terça-feira, 4 de junho de 2024

 

A mulher e suas circunstâncias na Prefeitura de Brasilândia

Carlos Alberto dos Santos Dutra


 

O município de Brasilândia/MS, daqui aproximadamente quatro meses irá eleger seu novo chefe do Poder Executivo e novos membros para o Poder Legislativo através do sufrágio universal do voto, instrumento que só a Democracia é capaz de garantir à livre manifestação do povo.

A se confirmar o que as convenções partidárias já decidiram ao escolherem os pré-candidatos, no mês de outubro teremos na disputa um duelo preconizado por duas mulheres candidatas à prefeita que deverão se apresentar com todo o brilho, garra e altivez de seus propósitos para a apreciação e crivo dos cidadãos e exigentes eleitores desta comunidade.

Não é a primeira vez que o município vive semelhante situação. A participação das mulheres na política local teve início já no ano de 1982 quando acontecia o declínio do Regime Militar de 1964 na última (e única) eleição promovida pelo general João Batista Figueiredo. Foi quando Brasilândia elegeu sua primeira prefeita mulher, Neuza Paulino Maia, que derrotou os dois candidatos homens que concorriam na época.

O primeiro confronto direto entre duas mulheres, entretanto, aconteceu dez anos depois, nas eleições de 1992, quando os brasilandenses decidiram os destinos políticos do município entre Neuza Paulino Maia e a Profª Sandra Aparecida Louzada da Costa. Naquela ocasião Neuza Paulino Maia foi eleita prefeita ao lado de Marilza Maria Rodrigues do Amaral.

Bastante disputada, esta eleição mereceu do poeta e trovador popular desta terra, o lendário e imortal José Batista, os seguintes versos: 

Vou sair da minha casa
Para mais uma campanha
De Neuza e Marilza
Em Brasilândia ninguém ganha.
Elas têm popularidade
Capacidade e vergonha,
Respeitam o dinheiro público
É o que o povo de Brasilândia sonha. 

Noutra trova ele cantou: 

A política só é boa
Quando a gente tem companheiro
Que não precisa comprar
Com mentira e com dinheiro
Eu vou sempre conservar
Esta raça de barbeiro.
Que é para nós fazermos de novo
Barba, bigode, cabelo
O poeta Zé Batista tem vergonha
E não se vende por dinheiro.

Nos anos que se seguiram as mulheres continuaram disputando o cargo majoritário que aos poucos foi admitindo a participação de novos nomes femininos ao pleito. Marilza Maria Rodrigues do Amaral (prefeita eleita em 1996 e reeleita em 2000); Jucli Terezinha Stefanello Peruzo (candidata a vice-prefeita na chapa contrária em 1996); Márcia Regina do Amaral Schio (candidata a prefeita em 2008 e eleita vice em 2012, num pleito disputado também por duas mulheres candidatas: Profª Eurides Palhares Lins e Profª Rosimeire Ferreira, sua vice). Márcia Regina do Amaral Schio ainda em 2016 concorreu ao cargo de prefeita e em 2020, a Drª Léa Karla Moura Dias, representou a participação das mulheres ao cargo de prefeita.

A tradição, portanto, mostra que o eleitorado brasilandense já está acostumado com a participação das mulheres na disputa política, na maior parte das vezes, bastante acaloradas e nada amistosas.

Não obstante, os tempos mudaram. Se, por um lado as campanhas políticas cristalizaram-se na forma e jeito masculino de serem conduzidas, por outro, esse modus operandi tem se revelado ultrapassado diante das exigências de gênero que se impuseram à sociedade ao longo dos anos, sobretudo nos dias atuais. O campo de ação e atuação das mulheres, se antes, tornado secundário e invisíveis aos olhos das administrações públicas, eis que agora protagonizam e brilham feito luz.

No caso presente, já experimentadas na administração municipal, ambas como servidoras e já tendo galgado posições e cargos de coordenação, secretarias, presidências e cargos eletivos, ambas são portadoras de escolaridade superior em áreas humanas semelhantes – Assistência Social – e sinalizam para a população de Brasilândia, por meio de suas candidaturas, sem dúvida, novas perspectivas para a realidade local.

Tal quadro oportuniza aos eleitores presenciar a construção de uma administração de configuração não somente com o rosto e olhar feminino, mas com diferencial no modo de agir e interagir com os demais que se encontram ao seu redor, com a dinâmica e percepção que são peculiares às mulheres.

Diante da complexidade e exigências pertinentes à gestão pública de uma cidade, a experiência adquirida como cidadãs, profissionais, mães e gestoras de seus empreendimentos socioeconômicos afetivos chamados Lar, as tornam plenamente capazes de gerenciar uma cidade, um Estado, um País.

Mulheres que operam milagres no orçamento doméstico, administrando os gastos da economia familiar; mulheres que garantem a mantença dos filhos, os reclames da casa e quiçá os caprichos do esposo; mulheres capazes de gerenciar empresas, ordenar despesas e planejar investimentos de seus negócios, desafiando os ditames e oscilação do mercado; mulheres capazes de levantar bandeiras, vencer preconceitos e lutar por direitos em prol de uma sociedade igualitária, fraterna e justa...

Por que não haveriam de ser também brilhantes, criativas e eficientes prefeitas?

Não obstante, o que pode estar martelando a cabeça de muitos (homens e mulheres) é saber: quais das duas mulheres que concorrem à Prefeitura Municipal de Brasilândia terão os predicados e qualidades necessárias para tal cargo e envergadura para exercê-los?

Não tem como saber. Isso porque é impossível adentar o que vai em cada coração, em cada mente, e principalmente em cada situação: a chamada circunstância que nos envolve a todos.

À semelhança do que escreveu o filósofo espanhol Ortega y Gasset (recorro ao meu tempo de Filosofia na UCPel nos anos 1980), lembro: Eu sou eu e minhas circunstâncias. Se não salvo a ela, não me salvo a mim. Ou seja, a ideia que move o administrador ou o cidadão comum é sempre a de que: se quiser salvar-se (realizar bem seus propósitos) deverá também salvar sua própria circunstância: a realidade a sua volta (seu objeto, o povo), uma vez que ele se torna inseparável dela.

Em outras palavras, a melhor prefeita para Brasilândia, sem dúvida, deverá ser aquela que implicitamente subordinar a melhoria da condição do homem (seu projeto social de governo) à sua ação, empenho e realizações, jamais pela omissão.

Brasilândia, portanto, será melhor administrada pela mulher prefeita que, em meio às circunstâncias que a envolverem durante os seus quatro anos de mandato, conseguir lançar-se e arregaçar as mangas no trabalho que se propôs realizar, o que deverá ser delineado já na feitura de seu Plano de Governo, construído por múltiplas mãos, corações e mentes interessadas na segurança, no progresso e na felicidade deste lugar.

Por essa razão, o conselho: que essas duas mulheres candidatas, ao construírem seus planos de ação e gestão, garantam espaço às demais, sobretudo àquelas que vivem à margem das decisões, que são discriminadas em razão da cor, etnia e gênero. E que a vertente social da formação acadêmica que forjou o pensamento de ambas seja o Norte para a concretização de seus projetos voltados para o desenvolvimento econômico, nunca descolado da proteção da infância, do meio ambiente e da valorização da cultura.

Para aqueles preocupados com a eficiência e o temor dos gastos com a máquina pública, recordemos um estudo recente realizado pela Fundação Getúlio Vargas nos 882 municípios de Minas Gerais, sobre a capacidade fiscal de prefeituras lideradas por mulheres: 12% delas mostraram-se superiores às prefeituras lideradas por homens. No item capacidade fiscal a análise revelou o quanto as prefeituras administradas por mulheres foram capazes de arrecadar a partir de taxas e impostos e dividir essa receita entre a população através dos serviços prestados (...). 

Brasilândia/MS, 04 de junho de 2024.

 

 

Fotos: (6) Facebook Fonte: DUTRA, C.A.S. História e Memória de Brasilândia, Vol. 5-Poderes, Cap. 1- Os poderes, as eleições e a política. Edição do Autor, Brasilândia/MS, página 158s. Notas 336/337.; Trova Popular de José Batista, Jornal de Brasilândia, 04 de junho de 1992; e Jornal O santarritense, 20 de junho de 1992.; Prefeitas têm desempenho fiscal melhor que homens, diz pesquisa | Brasil | Valor Econômico (globo.com), acesso em 04.Jun.2024.; scielo.br/j/pusp/a/gx7FwGyypjNMn5hbyZh8Hgh/?format=pdf&lang=pt

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