A
mansidão e a paz de seu Antônio Alves.
Carlos
Alberto dos Santos Dutra
Corria
o ano de 1985 e o Bairro Thomaz de Almeida, chamado inicialmente de COHAB, reunia
seus primeiros habitantes que inauguravam suas casas semiconstruídas entregues
em tempos de eleição. E lá estavam os novos moradores disputando o espaço com o
resto da mata e cerrado derrubados que ainda mostravam ao longo das ruas de terra, rastos de insetos e formigas que insistiam em não deixar seu antigo
lar. Tempo de pioneiros e desbravadores.
E ele já se encontrava lá, sendo um dos primeiros moradores do novo bairro. Homem simples e de hábitos rurais, logo se acostumou com o ritmo do lugar e a proximidade com a área de campo e pasto que circundava o núcleo habitacional. Levar seus animais, cavalos e éguas que criava para pastar e tratar, era a ocupação que mais lhe agradava. Talvez por isso, recebera dos vizinhos e amigos o codinome Antônio das Éguas.
Apelido que a família preferia não conferir ao pai, seu Antônio Alves, e sim Antônio Corretor, que era mais simpático, uma vez que essa era também outra das habilidades profissionais que o tornou conhecido nas cidades por onde andou.
Nascido em Araçatuba/SP, no dia 5 de outubro de 1927, descendia de uma antiga família estabelecida naquela cidade, formada por sete irmãos. Infância e juventude ele a viveu em Pereira Barreto/SP onde a família morou e lá ele foi criado, ajudando o pai na lavoura e lida no campo. Talvez por essa razão não tenha tido a oportunidade de avançar nos estudos.
Mal e mal sabia escrever. Porém, na matemática sempre teve facilidade aprendendo desde cedo a mexer com os números. Talvez por isso tenha abraçado a profissão de corretor, onde o conhecimento dos números e cálculos lhe eram necessários e importantes.
No dia 8 de março de 1954, o jovem Antônio, com 26 anos de idade casou-se com Rita Simplício Alves, na cidade de Guaraçaí/SP, seguindo na atividade de trabalhador rural e corretor. O casal teve oito filhos: Cecília, José (in memoriam), Francisco, Rubens, Marlene (in memoriam), Vera, Elias e Cássia.
Homem simples e de andar correto, com um leve sorriso no rosto, sempre dedicava atenção a todos que encontrava no caminho. Talvez por ter familiaridade com a mansidão dos equinos com os quais tinha o maior gosto em tratá-los e cavalgar, sabia ouvir quem encontrasse, sem pressa, como se um sábio fosse.
Havia chegado a Brasilândia no ano de 1975, depois de passar por Pereira Barreto/SP, estabelecendo-se, dois anos depois, na fazenda Jesuíta, pertencente à época ao patriarca Arthur Höffig. Mudou para a sede do município em 1981, fixando sua morada logo em seguida no bairro Thomaz de Almeida onde viveu praticamente o restante de sua vida, vendo ali os filhos crescer.
Na memória dos filhos, ainda se encontra muito presente as histórias que ele contava, sobretudo dos primeiros anos da cidade esperança. A energia elétrica tocada pelo motor a diesel; o fundador do município, Arthur Höffig; os primeiros prefeitos da cidade, e outros fatos que marcaram a vida dos pioneiros, como ele, que aqui chegaram.
Homem que transparecia ser portador de uma bondade singular, poucos colocavam reparo na sua conduta que manifestava não possuir mácula, norteando seus atos, ao lado da esposa dona Rita, conduzindo-os com retidão e honestidade as relações e a criação de seus rebentos.
Consolo para todos que o conheceram e puderam beber na fonte seus ensinamentos, ainda que singelos, mas de longo alcance e puro afeto. Lembranças alegres e a mais triste: o dia 31 de dezembro de 2020 que deixou marcas profundas no coração da família e amigos.
Na campa imaginária e florida, enquanto seu Antônio aprumava seus arreios e derradeiras tralhas para a caminhada em direção ao Céu, os filhos, num aceno recordam os sonhos não realizados pelo pai: o de não ter aprendido a dirigir um automóvel, e não ter adquirido um sitio para plantar.
A rua em frente da antiga casa no bairro Thomaz de Almeida, onde a família morava, hoje tem asfalto e transformou-se num lugar diferente, distante daquele que faz lembrar os passos serenos e comedidos de seu Antônio levando seus animais para pastar.
O vulto dele, agora, montado em seu cavalo, sob um o belo chapéu branco que empunhava, não é mais possível percebê-lo na rua. Só se vislumbra a aura de luz que este homem de fé foi capaz de deixar na estrada e no coração de seus rebentos: filhos bem criados, sem vícios, e aprendizes das maiores lições de amor e simplicidade que ele ensinou, dizendo que estas virtudes deveriam estar sempre acima de tudo.
Homem de índole irretocável e feições de paz, em 2006, com o falecimento da esposa, dona Rita, passou a residir na casa de uma filha em São José do Rio Preto. A filha Cássia recorda que ele, de vez em quando visitava a família em Brasilândia e sempre dizia que estava voltando... Tamanha saudade.
Numa dessas visitas, lembrou a filha, ele disse que se viesse a falecer lá [em São José do Rio Preto] exigia que o trouxessem pra ser sepultado na querida Brasilândia, junto à esposa. O que só foi possível atender parte de seu desejo, devido sua causa morte ter sido a Covid-19.
Oh que dor, seu Antônio, ver seus filhos em lágrimas
contemplando seu corpo frágil enterrado à parte, aqui em Brasilândia, porém separado de
sua amada, dona Rita Simplício Alves, descansando a lucidez e altivez de seus 93 anos de idade na terra
nua, fria, cumprindo a exigência funerária, apartado de todos, sem poder, sequer a família poder velá-lo e despedir-se direito. Oh, que dor.
Descanse em paz, caminhe em paz, ensina-nos a paz, seu Antônio Alves.
Brasilândia/MS, 24
de março de 2021.
Fotos e Informações
cedidas pela filha Cássia Cristina.
Carlito obrigado pelo carinho.e reconhecimento abraço Deus abençoe...
ResponderExcluirSeu Antônio, como não lembrá-lo, quem viveu na Cohab, como eu, durante os primeiros 20 anos de existência no bairro? Foi lá que o conhecei e aprendi a admirá-lo. Pena que nunca pude dizer isso a ele em vida. Abraço. Obrigado.
ResponderExcluirSuas homenagens, lindas e justas, ajudam a cimentar a história de Brasilândia, além de nos trazer nostalgia.
ResponderExcluirFaz-nos refletir sobre a finitude da vida, mas ao mesmo tempo, enxergar como simples ações deixam lembranças eternas.
Parabéns e continue escrevendo e moldando a história de Brasilândia!
Obrigado dr. Agenor pelas palavras. Teria o maior prazer escrever sobre seu pai. Escrevo o que sinto e vejo. Se me enviar um alô pelo meu e-mail envio-te um pequeno questionário para nortear a homenagem a seu pai, se preferir. dutracarlito@outlook.com
ResponderExcluirForte abraço.
Saudades eterna sogro sempre vamos lembrar do senhor seu Antônio Alves
ResponderExcluirZerina Alves
ResponderExcluir