Marco Antônio: o pólen, a esperança e o adeus.
Carlos Alberto dos Santos Dutra
Todos os dias eles partem. Também os que estão
próximo. Alguns, nem ficamos sabendo. E quando isso acontece, um aperto no
coração nos consome.
Para os amigos e conhecidos resta o consolo e a resignação.
E lembrar o que aquela pessoa representou para cada um ao longo do tempo.
No caso deste nosso irmão que ontem partiu, as
lembranças, de minha parte, são poucas, mas não menos significativas, e por isso merecem ser divididas. Uma singela homenagem que presto ao amigo motivada por uma época em que nossos caminhos se cruzaram.
Num dia que já vai longe, o lote em frente a minha casa se encontrava diferente. Se antes o mato era o senhor daquele terreno, naquele dia ele se
apresentava de outra forma. Havia movimentação no seu interior.
E lá estava a bulha de uma enxada, deitando o colonião
e erva daninha que haviam tomado conta daquela área. Propriedade que se tornara desafio até para os
agentes de endemias no combate ao mosquito da dengue poder adentrá-lo.
O portão estava entreaberto e este escrevinhador se
pôs a observar do que se tratava. E lá estava ele, um homem de aparência
jovem, em atitude dinâmica que roçava com vigor a vegetação, limpando expressiva parte do
terreno que aos poucos se transformava.
--Que bom --, pensei. E voltei para os afazeres da
minha casa.
No dia seguinte, novamente observei que o mesmo
senhor, continuava sua obra de limpeza. Só que no pedaço onde havia limpado, vi ali serem fixados caibros e estacas de madeira, dando a
entender que logo, naquele lugar, um barraco seria erguido.
Dito e feito. Dias depois lá estava o barraco pronto, de lona e palhas de coqueiro, tendo a sua volta, rodeado quase a totalidade do lote completamente limpo.
--Mais um sem-teto que encontrou na caridade alheia conforto
para seu exílio --, pensei.
Os dias se passaram e, depois de meses, eis que olho
para aquele lote e percebo ramos verdes que quase alcançavam o muro ao seu redor.
Eram pés de mandiocas, viçosos que, ao balançar do vento, agitavam suas folhas revelando
beleza e frescor.
Vou até o local e encontro aquele mesmo senhor, envolvido na sua faina diária. Logo que me vê pede para eu me aproximar. Ele me conta um pouco
da sua história e me mostra com brilho nos olhos e satisfação a sua modesta plantação.
Não mora no barraco, como eu havia pensado. Ali guardava enxada, rastelo, foice, carriola, e insumos para o preparo das mudas que ele
mesmo plantava no lugar. Além da mandioca, cultivava também verduras,
tomates, abóboras e até milho.
Aquele homem singular, percebi, era uma prova viva da resiliência. Parecia não se importar com a doença que era portador e que
aos poucos lhe corroía a saúde e roubava-lhe as forças.
Certo dia, lá encontro ele, com um sorriso no rosto no portão de minha casa entregando-me um saco de mandioca produzida no terreno que cultivou.
Estava ali um exemplo de generosidade, de um ser humano alegre transbordando humanidade. Superando as
dores do corpo, gerando vida e felicidade aos outros, enquanto se agarra à
esperança que o persegue, graças ao auxílio dos remédios.
Nas conversas que travamos, queixava-se das
dificuldades que enfrentava, pois o tratamento de qualquer doença terminal sempre é um desafio, sobretudo para os mais pobres que só contam com o apoio da
família.
As forças desse guerreiro, pelo visto, aos poucos foram sumindo. Até que um dia, o terreno em frente de minha casa silenciou.
Ruídos no portão desta propriedade se ouve, e
o escrevinhador viu retirarem de lá os pertences daquele jovem por alguns de seus familiares, de certo. E tudo
silenciou.
Depois disso nunca mais o vi e tampouco soube de seu destino.
Hoje fiquei sabendo que seu nome era Marco Antônio da Silva, nascido no dia 15 de setembro de 1970, na cidade de Nova Canaã Paulista.
Filho de dona Zulmira e seu José, popular Dé (in memoriam), este espetacular cidadão e pessoa, um dia após completar seus 51
anos de vida, se despediu da família e dos amigos.
Para aqueles que o viram, nos últimos anos, frequentando sala
de espera de postos de saúde e hospitais, por vezes implorando atendimento e fornecimento de medicamento para aliviar
suas dores, saibam o quanto de vida e esperança ele semeou por aí.
Saibam também o quanto este homem de olhar doce e um
coração jovem buscou plantar no seio da família e dos amigos: um pólen de
arco-íris na plantação que ao longo de seus dias cultivou e viu florir.
Descanse em paz lutador Marco Antônio sob a sombra de uma frondosa árvore, na sua nova morada: a Nova Canaã Celeste, chamada Eternidade.
Brasilândia/MS, 17 de setembro de 2021.
Foto: Facebook/Fernanda Manari, 16/09/2021.
Parabéns sr.Carlito pelo carinho com nossos irmãos brasilandenses, meus sinceros sentimentos a familia e amigos do sr. marco neste momento de muita dor.
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