Fraternidade, Meio
Ambiente e Cuidado
Carlos Alberto dos
Santos Dutra
Todos os anos,
desde 1964, a Campanha da Fraternidade, orientada pela CNBB[1] aborda temas
intimamente ligados à vida dos brasileiros, sobretudo sua realidade social, suas
condições de vida e os desafios do mundo que nos rodeia.
Assim foram,
durante 61 anos, lançados no coração dos fieis e sociedade, reflexões e
mensagens, admoestações e incentivo sobre os diversos temas que envolvem a
condição humana. Todos os anos, por ocasião da Quaresma ainda é possível
perceber pulsando dentro do peito de cada cristão uma chama de esperança
conclamando, por inspiração da Palavra de Deus, a deitar os olhos e ver as belezas que Deus criou e também os
principais problemas que afligem a sociedade e tudo que ela produz e reproduz, e
que merece nossa atenção.
Neste ano de 2025,
o tema escolhido para a Campanha da Fraternidade não poderia ter sido diferente, por ser atual, urgente e necessário. Fraternidade e Ecologia Integral é o tema,
acompanhado do lema extraído da Bíblia (Gênesis 1,31): Deus viu que tudo era
muito bom. Motivação que busca, nos quarenta dias que antecedem a Páscoa, a
força do Espírito divino para abrir os olhos da fé e mirar a realidade
socioambiental.
Chamado que também
atinge o nosso julgar nos fazendo reconhecer que cada um de nós têm
responsabilidade e oportunidade de conversão, num processo que abrange homens e
mulheres, governantes e governados integralmente, sensibilizando os irmãos a
ouvir o grito da terra, da água e do ar; o grito dos pobres e miseráveis de todo o lugar; aqueles que são os mais sofredores e impotentes vítimas das mudanças climáticas.
A Igreja Católica
no Brasil, ao lado das coirmãs que integram o CONIC[2] e demais confissões
religiosas, organismos e entidades governamentais e não governamentais
solidárias, em tempo recente, motivada pela Encíclica Laudato Si, do Papa
Francisco, e o Sínodo da Amazônia, vem percorrendo este árduo caminho denunciando
o modo de vida atual e os males globais que estão destruindo o planeta.
Boa oportunidade
para todos refletir sobre o nosso modo de vida, no mais das vezes pautado no consumismo, precarização e
exploração sem limite, o que tem gerado uma complexa crise socioambiental à
beira da exaustão do recursos naturais e perspectiva zero para o futuro, uma
vez que tudo está interligado.
Razão pela qual o principal objetivo do alerta da Campanha é apontar para as causas da grave crise climática global cujos efeitos estão a exigir, de forma profunda, que alteremos o nosso modo de viver. E para que não caiamos nas falsas soluções, muitas vezes fomentadas em nome de transposição energética cujas fontes renováveis e sustentáveis são vistas apenas sob a ótica mercantil.
Todo o empenho eclesial, registre-se, tem a intenção de despertar no cristão o seu agir para promover uma ecologia integral que conecta a fé cristã com responsabilidade socioambiental. Inspiração que brota das palavras d’Aquele que tudo criou e viu que tudo era muito bom (Gênesis, 1,31).
E lá está o coração misericordioso de Deus abraçando o coração distante da humanidade, alimentando a sua
espiritualidade, de muitas e diversas formas, dando-lhes força para intervir, já a partir da realidade local onde vivem, enfrentando os desafios ambientais na ótica da justiça
social e o cuidado com o ser humano mais carente e necessitado de proteção,
motivo e caminho para a nossa conversão.
Estamos no decênio
decisivo para o planeta! Ou mudamos, convertemo-nos, ou provocaremos com nossas
atitudes individuais e coletivas um colapso planetário. Já estamos
experimentando seu prenúncio nas grandes catástrofes que assolam o nosso país.
E não existe planeta reserva! Só temos este! E, embora ele viva sem nós, nós
não vivemos sem ele.
Ainda há tempo,
mas o tempo é agora! É preciso urgente conversão ecológica: passar da lógica
extrativista, que contempla a terra como um reservatório sem fim de recursos,
onde podemos retirar tudo aquilo que quisermos, como quisermos e quanto
quisermos, para uma lógica do cuidado.
(...) A Ecologia integral
é um bem espiritual. Professamos, pois, com alegria e gratidão ao nosso Deus que criou tudo
com seu olhar amoroso. Todos os elementos materiais são bons, se orientados para
a salvação dos seres humanos e de todas as criaturas. Assim, Deus viu que tudo
era muito bom.
Que as Cinzas que
serão colocadas sobre nossas cabeças nesta Quarta-feira de abertura da Campanha
da Fraternidade e início deste Tempo Quaresmal seja um gesto e sinal de penitência e conversão, e nos inspire e recorde os nossos corações e mentes do quão frágil é o ser
humano pois do pó viemos e ao pó voltaremos (Gênesis 3:19).
Brasilândia/MS, 04 de março de 2025.
Véspera de Quarta-feira de Cinzas. Em memória dos 800 anos da
composição do Cântico das Criaturas, de São Francisco de Assis.
Fonte: Texto Base da Campanha da Fraternidade 2025, CNBB; Campanha da Fraternidade 2025: conheça o tema, a identidade visual e a oração - CNBB; Campanha da Fraternidade 2025 - ANEC; Território e energia: crítica da transição energética | Revista da ANPEGE
[1] -A Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) é uma instituição
permanente que reúne os Bispos católicos do Brasil que, conforme o
Código de Direito Canônico "exercem conjuntamente certas funções pastorais
em favor dos fiéis do seu território, a fim de promover o maior bem que a
Igreja proporciona aos homens, principalmente em formas e modalidades de
apostolado devidamente adaptadas às circunstâncias de tempo e lugar, de acordo
com o direito" (Cân. 447).
[2] -
O Conselho Nacional de Igrejas Cristã do Brasil (CONIC) é composto
pela Aliança de Batistas do Brasil, Igreja Católica Apostólica
Romana, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Igreja
Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e Igreja Presbiteriana
Unida, o CONIC nasceu no ano de 1982, em Porto Alegre (RS).
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