terça-feira, 23 de novembro de 2021


Irmã Terezinha: pedagogia, música e borboletas azuis.

Carlos Alberto dos Santos Dutra






Existem vocações e habilidades que nascem e voam como as borboletas. E o mais belo de tudo é que, enquanto encantam nossos olhos com seu malabarismo serelepe sobre as flores, elas polinizam e geram vida.

 

Existem pessoas que são assim. Desde a tenra idade já demonstram que foram talhadas para transformar realidades por onde quer que passem. Todos sabem que é Deus que confere estes dons gratuitos que descem do alto e se instalam no coração dos que creem, cabendo aos contemplados despertá-los e dividi-los com o mundo.

 

Aquela menina tinha um pouco da felicidade e beleza de uma dessas borboletas, a aura radiante de uma borboleta azul. Desde que nascera no dia 2 de junho de 1949, aquela sergipana natural de Nossa Senhora das Dores, era como se tivesse recebido um ramalhete de graças da mãe do divino Criador do universo.

 

Alegria de seu pai, Manoel Messias Andrade e dona Maria Carlos Santos Andrade, sua mãe, eis que a menina cresceu vigorosa em meio a seus nove irmãos: José Messias Andrade; Iolanda; Manoel Messias Filho; João Evangelista Andrade Neto; Rivanda Andrade; Ivonete; José Augusto; Valdirene e Murilo.

 

Por se tratar da filha mulher mais velha, coube a ela ajudar a mãe criar o restante dos irmãos. Sempre muito responsável, entretanto, nunca descuidou de dedicar seu tempo aos sonhos e aos estudos, que concluiu até o ensino médio de forma brilhante ainda lá no seu estado natal.

 

Menina-moça, desde muito cedo se revelou criativa e inovadora destacando-se entre as demais de sua idade pelo gosto à música e o ensinar. Sempre amou dar aulas, fazer trabalhos manuais e produtos artesanais, cercando-se de pessoas sensíveis e dadas à prática da solidariedade, sobretudo àqueles mais simples e necessitados.

 

Uma demonstração de seu senso de responsabilidade e tino de organização já se revelara quando participou como secretária da Associação Maria Rosa Vieira de Melo, uma entidade benemérita de Rosário do Catete, cidade para onde seus pais mudaram.

 

Antes de completar 19 anos, eis que durante uma visita de seu tio José Carlos Santos a casa de seus pais, os olhos da bela moça que se transformara pousaram sobre um jovem tímido que o acompanhava. Tratava-se de Irineu Antônio Juzenas, com quem veio a se casar no ano seguinte, no dia 1º de março de 1969 em uma cerimônia simples, mas repleta de gratidão e orgulho para a família que foi até a capital do estado, Aracaju, para ver a sua menina de olhos azuis encantada receber a bênção nupcial.

 

Depois de mudar para a cidade de Novo Horizonte, próximo a São José do Rio Preto, no estado de São Paulo, o casal passou os primeiros anos colocando em prática o labor e os ensinamentos que seus pais fizeram aflorar, quando aquela borboletinha azul ganhou asas e tornou-se uma alegre e virtuosa mulher.

 

Inobstante, nunca deixou de lado a inspiração pedagógica, os acordes da música, o mundo dos livros e o artesanato que embelezava o dia a dia daquela que em breve seria abençoada com o supremo dom: o de ser mãe.

 

Temente a Deus desde criança e fiel aos princípios cristãos, o casal seguiu em frente, vivendo em harmonia e edificando um sólido e religioso lar. Construíram junto uma família que trouxe vida ao mundo através de seus rebentos: Tânia Mara; Sérgio Marcelo; Gláucia Marina; Irineu Antônio; Thiago Marcos; Lídia Márcia; Thaís Meire; Rafael, Raquel Mary e Abylene Monique. Dez filhos saudáveis que se transformaram em alegria e graça àquele casal de inspiração fraterna que logo começaria a colher os frutos de felicidade gerados pela dedicação e zelo construído.

 

O casal colocou os pés em Brasilândia/MS definitivamente no ano de 1989. Há 32 anos, portanto, a família Andrade Juzenas vem trilhando caminhos que ajudaram na construção desta cidade. Sim, foi aqui que seus propósitos de esperança e fé se consolidaram e frutificaram.

 

Para aquela que se tornou conhecida, apenas, como Irmã Terezinha, por méritos pessoais e a graça de Deus – e que continuou seus estudos e alcançou o nível superior em Pedagogia e pós-graduação em Psicopedagogia pela Faculdade UNIDERP, de Campo Grande --, todo esse legado profissional e social é, sem dúvida, digno de reconhecimento e homenagens.

 

Mal havia chegado ao município e, no ano de 1997 e seguintes, já se encontrava participando da Comissão Municipal de Alimentação, representando a Igreja Assembleia de Deus Belém, a que pertencia. Depois, foi convidada a trilhar e aprofundar um caminho bastante conhecido seu: ensinar crianças e adolescentes, encarando o desafio de ampliar o horizonte para a educação de jovens e adultos.

 

Tratava-se do Programa Brasil Alfabetizado que passou a coordenar a partir de 2003 realizando encontros e visitas às comunidades urbanas e rurais levando conhecimento e luz àqueles que se encontravam distantes do saber e da escrita formal. Apaixonada pelo que fazia, parecia uma menina cheia de garra e orgulho ver, ao longo de quatro anos, mais de 500 alunos receber o certificado do EJA (Educação de Jovens e Adultos), fruto do seu trabalho.

 

À frente da antiga Creche Santa Anastácia, antes de transformar-se em CEIF (Centro Educacional Infantil), a partir de 2007, abriu caminhos de esperança e conhecimento a uma centena de crianças. E lá a encontramos, feliz, nossa borboletinha azul gesticulando e animando aquela infância a entoar firmes e fortes o Hino de Brasilândia, marca indelével de dedicação desta senhora e amor no coração de quem por lá passou.

 

Membro atuante nas secretarias de Educação e de Assistência Social chegou a ser eleita durante uma Conferência Municipal da Cidade a condição de delegada para representar Brasilândia na capital do estado, Campo Grande. No âmbito da representação comunitária, é digno de registro sua passagem também pelo Conselho Municipal da Assistência Social e o Conselho Municipal do Idoso.

 

Impossível não mencionar também as ações realizadas no Centro de Convivência Izabel Senedeze Oliveira quando, a partir de 2007 assumiu a coordenação daquela instituição e colocou em prática o que possuía de mais humano em sua alma: promoveu a dignidade daqueles que ali se encontravam garantindo-lhes conforto, respeito e apoio. Conhecer e chamá-los pelo nome; saber e contar suas histórias; embelezá-los e cuidar de suas aparências, além de nutri-los com o alimento e o sonho de uma vida feliz: esse foi o pólen que das asas desta irmãzinha desprendeu.

 

Patrícia Acunha bem lembrou na época que Irmã Terezinha se sente gratificada pelo trabalho realizado ao longo dos anos e percebe o reflexo a partir dos elogios recebidos pelos próprios alunos e da comunidade. --Às vezes quando eu saio na rua e vou a algum comércio, eles [os comerciantes] me falam que veio algum alfabetizando que estuda no programa Brasil Alfabetizado que até antes assinava as notas através da digital [do polegar] e agora escrevem o próprio nome (...).

 

Destacada e hábil artesã, imperioso mencionar, igualmente, o pioneirismo do trabalho realizado junto à comunidade indígena Ofaié, quando nossa borboletinha azul, esquecendo-se que já era vovó, cismou em ser menina novamente, voando sobre campos e matas, atravessando estradas até a aldeia Anodi para levar técnicas artesanais, bordados e pinturas em tecidos, dividindo saberes com uma cultura diferente e que a acolhia num projeto que modificou vidas, gerou renda, preservou a cultura e resgatou-lhes a autoestima. Foi ali, sem dúvida, que ela desenvolveu um de seus mais belos trabalhos de reconstrução e humanidade dedicado àqueles seres humanos, nossos irmãos ressurgidos.

 

Tal qual uma jogadora de vôlei, digna do esporte que praticou na juventude, sempre se manifestou disposta e com uma persistência inabalável que está ao alcance somente daqueles que tem fé. Ao que ela mesma confessa: sempre senti satisfação em todas as funções que a mim foram confiadas. E sorri, confiante, ainda guardando aquele ar de menina, como se tudo fosse assim, natural... E divino ao mesmo tempo.

 

Ao lado das ações administrativas e sociais que desenvolveu, lá estava a mulher de oração com passos firmes e decididos fazendo visitas aos doentes, levando fé e esperança a quem mais precisava. Isso porque, ela mesma confessa que sua maior alegria é: quando uma pessoa aceita Jesus como seu Salvador, e sua maior tristeza: é quando alguém morre sem a Salvação.

 

E para não dizer que tudo na vida é sofrimento e penar, Irmã Terezinha aponta para o horizonte o brilho de seu saxofone com uma melodia celeste que faz ressoar o coro de sua comunidade de fé. Livre, encontra o voo da borboleta azul que carrega no peito os acordes da orquestra dos anjos enquanto louva. Comunica som, comunica vida, entoa salmos a quem quer que seja; recomenda-os a Deus como uma dedicada missionária.

 

As canções antigas de ninar que cantava -- lembra --, lhe fazem despertar para o agora. Era como se o céu não cessasse de lhe reservar mais e mais felicidade: E logo a bênção dos netos começam a chegar: Ana Heliza; Ana Paula; Ana Lígia; Gabriel Augusto; Victor Antônio; Emanuel Messias; Mateus Henrique; Geovana Pérola; Jhulia Vitoria; Helena; Pedro Henrique; Renam Augusto; Rafaela Fernanda; Felipe Eduardo; Mariah; Arthur Henrique; Benjamin e Victor Cristhiano. E os bisnetos: Orlando Gabriel e Eduarda.

  

Hoje, dona Maria Terezinha Andrade Juzenas está com 72 anos de idade e as lembranças que guarda são tantas que quase nem cabem dentro de seu coração. Mas a borboletinha azul insiste em voar, pois é sua missão despertar, não desanimar, e apontar para a maravilha divina que é viver e sonhar.

 

E lá se vão os desfiles da Brasilândia antiga; as formaturas de seus pimpolhos; as reuniões e festas de família; os cultos, assembleias e congressos de fé; a orquestra sinfônica de sua Igreja. Trajetória que só lhe reserva gratidão. Também pelas dores e injustiças superadas; o amor incondicional do esposo; o carinho dos filhos já crescidos; o respeito da comunidade e dos amigos. Obrigado Senhor por ter estado sempre ao meu lado. 


Brasilândia/MS, 23 de novembro de 2021.








Com informações gentilmente fornecidas de próprio punho pelo casal Maria Terezinha Andrade Juzenas e Irineu Antônio Juzenas em 20.Nov.2021. 






13 comentários:

  1. Obrigado Poeta Brasiliense pela linda homenagem dedicada a minha Mãe. Sinto orgulho da Senhora Mãe.

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  2. Respostas
    1. Foi uma honra poder homenagear tão notável e virtuosa mulher a quem a comunidade muito deve pelo inestimável trabalho humano e social que realizou e realiza até hoje em Brasilandia.

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  3. Que alegria, ler estas palavras tão bem colocada e instrumentos para homenagear nossa amada e Notável irmã Terezinha. Louvores ao nosso Deus por nós permitir conhecer, observar e aprender através da vida dessa serva de Deus. Um dos seus grandes legados é nos mostrar que sempre podemos fazer mais. A Igreja ADBB é mais bonita e mais pujante por contarmos, em nossas fileiras, com a dedicação da missionária Terezinha Juzenas.

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  4. Parabéns dona Terezinha, que Deus te abençõe sempre
    Mulher guerreira 👏👏👏

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  5. Parabéns irmã Terezinha grande mulher notável por Deus e por nós também que maravilha é ter o prazer de conhecer a Senhora 💕💕💕

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  6. Que linda homenagem a irmã Terezinha.
    Parabéns Carlito Dutra, DEUS abençoe grandemente .

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