segunda-feira, 8 de março de 2021

 

O que a mulher não quer ouvir no dia 8 de março.

Carlos Alberto dos Santos Dutra.

 


As onze coisas que as mulheres não aguentam mais ouvir falar no Brasil e seus por quês foi abordado por Thiago Guimarães, numa reportagem da BBC Brasil em Londres, no dia 18 de junho 2016, tema oportuno para refletir neste Dia Internacional da Mulher.

Não é de hoje que as mulheres cerram os punhos e empreendem bandeiras em face da violência cotidiana que as cercam. A memória coletiva da greve que as nova-iorquinas enfrentaram e o incêndio ocorrido em 1911 que deu origem ao dia a elas dedicado, ainda permanece. Assim como as diversas manifestações e reivindicações das mulheres operárias que se seguiram ao longo do anos.

Os ares de democracia, entretanto, mudaram e um novo olhar sobre a questão feminina foi tomando forma, sobretudo em relação às agressões verbais e físicas com foco nos casos de estupro e feminicídio que reacenderam o debate da violência contra mulher no Brasil e no mundo.

Enquanto o país ainda tenta entender por que registra 50 mil estupros por ano, há quem discute o impacto negativo do machismo e dos pequenos gestos cotidianos que alimentam essa cultura de violência contra a mulher e supremacia masculina.

Segundo a jornalista Brenda Fucuta, existem certos conceitos e expressões que legitimam uma suposta superioridade natural dos homens. Nesse sentido, ela defende a necessidade de todos (e todas) reaprenderem a olhar e se relacionar com as mulheres.

Baseada em suas conversas com mulheres inspiradoras e na própria experiência no mundo corporativo, ela selecionou e classificou frases, do assédio de rua ao machismo inconsciente, que mulheres não aceitam e não deveriam mais ouvir.

Cantadas de rua, assobios, buzinadas, olhares são o que diariamente as mulheres se veem obrigadas a enfrentar; desde comentários até o assédio sexual em espaços públicos. Por vezes interações de teor obsceno, sem consentimento, e que se impõem como naturais, mas estão longe disso. Como exemplo a autora cita: Por que uma menina bonita como você está sem namorado? Ou Eu levaria você para casa.

Para Brenda, a abordagem pode às vezes nem ser agressiva, mas nem por isso é menos desrespeitosa. Há homens que não entendem que as meninas querem andar sem serem perturbadas, como os homens também querem. É um desrespeito a uma situação: estou andando, pensando, falando ao celular, não quero ser incomodada.

No campo da psicologia o que ocorre é que a cultura machista faz com que vítimas de estupro não reconheçam violência. No caso das cantadas agressivas, avalia Brenda, são abusos sexuais falados que buscam demonstrar poder e intimidar a mulher.

Fazem parte de uma cultura, essa tal cultura do estupro, porque é como se fosse autorizado aos homens falar, tocar e se apropriar do corpo das mulheres de uma forma que as mulheres não fazem com os homens.

Frases de orgulho machista ditas por homens e também por mulheres são frases que pressupõem um lugar inferior para a mulher na sociedade. Incluem desde brincadeiras aparentemente inofensivas sobre o desempenho feminino no trânsito até comentários a respeito da menina que se veste de modo a não se dar o devido respeito.

Coisas do tipo: Por que mulheres são contra as cantadas? Não gostam de um elogio?; Muito bem, já pode casar; Se sai assim (na rua ou na balada) é porque quer. Mulher que se respeita não é estuprada. Isso para não falar das frases machistas em negação que não cabem mais na nova etiqueta de gênero, que sugere compreensão, mas logo revela preconceito.

Segundo a autora, são aqueles ou aquelas que sempre começam, ao debater o tema das conquistas femininas, com a seguinte frase: 'Não sou machista, mas...' ou 'Não tenho nada contra o feminismo, mas...', e depois já emendam uma ideia preconceituosa disfarçada, afirma.

Isso está presente em expressões como: Mas vocês não acham que estão exagerando agora? O que mais vocês têm para conquistar? Ao que Brenda e as mulheres podem e devem responder: direito a não apanhar do marido, a ganhar os mesmos salários dos homens, a dividir o trabalho de casa com homens, a não ser interrompida ao falar, a andar como quiser nas ruas...

A reportagem ainda avança nos casos do machismo inconsciente (ou o machista que se acha feminista) quando recupera frases que apontam como comuns no mundo corporativo tais como: 

Acredito na meritocracia. Se a mulher é competente, ela chega lá; Não há machismo nessa empresa. Você, por exemplo, tem um salário maior do que muitos colegas homens; Sou muito a favor das mulheres e do feminismo. Em casa, por exemplo, são minhas filhas e esposa que mandam em mim. E por aí vai.

Outra reflexão que cabe nos dias atuais é, segundo a autora, considerar que ainda exista muita incompreensão, inclusive entre mulheres, sobre o que seja o feminismo. Como no caso de mulheres que dizem não ser feministas porque defendem a diferença entre homens e mulheres ou porque acreditam na convivência pacífica entre homens e mulheres.

Segundo ela, nenhuma corrente do chamado novo feminismo defende a anulação das diferenças entre homem e mulher. O que esses movimentos pretendem é a busca de direitos sociais iguais. Isso revela persistentes 'mal-entendidos' em torno do conceito de feminismo - palavra forte e ainda carregada de preconceito. Quiçá distante de ser um exercício de transformação da sociedade para um jeito mais libertador de convivência, não julgador.

Nesse sentido, o Dia Internacional da Mulher pode ser um excelente momento para promover o debate – sobretudo virtual --, motivado pelos casos recentes de estupro, violência doméstica e feminicídio no Brasil nos impulsionando a nos posicionar e, assim, jogar luz sobre esta ferida social que poucos gostam de comentar.

Tudo isso, porque o mundo que a gente quer não tem violência contra a mulher.

Brasilândia/MS, 8 de março de 2021

Dia Internacional da Mulher

2 comentários:

  1. Bela msg mano,
    Não basta bater palmas uma vez por ano para homenagear as mulheres...
    O reconhecimento se faz necessário no seu dia a dia...

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  2. É vero mano
    Mais uma vez relendo o texto concordo que esse assunto ou preconceito ainda persiste no nosso dia...
    Temos que incentivar o debate virtual nas redes sociais para que o mundo masculino e machista entenda que não há espaço para preconceito.
    Parabéns mano pela publicação.

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