O 'patriotismo' do TJMS, as
medalhas e a (in)justiça social.
Carlos Alberto dos Santos Dutra
O Sete de Setembro promete grandes manifestações populares. Pró e contra o atual governo Bolsonaro. Enquanto alguns derramam suor e lágrimas, e caminham pelas ruas e praças defendendo direitos; outros desfilam em carro aberto e motocicletas acenando para o seu líder buzugo de um país desencantado.
Lá, distante do burburinho da urbe, porém, em seus gabinetes refrigerados, os vitrais estão moucos. Porém, muito vivos, pelos meandros do poder a judicatura se move silenciosa, sem causar ruído. Uma a uma as pedras do tabuleiro das instituições vão tomando forma.
A notícia é do Campo Grande News e é de estarrecer. Como se vivêssemos num país das maravilhas, o Tribunal de Justiça de Mato Grossos do Sul anuncia que irá gastar a bagatela de 1,1 milhão de reais em medalhas para homenagear seus pares.
Sim, medalhas. Peças de metais, explica o dicionário, frequentemente circular, cunhada para celebrar algum acontecimento memorável, podendo conter figuras e motivos políticos, sociais ou religiosos.
Em que pese o alto valor afetivo e simbólico que tal comenda possa representar para a heráldica pessoal de cada um dos obreiros membros agraciados, a iniciativa é uma verecúndia.
Num país e estado onde a fome campeia, a injustiça impera e o direito vive de costas para a justiça, à la Kelsen, esses gastos publicados no Diário Oficial do Estado desta segunda-feira, dia 30 de agosto de 2021, são uma afronta aos cidadãos.
Feliz está a empresa de responsabilidade limitada-EIRELI, Nova Formalta Indústria e Comércio de Materiais Militares Ltda, com a compra deste material de aparência não bélica que servirá para conferir a honra da Ordem do Mérito Judiciário do Estado de Mato Grosso do Sul e dos Bons Serviços Judiciários.
Tal comenda foi criada recentemente, em maio deste ano, pelo desembargador Carlos Eduardo Contar, que assumiu o comando do Tribunal Guaicuru em janeiro deste ano. A nova condecoração criada, segundo o jornal, tem nomenclatura semelhante às usadas na maçonaria, uma vez que poderão ser outorgados com as insígnias de grã-cruz, grande oficial, comendador e cavaleiro.
Desde que foi empossado presidente do Tribunal de Justiça, o novo e alto servidor público implantou clima de mudança no Judiciário sul-mato-grossense, a começar pela reforma da ala da presidência, obra orçada em até R$ 328,5 mil reais, de acordo com publicação do dia 4 de março no Diário Oficial.
Como se vivesse num conto de fadas, para a presidência, foram gastos 22,4 mil reais na aquisição na de 4 móveis chiques, detalha o jornal: escrivaninha clássica em madeira maciça, poltrona king em madeira nobre, mesa auxiliar estilo Luis XV e sofá Chesterfield de 3 lugares revestido em linho cor cru.
Como se não bastasse todo o epinício, conclui a matéria do Campo Grande News, assinada por Anahi Zurutuka, o TJMS vai às compras de uniformes de alto padrão para os servidores. Logomarca e bandeira também foram trocadas.
Num tempo de pandemia, crise institucional e econômica que assola milhões de brasileiros, muitos deles, não tendo um prato de comida para comer; num tempo onde as mudanças climáticas exigem de cada ente da federação, empresário e cidadão, medidas que busquem minimizar a crise hídrica, energética e os efeitos deletérios na economia...
Diante de um quadro pós-pandemia onde a maior parte dos brasileiros têm de conviver com uma inflação e custo de vida nunca visto nos últimos 20 anos, tais gastos propostos configura acinte ao país e demonstração de quão distantes estamos de ver ocupando no alto dos poderes da República, a ética, o patriotismo e o comprometimento com a justiça social.
Uma vulpina lástima.
Brasilândia/MS, 1º de setembro
de 2021.
Dia do Professor de Educação
Física
Fonte: https://www.campograndenews.com.br/cidades/capital/tjms-gastara-r-1-1-milhao-so-em-medalhas-para-homenagens, acesso em 31.Ago.2021.
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