sábado, 10 de fevereiro de 2024

 

Ao Amigo jornalista Ray Santos
Carlos Alberto dos Santos Dutra.









Dizem que para agradecer não há dia nem lugar, basta romper com a inércia e fazê-lo. O mesmo acontece com a homenagem. É em vida que devemos fazê-la, mesmo que o aniversário do homenageado já tenha ocorrido ou ainda está por vir. Razão pela qual, não irei esperar o dia 1º de setembro próximo -- aniversário do amigo Ray Santos --, para prestar-lhe essa singela homenagem.

O texto que reproduzo aqui é de sua lavra e foi publicado no jornal Dia a Dia, trecho que recolhi e agora faz parte do livro História e Memória de Brasilândia/MS, tudo porque o conteúdo por ele narrado encerra em pedaço da sua e da nossa história desta terra.

Mais que isso, seu texto revela o quanto de humanidade e sensibilidade se esconde por trás da verve afiada e tino jornalístico deste repórter e radialista que por uma década impregnou e envolveu com seu diálogo crítico e construtivo a comunidade  de Brasilândia.

Corria o mês de março de 1998 e o repórter inquieto varava os campos em busca de gente, de histórias e de vidas humanas pelos fundões do cerrado brasilandense. E lá o encontramos conversando com moradores do Assentamento Mutum, distante da sede do município cerca de 150 km. Olho no olho e o jornalista verifica o quanto aquela gente é humilde e sofrida. Mas feliz. Apesar de todas as dificuldades as pessoas confessam que a luta foi grande para conseguir o seu pequeno pedaço de chão, mas que valeu a pena, lembra.

Assim começa a descrição do que os olhos viam e coração sentia naquele momento. Um dos assentados que o acolheu, inclusive oferecendo-lhe estadia, foi o senhor Antônio Telles, um dos personagens dessa história; ele e sua esposa. 

Homem simples, mas de uma energia incrível, escreve o jornalista. Mecânico por mais de 40 anos e que sempre viveu na Grande Dourados, um dia falou para os filhos que iria ganhar um pedaço de terra e ia se mudar para o mato. Houve protestos e os filhos queriam até levá-lo a um psicólogo.

Seu Antônio não se intimida em lembrar os revezes e a história de suas andanças inclusive arrisca a contar que chegou a ser expulso do loteamento por pistoleiros, por duas vezes consecutivas. Conta que tinha um tal de ..., que amedrontava todo o pessoal, mas eu não desisti.

Tamanha foi sua felicidade quando foi sorteado e recebeu seu lote. Agradeci a Deus e chorei muito, confessou sorrindo. Pouco tempo depois já era um próspero assentado com um rebanho de 17 cabeças e inclusive um veadinho mateiro que adotou e se tornou verdadeiro membro da família.

No local ele construiu casa, fez poço de água e a canalizou. Tem de tudo, faltava-lhe na época apenas a energia elétrica [que dizem] estava chegando e o tí­tulo de propriedade. Os olhos do jornalista observam o veí­culo pampinha que o casal possui e serve para dar assistência aos outros assentados, enquanto o entrevistado confessa: sou um homem feliz. Seu Antônio era uma espécie de anfitrião no Mutum e todas as pessoas que passam por lá acabavam visitando-o.

O outro personagem é o jovem casal Ubirajara e sua esposa Elza que optaram pela vida dura do campo e que devagar foram construindo a vida simples que escolheram para si. Bira anda de moto CG 125 e é um tipo de lí­der local que ajuda as pessoas, inclusive os mais velhos que necessitam de atendimento social. Foi ele que construiu a casa do seu Antônio e a própria casa.

A esposa dona Elza é um tipo de deusa que dá um toque especial em tudo, inclusive com seu sorriso de felicidade. Eles estão plantando lavouras de milho, mandioca, amendoim. Agora, Bira explicapretendo plantar café e já tá trabalhando a área para plantar dez mil pés. A terra tem condições, sim, de responder com produtividade, conclui otimista (...).

O restante de seu envolvente texto deixamos para o leitor buscar no livro História e Memória de Brasilândia/MS onde esta e outras histórias são contadas em tom coloquial, como o apresentado com rara beleza pelo nosso amigo Ray Santos no texto acima.

O que narramos aqui é apenas um aperitivo que nos bridou este mestre das letras e das palavras Ray Santos que muito contribuiu para a história de Brasilândia e região, imprimindo um jornalismo ousado e dinâmico num tempo onde as coisas ainda eram difíceis por aqui.

Estimado por poucos, numa Brasilândia ainda pacata, tem o mérito de ter ampliado os horizontes da informação, via jornal e também na rádio FM Brasil Comunitária local,  acabando por ensinar muita gente a transpor no jornalismo o mundo dos antigos linotipos para a impressão off set e depois para a mídia digital dos dias atuais.

Parabéns Ray Santos. Obrigado e Feliz muitos Aniversários.


Publicado originalmente em https://carlitodutra.com.br/ em1º de setembro de 2017.

Foto: Noite de autógrafos no lançamento do livro Razão e utopia, textos rebeldes, do autor, ocorrido nas dependências do saudoso clube da Associação Atlética Brasilandense-AAB, Arquivo Jornal Dia a Dia, Ray Santos, 1998

Fonte: Assentamento Mutum e o preço da felicidade In. Dutra, C.A.S. História e Memória de Brasilândia/MS, vol. 4-Desenvolvimento, 2. Ed., Campo Grande, Editora Life, 2023, pág. 186s

Instalação do poço semiartesiano na Escola Agrícola Julião Maia (Foto: Jornal Dia a Dia, 1996).

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