O sonhador
e sua carta para a Prefeita.
Carlos Alberto dos Santos
Dutra

A ideia de enviar cartas soa hoje como algo antigo e fora de moda. A tecnologia digital e a tela dos celulares sepultaram de vez o recurso do papel e até o uso comum do Personal Computer, o PC de mesa e o e-mail.
Mas a carta resiste,
mesmo valendo-se desta forma de transmissão viajando em fibra ótica no tempo de maneira célere e com a
vantagem de não extraviar e o remetente poder ficar sabendo se sua mensagem
chegou no destino, se foi lida ou não.
A carta que me refiro
aqui, assim sonhou o sonhador, não tem a forma de ofício, pois não é oficial;
não tem número de protocolo e sequer regularidade na entrega. Apenas é uma
carta, a primeira, quiçá, prenúncio de outras que poderão vir. Carta destinada
a uma autoridade, sim, mas que parte de um olhar de uma pessoa comum, o
cidadão.
O autor da missiva é o cidadão, o jovem, o estudante, a criança. Cidadão que passa pela rua e vê. Vê e comenta. Indaga e pergunta. Ousa refletir sobre o que vê e ouve. E decide conferir a possibilidade de ser ouvido e sugerir.
Parece um sonho, mas estamos desacostumados a acompanhar os atos das
administrações públicas ao longo do tempo. Quando nos levamos pelo sabor das paixões
político-partidárias, por vezes, nos perdemos acolhendo e acatando tudo o que
nossas preferências e simpatias políticas nos propõem e que, depois de eleitos,
pouco a pouco vão perdendo o vigor e sendo esquecidas.
Assim tem sido durante
anos e achamos que assim deva continuar sendo. Só que o tempo não para e a
realidade muda a cada instante. Aliás, a realidade, como a cultura, ela está
sempre em movimento. Também o pensamento e a percepção das pessoas sobre o
entorno onde vivem, sua comunidade, seus empregos, seu meio ambiente, enfim a percepção da vida.
Por isso, ao caminhar pela rua, o cidadão e a cidadã sentem que ali é o seu chão; se sentem seguros na sua terra querida e por isso se interessam por ela; percebem que dela brota-lhes a vida e todos querem vê-la cada vez melhor; para si e para os moradores que ali vivem.
Por isso ao contemplar
a realidade cotidiana, os acontecimentos, os rumos e as opções que, às vezes, a
administração faz, se lhe interessam ou não, alimentam-lhe a vontade de
manifestar-se. Na verdade, tudo lhe interessa saber e sente-se no dever-poder
de externar o seu pensamento, a sua opinião.
Há quem possa dizer que
isso é utopia, coisas de um cidadão sonhador e que essa avaliação e
fiscalização dos atos da administração é tarefa do Legislativo eleito para isso, o que nós todos
concordamos, porém, o cidadão também tem o seu papel social de fiscalizador e
propositor de políticas públicas porque ele está na ponta do processo onde se
encontra a atividade fim de toda a ação pública, impactando sua vida positiva
ou negativamente.
Ainda que o cidadão e a cidadã tenha a sua disposição outros instrumentos
para colaborar, contribuir e fiscalizar a atuação do Executivo e do Legislativo
-- conselhos de direitos municipais, sindicatos de classe, associações de
bairro, ouvidorias públicas, ministério público, tribuna livre e o direito
constitucional de peticionar --, eles sentem o dever cívico de também contribuir subsidiariamente com o múnus público.
As redes sociais, hoje, todos
sabemos, ela são as vitrines do mundo, o grande canal de exposição da vida privada
e também tela para as mazelas pessoais, sociais e ideológicas que envolvem os escaninhos da
política local, regional e nacional.
Nem todos porém são
afeitos a ver seus nomes expostos manifestando uma crítica aberta ao público à administração
de sua cidade, de seu estado ou país. Nem todos alimentam o desejo de, pela
crítica pura e simples, denegrir ou ofender o agente político que administra o
município onde vive.
Por outro lado, há cidadãos e cidadã que se sentem comprometidos com sua cidade a ponto de querer desinteressadamente lutar por ela, buscando o melhor para ela. Manifestam-se, assim, somente com a intenção de contribuir com ideias para o incremento de seu progresso e seu bem estar social.
Neste gesto, de natureza, privada, através de uma carta, sentir-se-iam, portanto, amparados, respeitados, e considerados. Assim espera.
As cartas, por fim, guardam uma singela pretensão: a de contribuir com a formação e a cidadania dos moradores do lugar, independente
de idade, estabelecendo um canal de participação, de fidelidade e de diálogo
sincero entre o coração do município e o coração da Prefeita.
As cartas, consideradas de natureza pessoal, espera o sonhador, só seriam lidas pela Prefeita. Portanto, seus nomes não seriam divulgados; somente o conteúdo de suas reivindicações e sugestões viriam à público. E isso a administração municipal buscaria apreciar, atender e agradecer.
Que tal colocar em prática essa ideia e despertar este sonho juvenil?
Brasilândia/MS, 25 de
março de 2025
Dia Nacional da Carta Constitucional (25 de março de 1824, promulgação da 1ª Constituição Brasileira).
Foto: Instagran; https://m.media-amazon.com/images/I/61RTI4Djo-L.jpg; e Profª. Leonice e alunos do 3° ano da Escola Estadual Adilson Alves da Silva em 1999, Foto: Jornal de Brasilândia, 2000. In História e Memória da Brasilândia, Vol. 3-Cidadania, pág. 345.
Título inspirado no livro Carta à Prefeita (Campanha da Fraternidade Infantil), de autoria de Fernando Carraro, Editoras FTD, 2018.
O livro conta a história de Juninho. Ele tem 10 anos e vive com sua família numa cidade pequena. Num dia chuvoso, a caminho da escola, ele se dá conta de que um dos semáforos na rua não funciona. Ao chegar à escola, Juninho conta a todos sobre esse problema. A professora Zelina, então, percebe que é hora de falar sobre os problemas da cidade e, portanto, decide dar aos alunos aulas sobre políticas públicas. Depois da primeira aula, os alunos têm uma ideia para tornar a cidade um lugar melhor para todos. Assim, nasce a carta com uma série de ações sociais endereçada à prefeita Mariana, que se envolve no projeto de uma maneira especial. (Carta à Prefeita (Campanha da Fraternidade Infantil) : Carraro, Fernando: Amazon.com.br: Livros).
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