segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024


Walter Vieira da Silva e o adeus ao Waltinho

Carlos Alberto dos Santos Dutra



Há dois anos, encontrava-me em frente ao terminal rodoviário Patrocínio de Souza Marinho, nesta cidade de Brasilândia/MS. A noite já ia alta e eu aguardava uma pessoa que deveria chegar de ônibus naquele horário. Foi quando estacionou nas proximidades um veículo que trazia um passageiro que deveria também embarcar no mesmo ônibus que todos esperavam.

Segui olhando os demais passageiros que aos poucos iam chegando e aguardavam o ônibus que os levaria a seus destinos: Três Lagoas, Água Clara, Ribas do Rio Pardo e Campo Grande. De súbito, devido à pouca iluminação do lugar onde me encontrava, um vulto se aproximou e estendeu a mão me cumprimentando.

Tratava-se de Walter Vieira da Silva, o Waltinho, muito conhecido na cidade e que, naquela noite, iria seguir viagem para Ribas do Rio Pardo/MS, onde tentaria por lá a sorte no ramo da gastronomia.

Contou-me que a região experimentava a explosão de desenvolvimento econômico com a implantação de uma grande indústria de celulose, o que exigia do lugar novas estruturas e forças para a sustentação de seus negócios. Era a oportunidade que surgia para empreendedores das diversas áreas suprir as demandas e o grande fluxo de trabalhadores que passaram a se fixar no lugar.

Ele mostrava-se animado com as perspectivas de abrir o seu próprio negócio. Na época, ele era ainda funcionário de um restaurante, mas seus sonhos voavam alto. E apostava naquilo que se propunha a fazer com uma fé de admirar.

Meses depois, soube que ele conseguira abrir o seu próprio comércio, um restaurante sobre rodas, fazendo comida árabe, instalado em frente à farmácia Multidrogas, na avenida Aurélio Moura Brandão, em Ribas do Rio Pardo.

Era o seu Arabian Food Truck, lugar onde conquistou uma grande clientela e amigos pela simpatia do atendimento e capricho de seus produtos, destacou há dois dias o jornal Notícias do Cerrado, na edição digital do dia 11 de fevereiro último...

Desnecessário dizer que aquele foi o último encontro que tive com ele em vida. Passados menos de dois anos, eis que recebo a notícia de que na noite do dia 10 de fevereiro, um acidente fatal, tirou-lhe a vida, numa trágica colisão na BR 262, a poucos metros do perímetro urbano de Ribas do Rio Pardo, acidente que vitimou também outro morador daquela cidade.

Ainda recordo o brilho de seus olhos e o calor de suas palavras de otimismo e esperança naquela noite. Nunca havia colocado reparo naquele jovem nascido no dia 28 de janeiro de 1970 e que somente algumas vezes o havia visto ao lado do pai, seu Agostinho Silva[1], na tradicional lanchonete Brasa no Boi instalada no centro de Brasilândia.

Localizada na esquina da Praça Santa Maria, o bar fazia frente com o diminuto Ponto de Ônibus da empresa Viação São Luiz – o único da cidade, na época --, ao lado do Hotel São José, do senhor Zé Arara. Era para aquele bar que acorriam todos que nesta cidade chegavam, sendo atendidos por aquele sereno português, seu Agostinho, um dos pioneiros do comércio local.

Quando cheguei a Brasilândia ele já devia ter cerca de 16 anos e, ao lado do irmão mais velho José, popular De Luxe e a irmã Marina, o menino Walter, carinhosamente chamado de Waltinho, era o orgulho e os dengos da mãe, dona Maria Vieira da Silva.

Herdando os dotes dos pais, assim como o mano José, o caçula Waltinho, desde pequeno teve jeito para o comércio. De olhos atentos do outro lado do balcão, acostumou-se durante a infância e juventude ver o pai e a mãe conversando, atendendo pessoas, e servindo bebidas e alimentos aos clientes sempre solícitos e atenciosos, lições que aprendeu, guardou e desenvolveu aos longos dos anos.

Depois de ter passado com êxito pela Escola Estadual Adilson Alves da Silva, como todo o jovem brasilandense, estudou na UNIMAR em Marília/SP, casou, teve filhos e, por muitos anos manteve-se em Brasilândia no ramo alimentício com a Lanchonete e Cachaçaria do Waltinho.

Sempre muito integrado com a comunidade brasilandense era um dos entusiastas animadores que sempre apoiava os eventos da cidade, entre eles o Brasilândia Fashion. Na 2ª edição deste evento, lembra Márcio de Souza Sicílio[2], a dupla Anderson Mattos e Henrique Sanfoneiro abrilhantaram a festa, e ele estava lá em parceria com a Michelly, como um dos patrocinadores.

O profissionalismo e a habilidade com que desempenhava o seu trabalho não lhe deram outra alternativa que não fosse a de procurar o seu lugar ao sol em outras plagas. E lá instalou-se ele com seriedade e afinco na cidade de Ribas do Rio Pardo para fazer parte do desenvolvimento daquele lugar.

Passou, assim, a integrar o ritmo de uma cidade que, por tradição, nos últimos anos tornara-se mestra em promover verdadeiros festivais reunindo food truch de diversas regiões. E lá se encontrava o comunicativo e querido por todos, menino de Brasilândia, e sua família, criando raízes por lá, vislumbrando um digno e promissor horizonte trilhado desde há muito por cada um de sua família...

Após sua partida repentina, a lembrança que fica para os filhos e netos, bem como para a mãe, inconsolável, e o restante da família, é a dor de ver a morte leva-lo ainda tão cedo e no auge de suas potencialidades humanas e profissionais. 

Será um legado de experiência e confiança que irá deixar para aqueles que seguem seus passos e que o farão com orgulho e altivez. Com certeza, haverão de estarem no rumo certo, para a alegria do amigo Waltinho que os abençoa lá do Céu. Descanse em paz, amigo português. Boa viagem irmão de caminhada.


Brasilândia/MS, 12 de fevereiro de 2024.

 



[1] - Sobre a história de seu Agostinho Silva confira: Dutra, C.A.S. História e Memória de Brasilândia/MS, vol. 1-Pioneiros, página 157.


























2 comentários: