Hoje a saudade tem nome: dona Laura dos Santos Dutra.
Carlos Alberto dos Santos Dutra
Hoje, o coração deste filho e seus sete irmãos, que se somam aos netos, bisnetos e seus
rebentos, familiares e amigos, têm um motivo a mais para comemorar este dia em
suas vidas, um acontecimento que mudou a história. Mais que isso, um tempo que
marcou indelevelmente a vida e a trajetória existencial de cada um de nós.
Corria o ano de 1933 e aquele 2 de janeiro amanheceu
festivo. Sinos tocando, fogos de artifícios, flores jogadas ao vento e som de
tambores que se misturavam ao ruído das águas solapando o casco das embarcações
que, por aquele rio encantado, deslizavam à semelhança de uma noiva de véu e
grinalda flutuando, flutuando...
Foi assim que os olhos e ouvidos daquela recém-nascida conheceu e desvendou o
mundo à sua volta pelo murmúrio das águas e o vigor dos remos que avançam
sempre em direção ao mar. Para a felicidade dos pais João e Maria eles a viram crescer forte e sonhadora, e sempre embalada pelas imagens e lembranças
daquela festa.
Não sem antes puxar a saia da mãe na beira do cais e
perguntar, se tudo aquilo era para ela. Afinal, era o dia do seu aniversário e
aquele colorido todo encantava por demais os olhos da menina fazendo-a navegar nos seus sonhos para lugares distantes.
Neste dia as águas do rio Guaíba despertavam no
coração de todos um sentimento de grandeza, admiração e fé. Muito mais no
coração da jovenzinha Laura que, de mãos dadas com o mano mais velho, Lauro,
observava atenta a imagem brilhante entronada no barco que parecia flutuar
sobre as nuvens.
A festa de Nossa Senhora dos Navegantes, todos os
anos, desde 1877, brinda o coração das águas, pelas mãos dos pescadores, marinheiros
e o todo o povo devoto da Santa Mãe de Deus. Com um multicolorido ramalhete de
fitas e bandeirolas que enfeitavam os barcos, lanchas, chatas e rebocadores que
acompanhavam a procissão, lá iam as preces, graças e sonhos, desde a igreja do bairro Navegantes,
em Porto Alegre até às demais comunidades de fé.
Foi nesta igreja que a jovenzinha Laura foi
batizada, tomando a partir de então, consciência do mundo imenso que a esperava e haveria de
percorrer para realizar-se como ser humano capaz de gerar sonhos e iluminar vidas.
Hoje, dia 2 de fevereiro de 2025, ela estaria
completando 92 anos. Mas quis a Senhora das Águas leva-la em seu barco encantado no dia
21 de agosto de 2022 para a serenidade dos mares e brumas do céu.
Mas o perfume desta jovem ainda permanece, os sons e
as risadas, lágrimas e alegrias ainda se encontram impregnadas nas paredes dos nossos corações, e da velha e sempre
nova, casa branca, da esquina, tal qual um posteiro, sempre de portas abertas.
E dentro dela aquela que, cheia de alegria e afeto, estava sempre pronta para receber cada um com um beijo de boas-vindas.
E lá vai aquela leitora
voraz que, antes dos 15 anos, já havia lido todos os 175 livros da chamada
Biblioteca das Moças e durante a vida leu mais de 600 livros. Como não poderia
ser diferente, tornou-se escritora, publicando o seu primeiro livro aos 70 anos de idade, em 2003, pela
Editora Aberta, do Rio de Janeiro: “História de um amor comum”. Oito anos
depois, em 2011, brindou-nos com uma narrativa ousada e madura, de pura ficção:
“Os estranhos amores de Lili”. Depois veio "A fonte da felicidade",
em 2018; e "A menina e as curvas do trem", em 2019.
Sim. Hoje a saudade tem nome: nossa mãe, Laura dos Santos Dutra.
Brasilândia/MS, 2 de fevereiro de 2025.
Fonte: https://carlitodutra.blogspot.com/2022/08/flores-e-livros-para-voce-mae-querida.html
História
de um amor Comum, por Laura dos Santos Dutra - Clube de Autores
Os
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A Fonte da
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