Carlos Alberto dos Santos Dutra
Aquela noite havia sido especial. A Câmara Municipal estava repleta. Tinha gosto de reconhecimento e gratidão. Ao lado de outros colegas de farda lá estava ele, orgulhoso de si, com toda a sua humildade, segurando aquele troféu.
Não. Não era a arma que muito tempo foi sua companheira, ainda que presa ao coldre e usada raras vezes, com parcimônia, comedida. Tampouco a farda da guarnição a que pertenceu por tantos anos e que lhe permitiu angariar amizade e respeito, e também construir uma vida, uma família.
O que empunha nas mãos não era um regalo qualquer; era uma placa em homenagem a um ilustre morador de Brasilândia: o título de cidadão brasilandense, honraria dedicada somente aos homens e mulheres que dedicaram a vida à serviço do bem comum em prol de uma comunidade.
E ele estava lá. Em meio aos sorrisos e abraços, dos familiares e amigos, no coração palpitante do velho soldado, depois, cabo e por fim sargento, Antônio Joaquim da Silva, personificava ali o melhor de si que ao longo da vida havia conquistado, e que agora, lhe revelava a estima nutrida.
Em meios aos flashes e num piscar de olhos, roda a engrenagem do tempo e lá o encontramos como verdadeira muralha debaixo dos três paus fechando o gol, pelos campos de futebol em meio aos gramados, nas quatro linhas dos pioneiros times de futebol de Brasilândia, tendo passado por vários deles, quando teve a oportunidade de ver cada um deles nascer, crescer e florescer.
Hábil desportista, disputado por todos os treinadores locais, sempre foi um atleta zeloso e dedicado, animador e, melhor do que ninguém, os que o conheceram nesta época, e que ainda por aqui se encontram, podem sobejamente relembrar e falar das aventuras deste verdadeiro herói de uma época onde a humildade e retidão eram as virtudes dos verdadeiros homens.
Dono de uma idoneidade exemplar, no cotidiano, com a farda ou sem ela, sempre foi a mesma pessoa, tratando a todos igual. Conselheiro, e de uma alegria contagiante, o velho Quinca, como alguns o chamavam, também foi um dedicado pai, esposo, vizinho, morador e associado.
Participou ativamente das iniciativas do seu bairro, a Cohab Thomaz de Almeida, sendo um dos fundadores da AMATA, dedicando altruisticamente sua força de trabalho e suas ideias para o fortalecimento do bairro, plantando arvores, e ajudando a regar muitas delas com paciência e consciência ambiental invejável.
Mais uns passos no rumo da história e a vida lhe mostrava a oportunidade de andar de bicicleta pela cidade, mesmo depois de aposentado da polícia militar, continuou sendo um homem de alto astral, de coração grande, e sempre disposto a ajudar, dar um conselho e fazer um comentário sempre na busca da promoção humana, jamais se deixando levar pela vaidade ou a inimizade. Era um homem de paz.
O enfarto que o apartou para sempre de seus familiares, Cidinha e Willian, esposa e filho, mais próximos, deixa em todos, também nos amigos, um vácuo em nossa existência e que por muito tempo essa dor e sentimento será sentida e lembrada.
Perde Brasilândia um cidadão que, merecidamente, recebeu o tributo dedicado aos grandes homens ainda em vida. E isso nos deixa feliz. É a homenagem mínima que a municipalidade pode lhe dar naquele dezembro de 2016.
Hoje, no dia do seu passamento, só nos resta nos despedir e lembrar com saudade deste companheiro que foi exemplo para todos, e partiu para o campo aberto da eternidade, onde certamente vai encontrar antigos atletas e colegas de farda que o precederam, na querência do céu...
Descanse em paz, querido Joaquim, pois amigo, o serás para sempre.
Brasilândia-MS,
04 de setembro de 2017.
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