Enquanto o regresso
não chega...
Carlos Alberto dos
Santos Dutra
Ah!, esse frio gelado que bate na minha porta. Porta escancarada ao forasteiro amigo, ao errante desconhecido, aquele amor que se foi, perdido em terras distantes.
Ah!, essas águas frias intempestivas que avançam sobre os campos, inundando estradas, desmoronando casas, ruindo lavouras, cidades e sonhos.
Ah!, essa Campanha gaudéria de Martin Fierro, herança Charrua e Minuano que nunca se curvou à intempérie e o tempo, dobrando os caminhos da história, agasalhando sob o poncho o caldo de sua ancestralidade...
Mas hoje não quero falar do tempo e as ações da natureza sobre vidas humanas. Não quero falar do que fomos, por onde andamos e aquilo que soçobrou por entre taipas anônimas araganas.
Quero falar daqueles que dentro de seus ranchos ainda sorvem o mate pelas madrugadas e labutam para continuar vivendo, tocando a tropa da vida em frente. Falo de corações apertados de mães que colocam suas mãos sobre o peito elevando a Deus uma prece, rogando proteção a seus filhos, andarilhos que cruzam caminhos distantes, errantes, em busca de uma pousada.
Falo das palavras duras de um pai que, encravadas no chão plano da realidade pampeana, se firma nos tentos e, montado em seu pingo alado, prima pelos ensinamentos dos antigos repontando os filhos para que sejam fortes no curso e ginete de seus destinos.
Falo de quem se encontra distante, com o olhar espichado, e que ainda chuleia, contando os dias para voltar, correr ao encontro, e poder abraçar a mãe terra que um dia o pariu. Voltar a atravessar sangas e lagoas, cacimbas e aguapés, e correr descalço na areia sem medo do bicho de pé.
Falo de pais e mães que já partiram e que hoje são lembranças; paredes de casas que falam e ainda fazem pulsar o coração de quem por ali deu seus primeiros passos. Falo de irmãos e irmãs que, a despeito do tempo, suportaram os dias, saudade e distância e, ainda lá permanecem domando os revezes da lida, da dor e do desafio cotidiano da sorte.
Ah!, essa estrada que me leva de volta à minha terra natal, sempre, e cada vez mais longe e distante, enquanto o calendário dos dias passa... Ah!, esse guri descalço que ainda habita em mim, e que insiste em correr pela margens do rio Cacequi...
Quando ele terá coragem e força para correr ao encontro daquele chão abençoado e confortar-se com o que a vida fez àquele lugar e aos corações dos que ali permaneceram e ainda lhe esperam?
Ah!, esse menino que se encontra a caminho, e já pode sentir o vento minuano que lhe empalidece a cara e aponta o rumo da fronteira oeste da querência, como que dando boas-vindas ao filho, irmão e amigo que há 45 anos deixou o pago e agora, pede licença a seus cabelos brancos, velho tata, para sonhar um dia poder voltar.
Brasilândia/MS, 5 de agosto de 2025
Para o meu saudoso pai, seu Vilson e minha saudosa mãe Laura.
Na foto, minha mãe Laura e seus 4 primeiros filhos: Carlito, Léa, Eduardo e João
Nossa . Lágrimas não faltam .A emoção toma conta.Querido mano escritor que Deus abençoou com o dom das palavras.A saudades só aumenta.Mas sei que vamos nos encontrar para essa saudade amenizar.Gratidao querido Que Deus continue te abençoando.Te amo muito.
ResponderExcluiró querida mana. do fundo do meu coração. te amo.
ExcluirBah mano,
ResponderExcluirCada vez mais aprofundas sua sensibilidade em transformar os mais puros e lindos sentimenos em palavras escritas com o alfabeto do coracão. Tranformas a dor sa saudade em poesia...
Obrigado mano por dividir conosco mais uma das muitas lembranças da nossa familia.
mano. moras no eu coração. obrigado.
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