que a cada ano parece mais
viçosa. E
lá vai ficando para trás as fazendas Jatiúca, Pioneira, Gameleira, Santana e tantas outras...
Um pouco mais adiante, e o pipilar estudantil chega à escola da
Fazenda Araponga. Ah, que saudade. O veículo-escola do Sr. Alcides
Raimundo abre a porta
e os sonhos, a passos largos, saem todos correndo, enquanto uma brisa de
esperança e futuro dá sinal de querer entrar.
É fim de aula, é fim de um ciclo. Um novo amanhã que chega. Os
motoristas do transporte escolar, que foram e muitos deles ainda permanecem, eles continuam sua missão. Vinte e dois anos se
passaram. Mas a lembrança dos mestres da estrada permanecem. Obrigado
motorista-professor... Parece que foi ontem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário