quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

 

Diácono Permanente: desafio e graça

Carlos Alberto dos Santos Dutra

Hoje, dia 28 de fevereiro completo 68 anos de vida. Mais da metade dela (38 anos) vivi nesta terra Ofaié. Dia 31 de março próximo, completo 22 anos como Diácono Permanente nesta comunidade de Brasilândia/MS, ordenação conferida pelo saudoso Bispo Dom Izidoro Kosinski numa cerimônia ocorrida no Salão Paroquial, no ano de 2002. 

16 anos antes, a partir de 1986, quando aqui cheguei, exerci funções delegadas e atividades pastorais como Ministro Extraordinário da Comunhão e do Sacramento do Batismo; pregação da Palavra de Deus; presidência das ações litúrgicas, e delegação para assistir à Matrimônios, sempre auxiliando o padre Lauri Vital Bósio durante os seu longo apostolado e os que o sucederam por aqui. 

Portanto, sinto-me deveras feliz e muitíssimo grato por poder participar, ser acolhido e ter acompanhado por quase quatro décadas, a caminhada dos fiéis desta Paróquia Cristo Bom Pastor, que também é minha casa de fé. Sempre à serviço da Igreja, seja como missionário entre os índios, acampados, ribeirinhos e associações; seja no serviço do altar e ministérios ao lado dos sete Párocos aos quais esta comunidade foi confiada ao longo desses anos. 

No gesto de acolhida, na porta da igreja, quando recebo os fiéis e amigos, a grande maioria, conhecedor de minha trajetória pessoal e também de meu engajamento social e político de outrora, todos me cumprimentam com a alegria, respeitosa e fraterna de sempre. Sabem que ali se encontra o Diácono Permanente Carlito, como sou conhecido. 

Acontece que nos últimos anos nossa cidade cresceu e para cá acorreram fiéis de outros lugares e também novos moradores que, de acordo com suas origens, devoção e fé, se sentiram atraídos para as missas e celebrações dominicais em nossa comunidade.  

É nesta hora e lugar que muitos destes fiéis, ao cumprimentar o Diácono no portal da igreja, o tratam como se ele Padre fosse. Ainda que na saudação seja facultado ao fiel pedir “a bênção” àquele membro do clero que ali se encontra, a resposta “Deus o abençoe” com certeza eles sempre ouvirão ao lado de uma calorosa recepção. Assim como ouviriam do Bispo, do Padre e do Diácono que ali se encontrar. 

Ao Diácono Permanente, entretanto, além destes gestos de acolhida e de bênção, cabem funções específicas que nem sempre são conhecidas por todos; mesmo aqueles que frequentam às celebrações dominicais na igreja. Senão vejamos: Diaconato é o primeiro grau do Sacramento da Ordem. Os outros dois são o Presbiterato e o Episcopado; portanto, Diáconos, Presbíteros e Bispos compõem a hierarquia da Igreja, devendo-se a eles respeito e reverência.

As mãos são impostas sobre o Diácono para o ministério, e não para o sacerdócio. Com a ordenação o Diácono deixa sua condição de leigo e passa a fazer parte do clero. Esse Sacramento imprime caráter, que o faz Diácono por toda a eternidade. Não há como retroceder. O Diácono Permanente sendo casado, não pode ascender ao grau superior, ficando permanentemente como Diácono.

Então, quais as funções do Diácono? Diaconia quer dizer serviço. Isso quer dizer que o Diácono é ordenado para servir. Faz parte do ministério do Cristo Servo, que veio para servir e não para ser servido. O documento da Igreja “Lumem Gentium” diz que o Diácono Permanente serve o povo de Deus na Diaconia da Liturgia, da Palavra e da Caridade (LG 29).

Na Liturgia Eucarística, o Diácono tem funções próprias: servir o altar, proclamar o Evangelho, convidar para o abraço da paz, purificar os vasos sagrados e fazer a despedida. Deve, ainda, incentivar a participação correta e efetiva da assembleia na Divina Liturgia.

Importante lembrar que o Diaconato não é coisa nova na Igreja. Ele existe desde o Atos dos Apóstolos (Atos 6,1-6), tendo sido instituído pelos próprios apóstolos com a imposição de mãos sobre os primeiros sete diáconos: Filipe, Prócoro, Nicanor, Tímon, Pármenas, Nicolau e Estevão, que foi o primeiro mártir (At. 6,8-7,60). Podemos, ainda, ver outras referências como Fl 1,1 e 1 Tm 3,8. O Diaconato permaneceu florescente na Igreja do Ocidente até o século V, depois por várias razões desapareceu.

A partir de 1967, o Diaconato foi restabelecido por meio do Concílio Vaticano II. Inicialmente foi regulamentado pelo Papa Paulo VI, no “Motu Próprio Sacrum Diaconatus Ordinem”. Depois, com o passar dos anos, foram promulgadas normas e diretórios para a sua formação e rito de ordenação. Documentos da Igreja deixam explícitos a competência exclusiva dos Bispos Diocesanos de restaurá-lo e implementá-lo.

Em Mato Grosso do Sul, a nossa Diocese de Três Lagoas teve a honra de ser, quando da sua criação em 1978, a Diocese que mais possuía Diáconos no seu clero. Só para se ter uma ideia, no ano de 1980, Dom Geraldo Majela Reis, 1º Bispo Diocesano de Três Lagoas, contava com apenas 01 (um) Padre Diocesano e 09 (nove) Religiosos; 05 (cinco) congregações religiosas femininas, e 08 (oito) Diáconos Permanentes, sendo que muitas Paróquias eram administradas por Diáconos e Religiosas, em razão da escassez de sacerdotes.

Os documentos de Santo Domingo nos dizem que o Diácono Permanente é o único a viver a dupla sacramentalidade – da Ordem e do Matrimônio. Um não elimina o outro. A vida matrimonial é, portanto, vivida em sua plenitude. Esta é a razão pela qual a esposa tem que autorizar, por escrito, e de viva voz, no momento da ordenação. O Bispo pede a sua autorização para ordenar seu marido. Cumpre ainda lembrar que o Diácono Permanente não recebe nenhuma remuneração pelo serviço. Absolutamente nada. Todo seu trabalho é uma doação à Igreja. 

Doação que este fiel que hoje aniversaria e antecipa os festejos de seus 22 anos de Diaconato, pede vênia para dividir com sua comunidade de fé, a mais profunda gratidão pela acolhida e compreensão. Razão pela qual, convida a todos, neste dia, a rezar também por este cidadão brasilandense e sua família. Amém.


Brasilândia/MS, 28 de fevereiro de 2024.

  

Fonte: O Diácono e sua atuação na Igreja « Diocese São José dos Campos (diocese-sjc.org.br)

† iCatolica.com: O diácono faz parte do Clero?

Diácono | Enciclopédia católica | Fandom

Eduardo Migliorini - TCC.pdf (pucsp.br)




Nenhum comentário:

Postar um comentário