quarta-feira, 20 de setembro de 2023

 

Distrito Debrasa: quando tudo começou

Carlos Alberto dos Santos Dutra

O ano era 2023, e a Prefeitura de Brasilândia programava realizar no dia 23 de setembro atividades culturais e esportivas em comemoração ao aniversário de criação do distrito Debrasa. Mas para fazermos justiça à memória dos pioneiros que ali dedicaram suas vidas, cumpre lembrar que a história começa muito antes do dia 19 de setembro de 1996, quando, através da Lei municipal 913/96, aquele aglomerado urbano foi elevado à condição de distrito. 

O site da Prefeitura informava na ocasião que os eventos se dariam na praça central do distrito Debrasa, ocasião em que seria realizado o tradicional bingo com a população. Iniciemos, pois, não olvidando o nome da Praça: ela chama-se Praça Walter Antônio Pádua Becker. Mas, vamos lá retroagindo um pouco no tempo. As páginas amareladas do Jornal de Brasilândia, do saudoso Jamil Fernandes, falecido em 2015, nos auxiliam neste resgate histórico. 

No final da década de 1970, encontramos o registro de que, empresários pioneiros visualizaram a possibilidade de se implantar no interior de Mato Grosso do Sul, mais precisamente no município de Brasilândia, uma destilaria de álcool. À custa de muitos sacrifícios, mas com a determinação própria dos desbravadores os obstáculos encontrados foram transpostos e o sonho foi concretizado surgindo a Destilaria Debrasa.

E lá encontramos o setor produtivo da DEBRASA, a partir do dia 25 de março de 1976, data da fundação da Destilaria Debrasa, na época atuando de forma acelerada na produção de álcool, gerando para a região mais de dois mil empregos, possuindo uma área plantada de 16.400 hectares de cana de açúcar, produzindo um milhão de toneladas de cana para corte e que projetava para o exercício de 1987 a produção de 74 milhões de litros de álcool. 

Motivo de orgulhos para os pioneiros diretores: Maurílio Biagi Filho, diretor-presidente; Nelson Brochmann, diretor vice-presidente; Arnaldo Bonini, diretor superintendente e Walter Antônio Pádua Becker, diretor de administração. Os seus principais acionistas nesta época eram a Usina Santa Elisa S/A, Indústria e Comércio e Construções e Jacyra de Moraes Höffig. 

Porém, novos obstáculos apareceram: como fixar os trabalhadores próximos ao seu local de trabalho? Desta necessidade o núcleo habitacional Debrasa foi criado. Como solução, a empresa realizou provisoriamente um loteamento próximo à indústria e procedeu a venda de lotes aos trabalhadores de forma parcelada e a custo baixo. 

Com o passar dos anos, entretanto, o que era solução passou a ser problema, pois como é do conhecimento de todos, só é legítimo possuidor do imóvel, quando a propriedade está devidamente escriturada e registrada em cartório de imóvel. Sem contar a dificuldade de os lotes estarem em área rural com finalidades urbana, observa Jamil Fernandes. 

Como proceder então? Com a implantação da indústria o núcleo habitacional cresceu a olhos vistos: novas residências foram construídas e novos comércios foram abertos. Mesmo assim, passado os anos, o núcleo Debrasa continuava a ser o mesmo loteamento provisório de antes. 

Foi quando a Prefeitura de Brasilândia na época, através da prefeita Neuza Paulino Maia, determinou que estudos fossem realizados para que o núcleo Debrasa pudesse vir a ser efetivamente o Distrito Debrasa. Outras tentativas já haviam sido realizadas, não substanciadas na legalidade, mas que haviam se perdido nos escaninhos da política partidária desses tempos. 

Após a realização de estudos, por fim, chegou-se à conclusão que em primeiro lugar a área necessitava ser desvinculada do INCRA, e, posteriormente, abrangida por Lei municipal que ampliaria o perímetro urbano (o que foi efetivada pela Lei municipal nº 886/95), para que desta forma os proprietários pudessem realizar o loteamento, de acordo com a Lei municipal nº 401/95, e Lei federal nº 6.766/79. Coube à Prefeitura assessorar os proprietários quanto aos procedimentos legais, pois só eles poderiam realizar tais empreendimento, por serem os legítimos possuidores do imóvel. 

Para tanto a empresa contratou um responsável técnico para assessoramento quanto à documentação e respostas técnicas juntos aos órgãos competentes, ficando ainda a cargo da empresa os serviços de topografia para demarcação de todo o loteamento. Contudo, o andamento dos trabalhos foi interrompido por falta de acompanhamento topográfico, o que originou a demora da realização do empreendimento e consequentemente a [não] criação do Distrito Debrasa. 

A vida e o trabalho dos moradores continuaram. Segundo dados da Prefeitura de Brasilândia, à época, o Distrito Debrasa possuía 1.015 habitantes, num total de 610 imóveis, sendo 320 residências, 39 comércios, entre outros. 

Nos meandros dos acontecimentos, lembra o jornalista, uma passagem muito interessante do saudoso senhor Thomaz de Almeida, homem de visão que se preocupou para que a instalação de parte da moenda da usina Debrasa ficasse do lado de cá do rio Taquaruçu (pertencendo a Brasilândia), pois o lado contrário, ele tinha conhecimento, que, com a emancipação do ex-distrito de Xavantina, como aconteceu, a região passaria a pertencer a Santa Rita do Pardo. 

O Distrito Debrasa foi finalmente criado através da Lei municipal nº 913/96, em 19 de setembro de 1996, na administração da prefeita Neuza Paulino Maia que sancionou o desmembramento do distrito Debrasa do distrito sede do município de Brasilândia, sendo que seus limites se encontravam dentro das seguintes divisas: 

Inicia-se na ponte localizada sobre o Taquaruçu em sua margem esquerda, divisa deste município com o município de Santa Rita do Pardo, deste segue à margem esquerda da Rodovia Estadual MS-395, denominada Julião de Lima Maia, com sentido a sede deste município; ao encontrar o Córrego Azul, também conhecido por Paredão, segue por ele acima até a sua mais alta cabeceira, a partir daí em divisa seca através de uma linha reta, até a mais alta cabeceira do Córrego Invejoso; segue por este até sua foz no rio Taquaruçu; segue por este abaixo, até encontrar a ponte de travessia da Rodovia MS-395, aonde teve o seu princípio. 

Enfim são muitas informações e passagens históricas que, na era da internet, podem tranquilamente ser cotejadas pelo cidadão interessado. Estes eventos comemorativos, por conseguinte, podem ser uma excelente oportunidade para que não esqueçamos das bibliotecas vivas que, desafiando a memória líquida da modernidade digital, teimam em perenizar na moldura do tempo as lembranças e o testemunho dos pioneiros e fundadores do distrito Debrasa. 

Brasilândia/MS, 20 de setembro de 2023.

 

Mais informações sobre a história do Distrito Debrasa cf. História e Memória de Brasilândia/MS, volume 1-Pioneiros, capítulo 3-Quando tudo começou-Testemunhos, páginas 283 a 295, que se encontra disponível na Biblioteca Municipal de Brasilândia Profª Abadia dos Santos, e Bibliotecas do SESI e todas as Bibliotecas Escolares de Brasilândia. 

O livro também pode ser adquirido em: História e Memória de Brasilândia/MS - Pioneiros, por Carlos Alberto dos Santos Dutra - Clube de Autores

 


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