Bento dos Santos
Filho e a pena do professor.
Carlos Alberto
dos Santos Dutra
Sempre que um professor deixa a terra dos vivos e é chamado no Céu, uma lacuna no saber a comunidade experimenta, sobretudo quando se trata de uma pessoa cuja trajetória se devota importância e despertou ao longo dos anos respeito e admiração em todos.
São alunos que, ainda jovens, porém atentos, beberam na fonte de sábias lições e ensinamentos práticos ministrados pelo mestre e que servirão para toda vida. São artistas que, ainda iniciantes, porém criativos em suas garatujas, espelharam-se nos dons do mestre da pintura, despertando dentro de si, muito cedo para a missão de colorir o mundo.
São colegas docentes e acadêmicos que partilharam do interesse pela educação e da pesquisa sobre temas atuais e caros à comunidade, cuja relevância este professor ofertou em meio ao desafios das Letras que lhe abriu as portas da gaiola do tempo e o ensinaram a voar...
A partida do professor Bento dos Santos Filho, aos 62 anos de idade, deixa um rastro de tristeza e dor em especial à família, esposa e filhos, e ao grande rol de amigos que arregimentou desde o tempo que aqui chegou e, agora deixa um legado, uma história cheia de luzes e cores que construiu.
Desde jovem, o caçula da família, sempre
teve habilidade com os pincéis. Diferente da profissão do pai que era
comerciante, seus sonhos eram outros, porém soube aproveitar muito bem a
infância e juventude observando as cores do dia pela fresta do
antigo bar de tábuas, de propriedade de seu pai, Bento dos Santos.
Chegou em Brasilândia com sua família com apenas dois anos de idade. Devido à familiaridade com o pincel, muito cedo dedicou-se à pintura, sendo lhe presenteado o alcunha de Peninha, apelido que o acompanhou pelo resto da vida.
Até os quinze anos observou o mundo através do olhar de seu pai, vendo-o atender clientes e amigos no balcão do Empório São Bento, localizado na Avenida São José, onde depois, as lembranças que ficaram foram o velho casarão histórico chamado de tábua lascada, que se encontra até hoje encravado na memória dos mais antigos.
Bento Filho,
o Peninha era filho de Jovelina
Batista dos Santos e Bento dos Santos,
casal que formou uma família sólida e feliz, e que integrava os irmãos Jandira,
Aparecida, Leonor, Romualdo, Celina, e o Valdivino, igualmente pintor.
Sempre muito bem integrado com a comunidade estudantil de Brasilândia, tinha gosto pelo basquete e vôlei, tendo participado no ano de 1990, do 1º Festival Interno destes esportes realizado na quadra de esportes da Escola Estadual Adilson Alves da Silva, no tempo do treinador, Prof. Jeferson Alves da Silva. Registrou a imprensa na época que o atleta Bento dos Santos Filho foi o cestinha daquele torneio com 47 cestas marcadas para o time dos Inflamáveis.
No campo profissional Peninha atuou por vários anos como diretor adjunto da Secretaria Municipal de Assistência Social, sendo que, a partir do ano de 2013, entre outras atividades, participou da entrega dez violões elétricos, caixas amplificadas e um micro system aos estudantes que recebiam aulas de música na época pelo Prof. Wanderlei Bueno (Wando).
Sempre muito comprometido com o trabalho sério que realizava, o Peninha, na condição de diretor do Projeto Educar para a Vida, não deixou passar a oportunidade para lembrar a todos que os instrumentos há muito eram aguardados pelas crianças. Fomos colocados a produzir e não nos deram adubo. Agora, alguém está investindo em vocês, investindo na qualidade do tempo que permanecem no projeto, disse. Peninha manteve-se sempre como um grande incentivador desta iniciativa que chegou na época a reunir 76 alunos matriculados.
Com um olhar de visão e prática de pedagogo, Peninha dedicou-se de corpo e alma a esse projeto com sabedoria e discernimento: Um dos maiores desafios do Projeto, explicou certa vez, será resgatar a identidade cultural das crianças, principalmente em relação ao nosso Estado. Muitas crianças desconhecem a própria cultura do Estado e vamos trabalhar isso dentro da sala de aula, sonhou.
Numa época pré-tecnológica onde o grafismo feito à mão era o que de melhor possuíamos para expressar a criatividade visual, quem não se lembra dos painéis e anúncios pintados no frontispício do comércio e as faixas encomendadas por escolas e entidades, primorosamente desenhadas pelo Peninha anunciando campanhas, eventos e saudação a quem quer que fosse, expressando assim seu profissionalismo e dedicação na arte das cores e dos pincéis...
A vida, entretanto, não tem tempo de olhar para o passado. Ela segue em frente. De súbito, nos chega o chamado e quase nem nos damos conta. E a vida se vai. Por isso lamentamos e choramos a dor da partida…
Sob a égide da fé, restam os feitos do homem; suas orações e suas boa ações; sua história e sua dignidade. E lá encontramos o amigo Peninha colocando na mala de viagem o bem que realizou na Escola Estadual Debrasa, depois cursando Letras na Faculdade Integradas Rui Barbosa-FIRB, de Andradina/SP, e por fim rodando pelas Escolas Rurais do Município como professor e diretor, rasgando estradas e as colorindo com cores de infinito...
Até alçar voo mais alto, como obreiro da Igreja
Assembleia de Deus em Três lagoas/MS, onde lá se fixou e de onde Deus
decidiu busca-lo para junto de si. Então partiu com a missão de revitalizar com seus pincéis as cores celestes, para que o nosso Céu ficasse mais colorido e bonito, mais sorridente e feliz. Descanse em paz amigo Prof.
Bento dos Santos Filho, carinhosamente, Peninha.
Fonte: Jornal Independente Notícias, 2004: Tábua Lascada. Sr. Cícero Pereira dos Santos, no Facebook; Dutra, C.A.S. História e Memória de Brasilândia/MS - Volume I - Pioneiros, página 39; (8) Bento Santos Filho | LinkedIn
Parabéns Dr Carlito, como sempre abraçando ao próximo com suas homenagens.
ResponderExcluirLinda homenagem. Descanse nos braços do Senhor 🙏🏻🙏🏻🙏🏻
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