segunda-feira, 25 de setembro de 2023

 

Vicente Borges dos Reis, missão cumprida.

Carlos Alberto dos santos Dutra



Brasilândia amanheceu mais triste. Bem que o sol escaldante poderia dar uma trégua e cedesse lugar à chuva para diluir as lágrimas dos familiares e amigos do senhor Vicente Borges dos Reis que hoje fez sua Páscoa definitiva.

As despedidas sempre nos surpreendem. Não nos acostumamos a elas, em especial quando se trata de quem mais amamos, os entes de sangue, os nossos pais.

Sim os anos passam. E os rebentos mais novos, já na pontinha dos galhos da árvore genealógica que nos prende uns aos outros em família, mesmo em flor, uma recordação ainda balança ao ser tocada pelo vento da saudade.

Mas ela, a história, está lá, firme sobre as raízes plantadas numa época que já vai longe. Com suas lidas e andanças lá vai o velho timoneiro, assim acenando. É como se a barranca do Porto João André abraçasse aquele mineiro vindo da cidade conhecida como Ventania, município de Alpinópolis.

E lá encontramos o filho de dona Emirene e Pedro Borges Vicente, no dia 20 de outubro de 1942, às voltas com aquele menino recém-nascido, que logo se tornou um homem forte, alegria de seus pais.

Aos 15 anos já se encontrava distante de casa enrijecendo os braços para trabalhar na Usina Elétrica de Furnas, até o dia em que chegou no Mato Grosso do Sul. Encantado com as belezas do lugar, o jovem Vicente ingressou na Polícia Militar, trabalhando muitos anos no posto fiscal do Porto João André.

Foi ali que seu coração capitulou diante do olhar encabulado da filha do seu Elpídio e dona Dolores: a doce Niderce com quem se casou e constituiu sua família. Foi um tempo, ele recorda, onde as margens do rio Paraná embalavam a vida com a suavidade dos remos de uma canoa encantada ao cair da tarde.

Roda o relógio dos dias e o policial Borges se encontra às voltas com uma Brasilândia ainda em construção no seu nascedouro: as funções de delegado, na falta do titular e a façanha como um dos sobreviventes da queda da ponte do rio Verde que levou um ônibus pelas águas e vitimou 30 pessoas são algumas de suas passagens.

Sim, um brasilandense de coração que por aqui fez história e contribuiu também para o desenvolvimento local. Instalado como empresário no ramo de panificador, foi um dos pioneiros neste setor. Quem não se lembra, desde os idos 1983, no distrito Debrasa, da Padaria do Borges e, ao lado da Panificadora 47, na sede do município, tendo à frente a esposa Niderce, foram os marcos da indústria de alimentação local, ainda no tempo dos fornos a lenha?

Nos últimos anos de vida, homem pacato, poucos na verdade sabiam de sua trajetória e engajamento comunitário que desempenhou também no campo social e político local. Em 1986, por exemplo, fazia parte do Conselho Fiscal do pioneiro Sindicato Rural de Brasilândia-SRB, ao lado do presidente Eliazel Paes de Oliveira. 

Filiado ao PMDB de Brasilândia, em 1988, foi escolhido membro do Diretório Municipal em convenção partidária; em 1995, foi 1º Vice-presidente deste partido ao lado de Dr. Antônio de Pádua Thiago, e em 1992 foi candidato a vereador pela mesma sigla, dando sua contribuição cidadã ao município.

Depois de uma longa caminhada, um mês antes de completar 81 anos, eis que seu Vicente Borges dos Reis decide, não por vontade própria, mas por que o bom Deus assim julgou melhor, que ele seguisse por caminhos menos íngremes. Mesmo que doa para os amigos, a esposa, os filhos e netos, o descanso eterno é o que consola a todos.

Participante das atividades religiosas da Paróquia Cristo Bom Pastor, seu nome e de sua esposa consta no Livro Tombo da Paróquia como testemunha e padrinhos em diversos casamentos ali realizados desde o tempo das Irmãs da Congregação de Jesus Crucificado. Sim, seu Vicente está em paz com Deus. Ele cumpriu sua missão e deixou ao seus  rebentos a melhor das lembranças, para sempre, em seus corações. Descanse em paz, amigo Vicente Borges dos Reis.

Brasilândia/MS, 25 de setembro de 2023.

 



















Soldado Vicente Borges dos Reis, PM Borges, no ano de 1960

(Foto: Arquivo João Batista Marques, 2010).




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