Carlos Alberto dos Santos Dutra
Tem pessoas que levam uma vida inteira para se revelar.
E mesmo assim só a conhecemos quando ela se despede.
Com ele, entretanto, não foi assim.
Desde jovem andou pelos caminhos do bem e da paz.
Seu Teófilo e dona Benedita, seus pais, ao lado dos 5 irmãos, desde que saiu de Minas Gerais para constituir sua família, na antiga Xavantina, o casal revelou um propósito que foi ensinado a cada um dos filhos: cultivar o silêncio e uma boa conversa.
E foi assim, desde que nasceu, em 22 de fevereiro de 1922, que seu Ilíbio Grigório Rodrigues foi cultivando rosas no jardim de sua existência, não sem dificuldades, dia após dia. Jovem moço e apessoado, logo conheceu, na Fazenda Califórnia onde nasceu e cresceu, aquela que viria a ser, a mãe de seus filhos: Manoela Rosa Rodrigues. O casamento civil aconteceu no cartório no distrito de Garcia, onde, depois varar a poeira e a distância, ainda era preciso atravessar o Porto das Corredeiras, no cabo de aço do Rio Verde, buritizal afora, até pegar o trem da Noroeste para chegar ao Juiz de Paz. O casamento religioso deu-se na capelinha da Fazenda Califórnia. E sua devoção no Bom Jesus da Lapa abençoou o lar recém-criado, com nada menos do que 10 filhos para a alegria daquele lar humilde, mas carregado de fé e esperança.
E lá estavam os tesouros de seu Ilíbio e dona Manoela: Maria Rosa, Dirce Rosa, Miguel e Antônia (hoje falecidos), José, Benedita, Protázio, Ilíbio Filho, Teófilo e o caçula Antônio Aparecido. Lavrador de tradição, depois que chegou a Brasilândia, em 1987, quando deixou a zona rural, ocupou-se, sempre de forma autônoma, em atividades ligadas à terra: pequenos carretos, transportando mudanças, toras de madeiras, equipamentos, e outros materiais, no reboque de seu pequeno trator, que zelava com todo o cuidado.
E lá o vemos, parece que foi ontem, numa tarde de domingo, seu Ilíbio com o trator e o reboque carregado de crianças e jovens, mais de 40 pessoas alegres e festivas, lembra o filho José, que se divertiam pelos campos catando guabiroba, num tempo doce que ainda nos dá água na boca, mas que não volta mais. Noventa e quatro anos se passaram, e sua vista ainda continua firme, sendo que nunca perdeu o gosto por uma boa prosa com os amigos. Sentia-se forte e nunca se queixou de doença.
Mas o tempo voa, assim como seus conselhos, cada vez mais apreciados pelos filhos, e os filhos de seus filhos: 22 netos, 37 bisnetos e 6 tataranetos, que, com certeza, lhe darão sequência na história e na justeza do ser. Sem vício algum, lembra a esposa Manoela, nos seus 69 anos de casados, sempre praticou a caridade e ajudou os mais necessitados. Avesso às festas e honrarias, cuidou silenciosamente do irmão durante sua enfermidade, demonstrando sempre compaixão e desprendimento à qualquer um.
Assistia, com devoção, todas as novenas o Pai Eterno, pela televisão, pois frequentar a missa na matriz, com a idade avançada, já se sentia cansado. Não lhe cansava, entretanto, fazer o bem e honrar o nome, tendo ensinado aos filhos, através do conselho e do exemplo, o segredo da vida. A maioria das vezes brincalhão e sorridente, raras vezes com voz mais dura, conforme a situação exigia no ofício de pai. Coisa que sempre lhe causou orgulho era ver a honestidade e o respeito estampada nos olhos dos filhos, verdadeiros tesouros que Deus lhe deu.
Por isso, neste dia, quando lembramos a pessoa de seu Ilíbio Grigório Rodrigues, e sua passagem desta terra para os braços de Jesus, no Céu, é que falamos do seu olhar, e daquela paz que ele transmitia. Sim, aquela rua está em silêncio e aquela esquina, onde ele sentava ao cair da tarde para conversar com os amigos, não será mais a mesma. Partiu aquele que não tinha cara de vovô, porque demonstrava estar lúcido e com vigor admirável. Parecia um amigo sempre disposto a acolher a quem se aproximasse.
Por isso sua partida (ocorrida em 2016) não deixa tristeza, apenas um vazio no coração, porque nunca estamos prontos para a despedida de quem amamos. Mas sabemos que ele partiu para outras bandas, mais para riba, lá no Céu, foi ao encontro dos pais e dos irmãos, e dos filhos que lhe anteciparam. E tudo, sem sofrer. Mudou-se para o alto, para apreciar melhor nossos passos, e cuidar daqueles que continuam por aqui: sua esposa, seus filhos e seus amigos. A primeira, dona Manoela, de braços estendidos para seu esposo, sendo consolada por ele, quando diz que sempre estará ao seu lado. Os seus filhos, sempre irão lembrar dos ensinamentos e o exemplo daquele pai.
E para os amigos, fica a saudade, com o pedido de perdão, por não termos ficado mais tempo ao seu lado. Descanse em Paz, esposo, pai, avô e amigo, Ilíbio Grigório Rodrigues.Que o Bom Jesus da Lapa e o nosso amado Pai Eterno te acolha no Reino dos Céus. Amém. São os votos e as preces de sua esposa, filhos e netos, familiares e amigos. E da comunidade da Paróquia Cristo Bom Pastor.
Publicado originalmente em 24 de janeiro de 2016 e republicado em 26 de janeiro de 2018.
Nenhum comentário:
Postar um comentário