quarta-feira, 6 de março de 2024

 

O tema proibido da Campanha da Fraternidade 2024

Carlos Alberto dos Santos Dutra







Em preparação para a maior festa do mundo cristão, a Páscoa do Senhor, todos os anos o magistério da Igreja Católica Apostólica Romana, por meio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, busca aprofundar o tempo Quaresmal através de uma Campanha com um tema pastoral sensível a seus fiéis e que os motive a ser sinal do amor fraterno pregado por Jesus Cristo, o Filho de Deus Vivo, segundo as Escrituras.

Trata-se da Campanha da Fraternidade que há 60 anos vem refletindo sobre diversos temas sociais cuja reflexão é sempre bem recebida pela sociedade. Na medida que é difundido nas homilias e pregações, em missas e celebrações, encontros e reuniões, grupos de oração e círculos bíblicos, pastorais e movimentos, transforma-se o tema escolhido em caixa de ressonância junto à sociedade enriquecendo-a.

Neste ano de 2024, a Campanha da Fraternidade dedicou seu apostolado sobre o tema: Fraternidade e Amizade Social. Tema profundamente atual, porém, em face da realidade vivida nos últimos anos tem apresentado resistências dentro e fora da Igreja, revelando o quão distante se está do próprio lema proposto anunciado por Mateus 23,8: Vós sois todos irmãos e irmãs.

Todos sabem, vivemos em uma sociedade dividida. Eivada de ódio, preconceito e valores nada cristãos, idem. Porém, não era de se esperar que membros e fiéis do corpo eclesial revelassem comportamento semelhante. Isso porque tal postura vai de encontro (contra) a proposta do Evangelho ao qual devotam obediência e dever de anúncio. Lema que desafia o preconceito e a dureza dos corações e mentes dos que se fecham e não conseguem vencer o obscurantismo que os rodeia.

Essa realidade pode ser percebida em lugares cujos párocos e pregadores sequer leem as Oração da Campanha da Fraternidade 2024 durante as missas. Quando não se posicionam contrários ao que está sendo anunciado, declarando-se alguns, pelas redes sociais, abertamente contra o Papa e Bispos que a defendem. 

Tudo isso gera em todos ainda mais divisão, pois a grande maioria dos fiéis, leigos para tantos assuntos que atualmente os rodeiam, não saberão o que dizer. Pautando suas convicções na palavra de quem julgam ser a mais acertada porque emanada de um ministro de Deus, ficam à mercê dos lobos.

--Mas o que de tão perigoso o tema desta Campanha contém? --Por que para alguns trata-se de um tema proibido de ser abordado livremente pelos cristãos? 

Para responder essas perguntas, vejamos: a Campanha da Fraternidade ao ser lançada, seu texto base é sempre acompanhado de alguns subsídios, entre eles o belo livrinho da Via Sacra e Encontros para a Quaresma em preparação para a Páscoa. É uma excelente oportunidade para as famílias e grupos, nos bairros e capelas se reunirem para rezar e refletir sobre o tema, dissipando suas dúvidas e enriquecendo-se com o seu conteúdo.

É uma forma de, em uma roda de conversa, num clima de fraternidade, onde as pessoas conhecidas se encontram e partilham de suas experiências e vivências na família, na escola, no trabalho, com o esposo, os filhos e netos, refletem à luz do Evangelho o caminho exigido para construir a verdadeira amizade --a amizade social. É isso que a Campanha propõe, onde Jesus Cristo nos faz lembrar que somos todos irmãos e irmãs, possuidores da mesma dignidade.

Somente com uma engajada espiritualidade Quaresmal, com os pés no chão e em sintonia com o dia a dia das família e pessoas do mesmo círculo e de relações distantes também, permitirá que todos sejam capazes de abrir o coração para o amor fraterno e superar as inimizades de ordem moral e social que nos isolam uns dos outros e nos fará enxergar em cada pessoa um irmão e uma irmã.

Que o tema da Campanha da Fraternidade deste ano seja pregado nos altares, anunciado nas rádios e redes sociais, púlpitos e ambãos, catequese e comunidades. E que seja dito que a amizade social não é uma expressão perigosa.

Não tenham medo de conhece-la e praticá-la, pois, a Amizade é o que nos move: ela vai adentrando nossas vidas, desde o momento que nascemos, e à medida que crescemos, ela nos nutre na família, na comunidade, na igreja, no trabalho, no mundo em que vivemos. É a força Espiritual que nos impulsiona a fazer o bem a quem se encontra a nossa volta, e cuidar um dos outros como se fosse a nossa própria família.

Para aqueles que já descobriram o valor da amizade social ela pode evoluir para algo mais exigente e duplamente enriquecedor: à medida que se toma gosto pela mensagem que Jesus Cristo nos propõe ela se encarna nas nossas entranhas e no nosso coração de cristão sendo impossível arrancá-la do peito. Sofrer e se importar verdadeiramente com as pessoas que sofrem – vítimas das guerras, das tragédias naturais, dos vícios e de tantos males que afetam o mundo --, é o remédio para combater a inimizade social que fere a dignidade humana, que causa divisão, discórdia e morte.

Diante de tudo isso, há de se perguntar: --como andam as minhas atitudes em relação aos meus irmãos? --sinto compaixão quando vejo notícias sobre vítimas de guerra? --Ou acho isso normal? –sinto ódio e excluo do meu convívio aquele parente ou colega que apoia um político diferente do meu? –tenho atitudes que degradam o meio ambiente, como consumo exagerado e o descarte incorreto do lixo? –tenho algum tipo de preconceito contra as pessoas, pelo seu jeito de ser ou viver? –concordo com ideias de morte, como o direito de possuir uma arma de fogo e o direito de matar?

É... Para muitos a amizade social pode parecer ainda um tema proibido e distante. Porém, para o cristão, as palavras de Paulo a nós dirigida é um apelo e pedido de conversão: “Irmãos, não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando a vossa mente, a fim de poderdes discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, agradável e perfeito!” (Rm 12,2).

 

Brasilândia/MS, 06 de março de 2024.


Fonte: Via-Sacra, Encontros para Quaresma, Celebração Pascal – 2024 – CNBBS2 – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil Regional Sul 2


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