quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

 

Dona Maria baixinha, o Barro e a Vida
Carlos Alberto dos Santos Dutra



Maria baixinha, carinhosamente chamada
Tinha o nome de Conceição, em homenagem à Virgem.
À exemplo da Mãe de todos os homens
Nunca foi de esmorecer na vida.
Esteio da casa, lado a lado com o marido
Criou os filhos e muitas vidas que já se foram
Sempre no acalanto do rio
Rio que corre
Corre sempre em direção ao mar
Sempre sonhando e avançando
Mas nunca esquecendo de alimentar seus filhos.

Foi de suas margens que ela conquistou o sustento
Lá no Porto João André, quilômetro abaixo, quilômetro acima
Sob a poeira da estrada
Mas não de uma forma qualquer
Seu trabalho, tinha algo de divino e construtor
Amassou a terra, fazendo-a florescer
Pisou a terra, fazendo-a frutificar
Molhou a terra, fazendo-a tornar-se sólida
Moldou um a um cada tijolo
Com zelo, paciência e arte
Que construiu um povoado, uma vila, uma cidade
Palma da mão preciosa.
Rosto cansado, mas o olhar sempre avante.

De sábia existência, experiência de anos
Sua fala perto, mansa, e 
seus conselhos que alcançavam longe. Tão suaves e profundos como a brisa. Como a mareta no casco do barco de um pescador.


De outras vezes erguia a voz áspera, a guerreira
Para defender seus direitos e os sonhos do seu povo
Como legítima liderança dos fracos e alquebrados
Lá estava a timoneira com envergadura e espanto
A clamar pelos que foram arrancados, 

Sorrateiros de seus lares
Levados para outros lugares
Ela nunca desanimou, lutando continuou
É exemplo para a juventude.

Dedo em riste, com voz firme, protestou quando preciso
Abriu uma clareira no céu, de esperança e vida nova
Para ribeirinhos e oleiros, deu maior prova
Pescadores e seus ranchos
Óh! meu Deus quanta saudade.

Profetisa em sua fé, tinha um sublime amor
Na Mãe de todas as mães, porque a Mãe de Jesus
Sempre a Ela confiou, sua vida, sua Cruz
Corajosa...Vó zelosa
Nos deixou...

Mas suas palavras ficaram
Ensinamento que guardaram os antigos e os novos
Hoje celebram a partida
Da guerreira e anciã
Lá se vai a guardiã, dos que ficam, dos que choram
Fundadora da esperança, de João, de Augusto, de André e todos nós
Que acenam em despedida:
Vá com Deus Ó Conceição!
Aperto no coração
Volta ao barro, olha a maromba, e Aquele todo Luz
Que te fez
Logo vem ao teu encontro
Vai te acolher.
Vá, ó Conceição.
Siga-O pela mão...

Publicado originalmente em 03 de Outubro de 2012.

 

Maria Conceição da Silva Gomes

Araçatuba/SP, 25 de maio de 1944

Brasilândia/MS, 03 de outubro de 2012.








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