Irmã Terezinha: pedagogia, música e borboletas azuis.
Carlos Alberto dos Santos Dutra
Existem vocações e habilidades que nascem e voam como as borboletas. E o mais belo de tudo é que, enquanto encantam nossos olhos com seu malabarismo serelepe sobre as flores, elas polinizam e geram vida.
Existem pessoas que são assim. Desde a tenra idade já demonstram que foram
talhadas para transformar realidades por onde quer que passem. Todos sabem que
é Deus que confere estes dons gratuitos que descem do alto e se instalam no
coração dos que creem, cabendo aos contemplados despertá-los e dividi-los com o mundo.
Aquela menina tinha um pouco da felicidade e beleza de uma dessas
borboletas, a aura radiante de uma borboleta azul. Desde que nascera no dia 2
de junho de 1949, aquela sergipana natural de Nossa Senhora das Dores, era como
se tivesse recebido um ramalhete de graças da mãe do divino Criador do
universo.
Alegria de seu pai, Manoel Messias Andrade e dona Maria
Carlos Santos Andrade, sua mãe, eis que a menina cresceu vigorosa em meio a
seus nove irmãos: José Messias Andrade; Iolanda; Manoel Messias Filho;
João Evangelista Andrade Neto; Rivanda Andrade; Ivonete; José Augusto;
Valdirene e Murilo.
Por se tratar da filha mulher mais velha, coube a ela ajudar a mãe criar
o restante dos irmãos. Sempre muito responsável, entretanto, nunca descuidou de
dedicar seu tempo aos sonhos e aos estudos, que concluiu até o ensino médio de
forma brilhante ainda lá no seu estado natal.
Menina-moça, desde muito cedo se revelou criativa e inovadora
destacando-se entre as demais de sua idade pelo gosto à música e o ensinar.
Sempre amou dar aulas, fazer trabalhos manuais e produtos artesanais,
cercando-se de pessoas sensíveis e dadas à prática da solidariedade, sobretudo
àqueles mais simples e necessitados.
Uma demonstração de seu senso de responsabilidade e tino de organização
já se revelara quando participou como secretária da Associação Maria
Rosa Vieira de Melo, uma entidade benemérita de Rosário do Catete, cidade
para onde seus pais mudaram.
Antes de completar 19 anos, eis que durante uma visita de seu tio José
Carlos Santos a casa de seus pais, os olhos da bela moça que se
transformara pousaram sobre um jovem tímido que o acompanhava. Tratava-se
de Irineu Antônio Juzenas, com quem veio a se casar no ano
seguinte, no dia 1º de março de 1969 em uma cerimônia simples, mas repleta de
gratidão e orgulho para a família que foi até a capital do estado, Aracaju,
para ver a sua menina de olhos azuis encantada receber a bênção nupcial.
Depois de mudar para a cidade de Novo Horizonte, próximo a São José do
Rio Preto, no estado de São Paulo, o casal passou os primeiros anos colocando
em prática o labor e os ensinamentos que seus pais fizeram aflorar, quando
aquela borboletinha azul ganhou asas e tornou-se uma alegre e virtuosa mulher.
Inobstante, nunca deixou de lado a inspiração pedagógica, os acordes da
música, o mundo dos livros e o artesanato que embelezava o dia a dia daquela
que em breve seria abençoada com o supremo dom: o de ser mãe.
Temente a Deus desde criança e fiel aos princípios cristãos, o casal
seguiu em frente, vivendo em harmonia e edificando um sólido e religioso lar.
Construíram junto uma família que trouxe vida ao mundo através de seus
rebentos: Tânia Mara; Sérgio Marcelo; Gláucia Marina; Irineu Antônio;
Thiago Marcos; Lídia Márcia; Thaís Meire; Rafael, Raquel Mary e Abylene Monique.
Dez filhos saudáveis que se transformaram em alegria e graça àquele casal de
inspiração fraterna que logo começaria a colher os frutos de felicidade gerados
pela dedicação e zelo construído.
O casal colocou os pés em Brasilândia/MS definitivamente no ano de 1989.
Há 32 anos, portanto, a família Andrade Juzenas vem trilhando
caminhos que ajudaram na construção desta cidade. Sim, foi aqui que seus
propósitos de esperança e fé se consolidaram e frutificaram.
Para aquela que se tornou conhecida, apenas, como Irmã Terezinha,
por méritos pessoais e a graça de Deus – e que continuou seus estudos e
alcançou o nível superior em Pedagogia e pós-graduação em Psicopedagogia pela
Faculdade UNIDERP, de Campo Grande --, todo esse legado profissional e social
é, sem dúvida, digno de reconhecimento e homenagens.
Mal havia chegado ao município e, no ano de 1997 e seguintes, já se
encontrava participando da Comissão Municipal de Alimentação,
representando a Igreja Assembleia de Deus Belém, a que
pertencia. Depois, foi convidada a trilhar e aprofundar um caminho bastante
conhecido seu: ensinar crianças e adolescentes, encarando o desafio de ampliar
o horizonte para a educação de jovens e adultos.
Tratava-se do Programa Brasil Alfabetizado que passou a
coordenar a partir de 2003 realizando encontros e visitas às comunidades
urbanas e rurais levando conhecimento e luz àqueles que se encontravam
distantes do saber e da escrita formal. Apaixonada pelo que fazia, parecia uma
menina cheia de garra e orgulho ver, ao longo de quatro anos, mais de 500
alunos receber o certificado do EJA (Educação de Jovens e Adultos),
fruto do seu trabalho.
À frente da antiga Creche Santa Anastácia, antes de
transformar-se em CEIF (Centro Educacional Infantil), a partir de 2007, abriu
caminhos de esperança e conhecimento a uma centena de crianças. E lá a
encontramos, feliz, nossa borboletinha azul gesticulando e animando aquela infância a entoar firmes e fortes o Hino de Brasilândia, marca
indelével de dedicação desta senhora e amor no coração de quem por lá passou.
Membro atuante nas secretarias de Educação e de Assistência Social
chegou a ser eleita durante uma Conferência Municipal da Cidade a
condição de delegada para representar Brasilândia na capital do estado, Campo
Grande. No âmbito da representação comunitária, é digno de registro sua
passagem também pelo Conselho Municipal da Assistência Social e
o Conselho Municipal do Idoso.
Impossível não mencionar também as ações realizadas no Centro de
Convivência Izabel Senedeze Oliveira quando, a partir de 2007 assumiu
a coordenação daquela instituição e colocou em prática o que possuía de mais
humano em sua alma: promoveu a dignidade daqueles que ali se encontravam
garantindo-lhes conforto, respeito e apoio. Conhecer e chamá-los pelo nome;
saber e contar suas histórias; embelezá-los e cuidar de suas aparências,
além de nutri-los com o alimento e o sonho de uma vida feliz: esse foi o pólen
que das asas desta irmãzinha desprendeu.
Patrícia Acunha bem lembrou na época que Irmã Terezinha se
sente gratificada pelo trabalho realizado ao longo dos anos e percebe o reflexo
a partir dos elogios recebidos pelos próprios alunos e da comunidade. --Às
vezes quando eu saio na rua e vou a algum comércio, eles [os
comerciantes] me falam que veio algum alfabetizando que estuda no
programa Brasil Alfabetizado que até antes assinava as notas através da
digital [do polegar] e agora escrevem o próprio nome (...).
Destacada e hábil artesã, imperioso mencionar, igualmente, o pioneirismo
do trabalho realizado junto à comunidade indígena Ofaié, quando nossa
borboletinha azul, esquecendo-se que já era vovó, cismou em ser menina
novamente, voando sobre campos e matas, atravessando estradas até a
aldeia Anodi para levar técnicas artesanais, bordados e pinturas
em tecidos, dividindo saberes com uma cultura diferente e que a acolhia num
projeto que modificou vidas, gerou renda, preservou a cultura e resgatou-lhes a
autoestima. Foi ali, sem dúvida, que ela desenvolveu um de seus mais belos
trabalhos de reconstrução e humanidade dedicado àqueles seres humanos, nossos
irmãos ressurgidos.
Tal qual uma jogadora de vôlei, digna do esporte que praticou na
juventude, sempre se manifestou disposta e com uma persistência inabalável que
está ao alcance somente daqueles que tem fé. Ao que ela mesma confessa: sempre
senti satisfação em todas as funções que a mim foram
confiadas. E sorri, confiante, ainda guardando aquele ar de menina,
como se tudo fosse assim, natural... E divino ao mesmo tempo.
Ao lado das ações administrativas e sociais que desenvolveu, lá estava a
mulher de oração com passos firmes e decididos fazendo visitas aos doentes,
levando fé e esperança a quem mais precisava. Isso porque, ela mesma confessa
que sua maior alegria é: quando uma pessoa aceita Jesus como seu
Salvador, e sua maior tristeza: é quando alguém morre sem a
Salvação.
E para não dizer que tudo na vida é sofrimento e penar, Irmã Terezinha
aponta para o horizonte o brilho de seu saxofone com uma melodia celeste que
faz ressoar o coro de sua comunidade de fé. Livre, encontra o voo da
borboleta azul que carrega no peito os acordes da orquestra dos anjos enquanto louva.
Comunica som, comunica vida, entoa salmos a quem quer que seja; recomenda-os a
Deus como uma dedicada missionária.
As canções antigas de ninar que cantava -- lembra --, lhe fazem despertar
para o agora. Era como se o céu não cessasse de lhe reservar mais e mais
felicidade: E logo a bênção dos netos começam a chegar: Ana Heliza;
Ana Paula; Ana Lígia; Gabriel Augusto; Victor Antônio; Emanuel Messias; Mateus
Henrique; Geovana Pérola; Jhulia Vitoria; Helena; Pedro Henrique; Renam
Augusto; Rafaela Fernanda; Felipe Eduardo; Mariah; Arthur Henrique; Benjamin e
Victor Cristhiano. E os bisnetos: Orlando Gabriel e Eduarda.
Hoje, dona Maria Terezinha Andrade Juzenas está com 72
anos de idade e as lembranças que guarda são tantas que quase nem cabem dentro
de seu coração. Mas a borboletinha azul insiste em voar, pois é sua missão
despertar, não desanimar, e apontar para a maravilha divina que é viver e sonhar.
E lá se vão os desfiles da Brasilândia antiga; as formaturas de seus pimpolhos; as reuniões e festas de família; os cultos, assembleias e
congressos de fé; a orquestra sinfônica de sua Igreja. Trajetória que só lhe reserva gratidão. Também pelas dores e injustiças superadas; o amor
incondicional do esposo; o carinho dos filhos já crescidos; o
respeito da comunidade e dos amigos. Obrigado Senhor por ter estado
sempre ao meu lado.
Brasilândia/MS, 23 de novembro de 2021.
Com informações gentilmente fornecidas de próprio punho pelo casal Maria Terezinha Andrade Juzenas e Irineu Antônio Juzenas em 20.Nov.2021.
Obrigado Poeta Brasiliense pela linda homenagem dedicada a minha Mãe. Sinto orgulho da Senhora Mãe.
ResponderExcluir🙏🏻
Excluir* Poeta Brasilandense.
ResponderExcluirFoi uma honra poder homenagear tão notável e virtuosa mulher a quem a comunidade muito deve pelo inestimável trabalho humano e social que realizou e realiza até hoje em Brasilandia.
ExcluirQue alegria, ler estas palavras tão bem colocada e instrumentos para homenagear nossa amada e Notável irmã Terezinha. Louvores ao nosso Deus por nós permitir conhecer, observar e aprender através da vida dessa serva de Deus. Um dos seus grandes legados é nos mostrar que sempre podemos fazer mais. A Igreja ADBB é mais bonita e mais pujante por contarmos, em nossas fileiras, com a dedicação da missionária Terezinha Juzenas.
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ExcluirParabéns dona Terezinha, que Deus te abençõe sempre
ResponderExcluirMulher guerreira 👏👏👏
🙏🏻
ExcluirParabéns irmã Terezinha grande mulher notável por Deus e por nós também que maravilha é ter o prazer de conhecer a Senhora 💕💕💕
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ExcluirQue linda homenagem a irmã Terezinha.
ResponderExcluirParabéns Carlito Dutra, DEUS abençoe grandemente .
🙏🏻
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