sábado, 25 de setembro de 2021

Dom Izidoro Kosinski: um pastoralista da terra no Céu
Carlos Alberto dos Santos Dutra








Hilário Paulus (CIMI-MS), Dom Izidoro (Bispo de Três Lagoas), Padre Lauri (Brasilândia), missionário Carlito (Cimi-Brasilândia), Dr. Jorge Ney (advogado-Cimi), Irmã Nair (CPT) em 1987 (Foto: Pe. Clístenes Natal Bósio).


O jornalista João Maria Vicente, ainda pelo HojeMS, no ano de 2008 escreveu um longo artigo contando o surgimento da pastoral social e da terra e os primeiros passos de Dom Izidoro Kosinski na Diocese de Três Lagoas.

Passados 9 anos daqueles escritos, por ocasião da morte deste Bispo Emérito de Três Lagoas, em 15 de setembro de 2017, a melhor homenagem que a ele podemos prestar é relembrar a trajetória deste servo sofredor que se dedicou à Cristo na figura do pobre e dos excluídos do ser e do ter.

Desde a sua chegada a Três Lagoas, o jovem bispo de apenas 49 anos de idade, deixou bem claro a que veio, logo voltando os olhos e os braços para a promoção social dos despojados da terra, campesinos e indígenas, barranqueiros e canavieiros, acampados e explorados do trabalho e dos direitos humanos.

Com sua chegada em 1981,  o rosto da Diocese de Três Lagoas assumiu novas feições, passando a se dedicar, a exemplo de Cristo, ao projeto de salvação dos mais pobres. Foi ele que criou a Comissão Pastoral da Terra, a CPT, órgão da CNBB, da Igreja Católica, em Três Lagoas.

Segundo o jornalista José Maria Vicente, já existia a CPT em Mato Grosso do Sul, mas, preocupado em dinamizar a pastoral na Diocese, Dom Izidoro avançou e criou aqui uma coordenação diocesana do órgão. Para tanto, convidou agentes de pastoral de outras regiões, como o Rio Grande do Sul, com Geni Fávaro e Luiz Ernesto Branbatti, o Chico Branbatti.

Com espírito de humildade e liderança, Dom Izidoro estava sempre animando a equipe de agentes de pastoral no trabalho de assistência aos ribeirinhos do rio Paraná e grupamentos de sem terra da região. Garantindo recursos oriundos da solidariedade cristã, frutos de seus contatos sobretudo de além mar. Em 1982 por ocasião da grande enchente do rio Paraná, a Diocese, através da CPT direciona seus trabalhos para defender as reivindicações dos flagelados e atingidos pela barragem de Porto Primavera, numa luta que perdurou durante 20 anos.

E lá estava Dom Izidoro, como verdadeiro pastor, motivando e assessorando a fundação de sindicatos de trabalhadores rurais na região do Bolsão. Mais alguns meses e lá o encontramos novamente buscando a colaboração do Instituto Administrativo Jesus Bom Pastor (IAJES) de Andradina-SP para fortalecer a frente de trabalho da Pastoral Social na Diocese. Acolhe então o casal João Carlos Oliveri e a assistente social Bel Prates Oliveri, logo em seguida chegando também a agente de pastoral Belkiss Kudlavicz, entre outros.

A partir de 1986, foi a vez do CIMI, a ser criado na Diocese com a coordenação localizada na Paróquia Cristo Bom Pastor de Brasilândia, tendo a frente o Padre Lauri Vital Bósio e o teólogo missionário, depois ordenado diácono, Carlos Alberto dos Santos Dutra, dedicando-se ao resgate etnohistórico da comunidade indígena Ofaié Xavante.

Na luta pelo território tradicional da comunidade Ofaié, o posicionamento profético de Dom Izidoro Kosinski em favor da defesa da vida e dos direitos à terra destes indígenas, foi decisivo para a sobrevivência e posterior reconhecimento oficial desta etnia, perseguida e massacrada ao longos dos anos e que, com o apoio da Igreja Católica, soergueu-se das cinzas.

O trabalho, tanto da Pastoral Social, CPT, CIMI. CEBI, CEBs, Direitos Humanos, entre outras pastorais durante dez anos recebeu o apoio de Dom Izidoro e de alguns padres e religiosas da Diocese de Três Lagoas, a ponto deste segmento ter sido incluído por vários anos como prioridade nos Planos Pastorais da Diocese. Isso fez com que a Diocese neste período alcançasse o reconhecimento no Estado de Mato Grosso do Sul e em âmbito nacional, pela sua atuação pastoral de vanguarda na defesa dos direitos humanos e dos povos indígenas e campesinos.

Mas como se diz: "para cada ação há uma reação", o trabalho de apoio aos deserdados da sorte, começou a incomodar os mais acomodados. Acolher sem-terra no pátio da Diocese, celebrar com os negros, visitar aldeias e pregar uma vida simples e desapegada do consumo, foi demais para uma sociedade ainda em evolução e encantada com os logros emergente do capital.

Em resposta à prática comprometida em favor dos mais pobres, levada com serenidade pelo Bispo, discípulo de São Vicente de Paulo, se inicia então uma reação conservadora contra os agentes de pastoral e contra Dom Izidoro, sendo acusado de comunista por colunistas da imprensa local e regional.

E lá encontramos o servo sofredor, agora, à semelhança do Crucificado, sendo injuriado e perseguido, agredido fisicamente e torturado por estranhos em sua própria casa, chegando quase à morte. Depois vieram as pressões internas, até do próprio clero, contra a linha de pastoral defendida por Dom Izidoro, fazendo-o, aos poucos esmorecer. Por fim, em 1992, encerrou o trabalho de todas as chamadas pastorais sociais ligadas à Diocese.

Não obstante, no curso de seus 85 anos de vida, Dom Izidoro Kosinski, pode-se dizer, tranquilamente ele cumpriu a sua missão fazendo valer o lema de sua ordenação episcopal: "Evangelizar os Pobres". Nascido no dia 1º de abril de 1932, natural da cidade de Araucária-PR, ele foi ordenado Bispo em 24 de julho de 1981 e sua posse na Diocese de Três Lagoas aconteceu no dia 9 de agosto daquele ano.

Na época de seu falecimento, em nota o Chanceler da Diocese de Três Lagoas, Diác. Roberto Rabelati informava que Dom Izidoro Kosinski conduziu a Diocese durante 27 anos e neste período deixou um importante legado de ensinamentos voltados para os mais humildes e necessitados. Pioneiro na criação do informativo Vida Diocesana que nasceu junto com a constituição da Diocese de Três Lagoas, buscou sempre manter a transparência nas tomadas de decisões da Igreja e aproximar as pessoas das ações pastorais.

Apesar dos obstáculos, Dom Izidoro sempre se manteve ao lado dos desfavorecidos e batalhou  pela garantia dos direitos dos trabalhadores e a posse da terra aos indígenas e aos campesinos. Viveu um tempo em que suas ações foram consequentes e ajudou a melhorar o mundo, tornando-o mais fraterno e solidário: estendeu as mãos aos caídos e estimulou a muitos a caminhar.

Que Deus infinitamente misericordioso receba com imenso carinho este Bom Pastor que dedicou sua vida generosamente aos irmãos e que partiu no dia 15 de setembro de 2017, terminando sua peregrinação nesse mundo e pode cruzar sereno os umbrais da esperança na glória definitiva. Dom Izidoro Kosinski, vive!









Dom Izidoro e Padre Lauri na barranca do rio Paraná junto ao acampamento dos índios Ofaié, de Brasilândia-MS, 1987










Diácono Carlito, Padre Lauri e Dom Izidoro: a Igreja completa, em 2007.

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