sábado, 20 de março de 2021

 

A Covid-19, os números e o cuidado com a vida.

Carlos Alberto dos Santos Dutra

 







A história do corona vírus em Brasilândia começou ainda no ano passado (2020). O gráfico elaborado pela Secretaria Municipal de Saúde demonstra bem a sua evolução. Começou tímido, sorrateiro, no mês de maio, apresentando 15 casos confirmados. Depois, ao longo dos meses junho, julho e agosto, os números só cresceram. Havíamos chegado ao pico.

Sim, setembro e outubro entraram em declínio, com apenas 6 casos confirmados, e começamos festejar a vitória, enquanto o mês de novembro nos reservava um pequeno acréscimo no gráfico, em que pese o acumulado até ali já chegasse a 120 casos.

Daí veio o feriado das festas de fim de ano quando, felizes, pelo declínio no numero de casos, afrouxamos a guarda e achamos que não precisávamos mais de máscara, o distanciamento social podia ser flexibilizado, e que a hidroxicloroquina e ivermectina defendida pelo presidente, iria salvar a todos.

E no mês de dezembro o número explodiu: 72 casos confirmados, o que fez, novamente, o município intensificar as medidas de biossegurança, estado de emergência e toque de recolher. Como resultado, observando o gráfico, o efeito já se sentiu no mês de janeiro e fevereiro: os números baixaram para 54 e 41 casos respectivamente. No mês de março, ainda em curso, entretanto, os casos voltaram a subir.

O outro gráfico buscou mostrar, sob o olhar da epidemiologia, o quadro sanitário mais detalhado e não menos preocupante da ação deletéria e mortal do corona vírus sobre a população brasilandense. Chegamos à casa dos 1.059 casos notificados.

Ou seja, foram mais de mil pessoas que tiveram sintomas da doença e passaram por algum atendimento médico, demandaram atenção de profissionais da Saúde, receberam medicamentos, e submeteram-se a exames. Enfim, fizeram movimentar a conta financeira, social e emocional da rede de atendimento montada especialmente para garantir a segurança sanitária dos usuários do SUS.

Descartadas da doença 643 pessoas, outros 380 pacientes tiveram o diagnóstico confirmado e sobre elas uma rede minuciosa de procedimentos passaram a ser desprendidos por médicos, enfermeiros, técnicos e monitores que, 24 horas por dia, passaram a acompanhar o dia a dia desses pacientes.

No curso de 11 meses, daqueles que foram confirmados com Covid-19, um total de 314 recuperaram-se, sendo apresentados como curados. Não obstante, tivemos ainda que contabilizar 8 casos de pacientes que não tiveram a mesma sorte, e que vieram a óbito.

Hoje, 19 de março de 2021, o Boletim Epidemiológico do Covid-19 aponta 58 pacientes positivos em tratamento, sendo que 36 ainda aguardam o resultado de exames (swab ou sorológico) realizados pela rede pública. Um número altamente preocupante e que exige cuidado permanente do sistema municipal de Saúde.

Sistema frágil e formado por pessoas humanas, muitas delas envolvidas emocionalmente por ter de lidar e tratar parentes e amigos que se encontram internados no hospital local, ou em busca de uma vaga na UTI mais próxima.

São enfermeiras e auxiliares, motoristas, técnicos e médicos a beira da exaustão; às vezes impotentes diante de tanta demanda - não somente da Covid-19, pois o hospital também atende outras especialidades médicas, muito delas de urgência -, sobretudo à noite.

O bip intermitente dos aparelhos ecoando pelos corredores; o preenchimento dos formulários; a indicação de monitores; os equipamentos de proteção de uso obrigatório, muitos dos quais dificultam a locomoção dos atendentes; a entrada pela frente dos casos de urgência e a entrada pela lateral do hospital para o atendimento do corona vírus, tudo se soma aos corações apertados de quem ali trabalha.

Cansado e com a vida exposta ao risco, uma vez que também tem família que o espera em casa, lá vai aquele profissional de saúde, às vezes sem janta, deixando o turno da noite no hospital, com os braços e a cabeça em frangalhos, entrando pelo lado da casa, trocando os calçados e a roupa, para logo tomar um banho e poder abraçar o filho e o esposo... E agradecer a Deus por mais um dia e o dever cumprido.

Um mundo cuja maioria não observa e não entende onde há tanta dedicação, esforço e empenho envolvidos. Bem que mereciam que todos se cuidassem um pouco mais. Pelo menos, não para salvar suas vidas ou de quem queiram bem, mas para não dar tantos motivos para seus corações chorarem.

 Brasilândia/MS, 20 de março de 2021.

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