A mulher e suas
circunstâncias na Prefeitura de Brasilândia
Carlos Alberto dos Santos Dutra
O município de
Brasilândia/MS, daqui aproximadamente quatro meses irá eleger seu novo chefe do
Poder Executivo e novos membros para o Poder Legislativo através do sufrágio
universal do voto, instrumento que só a Democracia é capaz de garantir à livre
manifestação do povo.
A se confirmar o que as
convenções partidárias já decidiram ao escolherem os pré-candidatos, no mês de
outubro teremos na disputa um duelo preconizado por duas mulheres candidatas à prefeita
que deverão se apresentar com todo o brilho, garra e altivez de seus propósitos
para a apreciação e crivo dos cidadãos e exigentes eleitores desta comunidade.
Não é a primeira vez que o
município vive semelhante situação. A participação das mulheres na política
local teve início já no ano de 1982 quando acontecia o declínio do Regime
Militar de 1964 na última (e única) eleição promovida pelo general João Batista
Figueiredo. Foi quando Brasilândia elegeu sua primeira prefeita mulher, Neuza
Paulino Maia, que derrotou os dois candidatos homens que concorriam na
época.
O primeiro confronto direto entre
duas mulheres, entretanto, aconteceu dez anos depois, nas eleições de 1992,
quando os brasilandenses decidiram os destinos políticos do município entre Neuza
Paulino Maia e a Profª Sandra Aparecida Louzada da Costa. Naquela
ocasião Neuza Paulino Maia foi eleita prefeita ao lado de Marilza Maria
Rodrigues do Amaral.
Bastante disputada, esta eleição mereceu do poeta e trovador popular desta terra, o lendário e imortal José Batista, os seguintes versos:
Para mais uma campanha
De Neuza e Marilza
Em Brasilândia ninguém ganha.
Elas têm popularidade
Capacidade e vergonha,
Respeitam o dinheiro público
É o que o povo de Brasilândia sonha.
Noutra trova ele cantou:
Quando a gente tem companheiro
Que não precisa comprar
Com mentira e com dinheiro
Eu vou sempre conservar
Esta raça de barbeiro.
Que é para nós fazermos de novo
Barba, bigode, cabelo
O poeta Zé Batista tem vergonha
E não se vende por dinheiro.
Nos anos que se seguiram as mulheres continuaram disputando o cargo majoritário que aos poucos foi admitindo a participação de novos nomes femininos ao pleito. Marilza Maria Rodrigues do Amaral (prefeita eleita em 1996 e reeleita em 2000); Jucli Terezinha Stefanello Peruzo (candidata a vice-prefeita na chapa contrária em 1996); Márcia Regina do Amaral Schio (candidata a prefeita em 2008 e eleita vice em 2012, num pleito disputado também por duas mulheres candidatas: Profª Eurides Palhares Lins e Profª Rosimeire Ferreira, sua vice). Márcia Regina do Amaral Schio ainda em 2016 concorreu ao cargo de prefeita e em 2020, a Drª Léa Karla Moura Dias, representou a participação das mulheres ao cargo de prefeita.
A tradição, portanto, mostra
que o eleitorado brasilandense já está acostumado com a participação das
mulheres na disputa política, na maior parte das vezes, bastante acaloradas e nada
amistosas.
Não obstante, os tempos
mudaram. Se, por um lado as campanhas políticas cristalizaram-se na forma e
jeito masculino de serem conduzidas, por outro, esse modus operandi tem
se revelado ultrapassado diante das exigências de gênero que se impuseram à sociedade
ao longo dos anos, sobretudo nos dias atuais. O campo de ação e atuação das
mulheres, se antes, tornado secundário e invisíveis aos olhos das administrações públicas,
eis que agora protagonizam e brilham feito luz.
No caso presente, já experimentadas
na administração municipal, ambas como servidoras e já tendo galgado posições e
cargos de coordenação, secretarias, presidências e cargos eletivos, ambas são portadoras de escolaridade superior em áreas
humanas semelhantes – Assistência Social – e sinalizam para a população de
Brasilândia, por meio de suas candidaturas, sem dúvida, novas perspectivas para a realidade local.
Tal quadro oportuniza aos
eleitores presenciar a construção de uma administração de configuração não
somente com o rosto e olhar feminino, mas com diferencial no modo de agir e
interagir com os demais que se encontram ao seu redor, com a dinâmica e percepção que são
peculiares às mulheres.
Diante da complexidade e
exigências pertinentes à gestão pública de uma cidade, a experiência adquirida
como cidadãs, profissionais, mães e gestoras de seus empreendimentos socioeconômicos
afetivos chamados Lar, as tornam plenamente capazes de gerenciar uma cidade, um
Estado, um País.
Mulheres que operam milagres no orçamento doméstico, administrando os gastos da economia familiar; mulheres que
garantem a mantença dos filhos, os reclames da casa e quiçá os caprichos do
esposo; mulheres capazes de gerenciar empresas, ordenar despesas e planejar
investimentos de seus negócios, desafiando os ditames e oscilação do mercado;
mulheres capazes de levantar bandeiras, vencer preconceitos e lutar por
direitos em prol de uma sociedade igualitária, fraterna e justa...
Por que não haveriam de ser
também brilhantes, criativas e eficientes prefeitas?
Não obstante, o que pode
estar martelando a cabeça de muitos (homens e mulheres) é saber: quais das duas
mulheres que concorrem à Prefeitura Municipal de Brasilândia terão os
predicados e qualidades necessárias para tal cargo e envergadura para
exercê-los?
Não tem como saber. Isso
porque é impossível adentar o que vai em cada coração, em cada mente, e
principalmente em cada situação: a chamada circunstância que nos envolve a todos.
À semelhança do que escreveu
o filósofo espanhol Ortega y Gasset (recorro ao meu tempo de Filosofia na UCPel
nos anos 1980), lembro: Eu sou eu e minhas circunstâncias. Se não salvo a
ela, não me salvo a mim. Ou seja, a ideia que move o administrador ou o
cidadão comum é sempre a de que: se quiser salvar-se (realizar bem seus
propósitos) deverá também salvar sua própria circunstância: a realidade a sua
volta (seu objeto, o povo), uma vez que ele se torna inseparável dela.
Em outras palavras, a melhor
prefeita para Brasilândia, sem dúvida, deverá ser aquela que implicitamente
subordinar a melhoria da condição do homem (seu projeto social de governo) à
sua ação, empenho e realizações, jamais pela omissão.
Brasilândia, portanto, será
melhor administrada pela mulher prefeita que, em meio às circunstâncias que a
envolverem durante os seus quatro anos de mandato, conseguir lançar-se e arregaçar as mangas no trabalho que se propôs realizar, o que deverá ser delineado já na feitura de seu Plano de Governo, construído por múltiplas mãos, corações e
mentes interessadas na segurança, no progresso e na felicidade deste lugar.
Por essa razão, o conselho:
que essas duas mulheres candidatas, ao construírem seus planos de ação e gestão, garantam espaço
às demais, sobretudo àquelas que vivem à margem das decisões, que são
discriminadas em razão da cor, etnia e gênero. E que a vertente social
da formação acadêmica que forjou o pensamento de ambas seja o Norte para a concretização
de seus projetos voltados para o desenvolvimento econômico, nunca descolado da proteção
da infância, do meio ambiente e da valorização da cultura.
Para aqueles preocupados com
a eficiência e o temor dos gastos com a máquina pública, recordemos um estudo recente
realizado pela Fundação Getúlio Vargas nos 882 municípios de Minas Gerais, sobre
a capacidade fiscal de prefeituras lideradas por mulheres: 12% delas mostraram-se
superiores às prefeituras lideradas por homens. No item capacidade fiscal a análise
revelou o quanto as prefeituras administradas por mulheres foram capazes de arrecadar a partir de taxas e
impostos e dividir essa receita entre a população através dos serviços prestados
(...).
Brasilândia/MS, 04 de junho
de 2024.
Fotos:
(6)
Facebook Fonte: DUTRA, C.A.S. História e
Memória de Brasilândia, Vol. 5-Poderes, Cap. 1- Os poderes, as eleições e a
política. Edição do Autor, Brasilândia/MS, página 158s. Notas 336/337.; Trova Popular de José Batista, Jornal de Brasilândia, 04 de junho de 1992; e Jornal O
santarritense, 20 de junho de 1992.; Prefeitas
têm desempenho fiscal melhor que homens, diz pesquisa | Brasil | Valor
Econômico (globo.com), acesso em 04.Jun.2024.; scielo.br/j/pusp/a/gx7FwGyypjNMn5hbyZh8Hgh/?format=pdf&lang=pt
Nenhum comentário:
Postar um comentário