O tema proibido da Campanha
da Fraternidade 2024
Carlos Alberto dos Santos
Dutra
Em preparação para a maior festa do mundo
cristão, a Páscoa do Senhor, todos os anos o magistério da Igreja Católica
Apostólica Romana, por meio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB,
busca aprofundar o tempo Quaresmal através de uma Campanha com um tema pastoral sensível a seus
fiéis e que os motive a ser sinal do amor fraterno pregado por Jesus Cristo, o
Filho de Deus Vivo, segundo as Escrituras.
Trata-se da Campanha da Fraternidade que há 60 anos vem refletindo sobre diversos temas sociais cuja reflexão é sempre bem recebida pela sociedade.
Na medida que é difundido nas homilias e pregações, em missas e celebrações,
encontros e reuniões, grupos de oração e círculos bíblicos, pastorais e
movimentos, transforma-se o tema escolhido em caixa de ressonância junto à
sociedade enriquecendo-a.
Neste ano de 2024, a Campanha da Fraternidade
dedicou seu apostolado sobre o tema: Fraternidade e Amizade Social.
Tema profundamente atual, porém, em face da realidade vivida nos últimos anos tem apresentado resistências dentro e fora da Igreja, revelando o quão distante se está do
próprio lema proposto anunciado por Mateus 23,8: Vós sois todos
irmãos e irmãs.
Todos sabem, vivemos em uma sociedade
dividida. Eivada de ódio, preconceito e valores nada cristãos, idem. Porém, não
era de se esperar que membros e fiéis do corpo eclesial revelassem
comportamento semelhante. Isso porque tal postura vai de encontro (contra) a
proposta do Evangelho ao qual devotam obediência e dever de anúncio. Lema que
desafia o preconceito e a dureza dos corações e mentes dos que se fecham e não
conseguem vencer o obscurantismo que os rodeia.
Essa realidade pode ser percebida em lugares
cujos párocos e pregadores sequer leem as Oração da Campanha da Fraternidade
2024 durante as missas. Quando não se posicionam contrários ao que está sendo
anunciado, declarando-se alguns, pelas redes sociais, abertamente contra o Papa
e Bispos que a defendem.
Tudo isso gera em todos ainda mais divisão,
pois a grande maioria dos fiéis, leigos para tantos assuntos que atualmente os
rodeiam, não saberão o que dizer. Pautando suas convicções na palavra de quem
julgam ser a mais acertada porque emanada de um ministro de Deus, ficam à mercê
dos lobos.
--Mas o que de tão perigoso o tema desta
Campanha contém? --Por que para alguns trata-se de um tema proibido de ser
abordado livremente pelos cristãos?
Para responder essas perguntas, vejamos: a
Campanha da Fraternidade ao ser lançada, seu texto base é sempre acompanhado de
alguns subsídios, entre eles o belo livrinho da Via Sacra e Encontros para a Quaresma em preparação para a Páscoa. É uma excelente oportunidade
para as famílias e grupos, nos bairros e capelas se reunirem para rezar e
refletir sobre o tema, dissipando suas dúvidas e enriquecendo-se com o seu
conteúdo.
É uma forma de, em uma roda de conversa, num
clima de fraternidade, onde as pessoas conhecidas se encontram e partilham de
suas experiências e vivências na família, na escola, no trabalho, com o esposo,
os filhos e netos, refletem à luz do Evangelho o caminho exigido para construir
a verdadeira amizade --a amizade social. É isso que a Campanha propõe, onde
Jesus Cristo nos faz lembrar que somos todos irmãos e irmãs, possuidores da
mesma dignidade.
Somente com uma engajada espiritualidade
Quaresmal, com os pés no chão e em sintonia com o dia a dia das família e
pessoas do mesmo círculo e de relações distantes também, permitirá que todos
sejam capazes de abrir o coração para o amor fraterno e superar as inimizades
de ordem moral e social que nos isolam uns dos outros e nos fará enxergar em
cada pessoa um irmão e uma irmã.
Que o tema da Campanha da Fraternidade deste
ano seja pregado nos altares, anunciado nas rádios e redes sociais, púlpitos e
ambãos, catequese e comunidades. E que seja dito que a amizade social não
é uma expressão perigosa.
Não tenham medo de conhece-la e praticá-la,
pois, a Amizade é o que nos move: ela vai adentrando nossas
vidas, desde o momento que nascemos, e à medida que crescemos, ela nos nutre na
família, na comunidade, na igreja, no trabalho, no mundo em que vivemos. É a
força Espiritual que nos impulsiona a fazer o bem a quem se encontra a nossa
volta, e cuidar um dos outros como se fosse a nossa própria família.
Para aqueles que já descobriram o valor da
amizade social ela pode evoluir para algo mais exigente e duplamente
enriquecedor: à medida que se toma gosto pela mensagem que Jesus Cristo nos
propõe ela se encarna nas nossas entranhas e no nosso coração de cristão sendo
impossível arrancá-la do peito. Sofrer e se importar verdadeiramente com as
pessoas que sofrem – vítimas das guerras, das tragédias naturais, dos vícios e
de tantos males que afetam o mundo --, é o remédio para combater a inimizade
social que fere a dignidade humana, que causa divisão, discórdia e morte.
Diante de tudo isso, há de se perguntar:
--como andam as minhas atitudes em relação aos meus irmãos? --sinto compaixão
quando vejo notícias sobre vítimas de guerra? --Ou acho isso normal? –sinto
ódio e excluo do meu convívio aquele parente ou colega que apoia um político
diferente do meu? –tenho atitudes que degradam o meio ambiente, como consumo
exagerado e o descarte incorreto do lixo? –tenho algum tipo de preconceito
contra as pessoas, pelo seu jeito de ser ou viver? –concordo com ideias de
morte, como o direito de possuir uma arma de fogo e o direito de matar?
É... Para muitos a amizade social pode parecer
ainda um tema proibido e distante. Porém, para o cristão, as palavras de Paulo a nós dirigida é um apelo e pedido de conversão: “Irmãos, não vos conformeis
com este mundo, mas transformai-vos, renovando a vossa mente, a fim de poderdes
discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, agradável e perfeito!” (Rm
12,2).
Brasilândia/MS, 06 de março de 2024.
Nenhum comentário:
Postar um comentário