terça-feira, 4 de março de 2025

 

Fraternidade, Meio Ambiente e Cuidado

Carlos Alberto dos Santos Dutra

 

Todos os anos, desde 1964, a Campanha da Fraternidade, orientada pela CNBB[1] aborda temas intimamente ligados à vida dos brasileiros, sobretudo sua realidade social, suas condições de vida e os desafios do mundo que nos rodeia.

Assim foram, durante 61 anos, lançados no coração dos fieis e sociedade, reflexões e mensagens, admoestações e incentivo sobre os diversos temas que envolvem a condição humana. Todos os anos, por ocasião da Quaresma ainda é possível perceber pulsando dentro do peito de cada cristão uma chama de esperança conclamando, por inspiração da Palavra de Deus, a deitar os olhos e ver as belezas que Deus criou e  também os principais problemas que afligem a sociedade e tudo que ela produz e reproduz, e que merece nossa atenção.

Neste ano de 2025, o tema escolhido para a Campanha da Fraternidade não poderia ter sido diferente, por ser atual, urgente e necessário. Fraternidade e Ecologia Integral é o tema, acompanhado do lema extraído da Bíblia (Gênesis 1,31): Deus viu que tudo era muito bom. Motivação que busca, nos quarenta dias que antecedem a Páscoa, a força do Espírito divino para abrir os olhos da fé e mirar a realidade socioambiental.

Chamado que também atinge o nosso julgar nos fazendo reconhecer que cada um de nós têm responsabilidade e oportunidade de conversão, num processo que abrange homens e mulheres, governantes e governados integralmente, sensibilizando os irmãos a ouvir o grito da terra, da água e do ar; o grito dos pobres e miseráveis de todo o lugar; aqueles que são os mais sofredores e impotentes vítimas das mudanças climáticas.

A Igreja Católica no Brasil, ao lado das coirmãs que integram o CONIC[2] e demais confissões religiosas, organismos e entidades governamentais e não governamentais solidárias, em tempo recente, motivada pela Encíclica Laudato Si, do Papa Francisco, e o Sínodo da Amazônia, vem percorrendo este árduo caminho denunciando o modo de vida atual e os males globais que estão destruindo o planeta.

Boa oportunidade para todos refletir sobre o nosso modo de vida, no mais das vezes pautado no consumismo, precarização e exploração sem limite, o que tem gerado uma complexa crise socioambiental à beira da exaustão do recursos naturais e perspectiva zero para o futuro, uma vez que tudo está interligado.

Razão pela qual o principal objetivo do alerta da Campanha é apontar para as causas da grave crise climática global cujos efeitos estão a exigir, de forma profunda, que alteremos o nosso modo de viver. E para que não caiamos nas falsas soluções, muitas vezes fomentadas em nome de transposição energética cujas fontes renováveis e sustentáveis são vistas apenas sob a ótica mercantil.

Todo o empenho eclesial, registre-se, tem a intenção de despertar no cristão o seu agir para promover uma ecologia integral que conecta a fé cristã com responsabilidade socioambiental. Inspiração que brota das palavras d’Aquele que tudo criou e viu que tudo era muito bom (Gênesis, 1,31). 

E lá está o coração misericordioso de Deus abraçando o coração distante da humanidade, alimentando a sua espiritualidade, de muitas e diversas formas, dando-lhes força para intervir, já a partir da realidade local onde vivem, enfrentando os desafios ambientais na ótica da justiça social e o cuidado com o ser humano mais carente e necessitado de proteção, motivo e caminho para a nossa conversão.

Estamos no decênio decisivo para o planeta! Ou mudamos, convertemo-nos, ou provocaremos com nossas atitudes individuais e coletivas um colapso planetário. Já estamos experimentando seu prenúncio nas grandes catástrofes que assolam o nosso país. E não existe planeta reserva! Só temos este! E, embora ele viva sem nós, nós não vivemos sem ele.

Ainda há tempo, mas o tempo é agora! É preciso urgente conversão ecológica: passar da lógica extrativista, que contempla a terra como um reservatório sem fim de recursos, onde podemos retirar tudo aquilo que quisermos, como quisermos e quanto quisermos, para uma lógica do cuidado.

(...) A Ecologia integral é um bem espiritual. Professamos, pois, com alegria e gratidão ao nosso Deus que criou tudo com seu olhar amoroso. Todos os elementos materiais são bons, se orientados para a salvação dos seres humanos e de todas as criaturas. Assim, Deus viu que tudo era muito bom.

Que as Cinzas que serão colocadas sobre nossas cabeças nesta Quarta-feira de abertura da Campanha da Fraternidade e início deste Tempo Quaresmal seja um gesto e sinal de penitência e conversão, e nos inspire e recorde os nossos corações e mentes do quão frágil é o ser humano pois do pó viemos e ao pó voltaremos (Gênesis 3:19).

 

Brasilândia/MS, 04 de março de 2025. 

Véspera de Quarta-feira de Cinzas. Em memória dos 800 anos da composição do Cântico das Criaturas, de São Francisco de Assis.

 

Fonte: Texto Base da Campanha da Fraternidade 2025, CNBB; Campanha da Fraternidade 2025: conheça o tema, a identidade visual e a oração - CNBBCampanha da Fraternidade 2025 - ANECTerritório e energia: crítica da transição energética | Revista da ANPEGE

 



[1] -A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) é uma instituição permanente que reúne os Bispos católicos do Brasil que, conforme o Código de Direito Canônico "exercem conjuntamente certas funções pastorais em favor dos fiéis do seu território, a fim de promover o maior bem que a Igreja proporciona aos homens, principalmente em formas e modalidades de apostolado devidamente adaptadas às circunstâncias de tempo e lugar, de acordo com o direito" (Cân. 447).

[2] - O Conselho Nacional de Igrejas Cristã do Brasil (CONIC) é composto pela Aliança de Batistas do Brasil, Igreja Católica Apostólica Romana, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e Igreja Presbiteriana Unida, o CONIC nasceu no ano de 1982, em Porto Alegre (RS).



domingo, 2 de março de 2025

 

O meio ambiente de Brasilândia e seus desafios

Carlos Alberto dos Santos Dutra


 

Falar em meio ambiente, dependendo dos lábios de onde brotam as palavras, pode soar inocente, romântico, politicamente correto ou a partir de quem, consciente, está preocupado com a preservação do ecossistema e a sobrevivência da espécie humana.

Governos do mundo inteiro têm realizado reuniões e encontros globais para minimizar os chamados efeitos climáticos que, de forma perene e célere, têm colocado o planeta em regime de alerta exigindo avanços urgentes em suas legislações e governanças.

No Brasil isso não seria diferente, afinal, abrigamos o pulmão do mundo, vociferam anjos imperialistas de todos os lados exigindo de nós medidas que protejam esse legado da humanidade, reservando-o para uso e gozo das gerações futuras sobreviventes, buscando frear o inexorável desenvolvimento extrativista e predador dos recursos naturais sem qualquer medida.

Diante de descomunal desafio, eis que, num minúsculo ponto no mapa mundi, entre a latitude de 21º15'21” Sul e longitude de 52°02'13” Oeste, uma administração pública desperta dos braços do passado ambiental de Morfeu, e dá ouvidos para os reclames de sua gente que há anos gritava insurgente contra o descaso oficial para com sua casa comum, a natureza.

A iniciativa pioneira desta nova administração municipal de Brasilândia/MS, que tem à frente a prefeita municipal Márcia Regina do Amaral Schio e o vice-prefeito Fábio Toledo Leite da Silva, com a criação de uma Secretaria dedicada ao Meio Ambiente e ao Turismo, revela de antemão, o quanto de carinho, respeito e cuidado haverá ela e seu secretariado de ter com a paisagem que circunda nossa casa, nossos campos e a cidade; ainda que tardiamente.

Um grande desafio, entretanto, deverá ser enfrentado com a implantação desta nova instância de governança: as exigências climáticas que estão na ordem do dia e reclamam ações urgentes de mitigação e que nos impele a desenvolver ações e projetos sempre novos de proteção e bem estar ambiental para os munícipes.

Ações já delineadas no plano de governo da nova administração, que vão desde a qualidade e preservação do curso das águas de nossos rios e córregos, até o monitoramento e fiscalização do uso do solo e seus resíduos, da vida das florestas, das áreas verdes de lazer, e as unidades de conservação.

Havemos de convir, entretanto que, em matéria de meio ambiente, somos todos dedicados aprendizes cujas melhores iniciativas ainda estão guardadas na algibeira de nossos corações. E cujas práticas ainda deverão ser implementadas, passando, sobretudo pela educação ambiental de nós mesmos, o que só será conseguido se caminharmos de mãos dadas com responsabilidade, criatividade e firmeza dos passos, no rumo do bem estar econômico, social e ambiental de nossa comunidade.

Que a paixão pelo meio ambiente seja o motor da nova equipe técnica que será montada, com capacidade, comprometimento e estímulo comum para desenvolver o potencial transformador deste lugar, o que será conseguido se todos os segmentos que compõem esta comunidade colaborar. 

Porque para a natureza não importa o que pensamos ou sentimos, importa é o que fazemos (INR).

 

Brasilândia/MS, 2 de março de 2025.

30º Aniversário (02/03/1995) de Inauguração da Escola Municipal Paulo Simões Braga. Gestão de Prefeita Neuza Paulino Maia.