terça-feira, 21 de setembro de 2021

 

O Legislativo municipal e a oportunidade de ler e escrever a própria história.

Carlos Alberto dos Santos Dutra

 


Estive na sessão da Câmara Municipal de Brasilândia no dia 20 de setembro último. Em meio às homenagens conferidas à ASSOBRAA pelo seu aniversário de fundação e à saudosa dona Perpétua Uchoa de Lima, cujo nome foi conferido a uma rua de nossa cidade, o discurso preparado por este escrevinhador cedeu lugar àquelas honrarias, mais importantes e de alto valor cívico e sentimental para os que se encontravam ali presentes.

Encontrava-me ali tão somente para agradecer pessoalmente aos nobres vereadores terem aprovado o Projeto de Lei nº 12/2021, que foi transformado na Lei nº 2.902/2021, em 14 de setembro de 2021, pelo prefeito municipal, Dr. Antônio de Pádua Thiago, que garantirá ao Poder Legislativo poder patrocinar a impressão do 2º volume da coleção História e Memória de Brasilândia, de autoria deste escrevinhador.

Há um pensamento atribuído a Voltaire, mas que na verdade pertence a Tagore que diz: um livro aberto é um cérebro que fala; fechado, é um amigo que espera; esquecido, uma alma que perdoa; destruído, um coração que chora. A vida de um escritor tem um pouco de cada uma dessas máximas que resumem o destino que damos às nossas obras.

Comecemos pelo livro destruído, esquecido e fechado. Mais do que chorar, perdoar ou esperar, o que se tem neste caso é uma porta que se fecha; um saber que ficou aprisionado e não teve asas para voar. Sim, porque, ao abrir um livro, mil ideias, e saberes se colocam à disposição de quem lê. Pois o mundo entra em nós pelos olhos.

Sob a ótica do leitor, através da leitura podemos fazer viagens que nunca pensamos: visitar países, conhecer costumes, e saber da diversidade do mundo que nos rodeia. E sob a ótica do escritor, mais que isso. Através dos livros, para quem escreve, um leque de possibilidades se abrem; tudo dependem do dom e do carisma de cada escritor.

Alguns têm facilidade para escrever romances de ficção, outros escrevem poesias, canções. Quanto ao estilo literário, por exemplo, eu tenho mais facilidade para escrever sobre a realidade em forma de crônicas. Habilidade que foi se aperfeiçoando a partir do momento em que o ofício de historiador passou a acompanhar meus passos. O ambiente de trabalho, o que circunda a nossa volta e as reações sociais é que nos motiva, tudo isso forma o conteúdo daquilo que se pretende escrever.

O viés social de meus escritos denuncia isso, pois desde muito cedo ele me acompanha. O ex-juíz de Brasilândia, Dr. Berlange, lá no ano de 1998, quando fez a apresentação do meu segundo livro Razão e Utopia, textos rebeldes já havia percebido isso. Assim ele escreveu:

O autor, Carlito Dutra, é uma presença forte e incômoda nesta região sul-mato-grossense que se imbrica com o noroeste paulista à orla barranqueira do rio Paraná. Permanente armado de dúvidas certeiras mantém seus sentidos conectados ao mundo. Embalado por um sonho quase juvenil, tem-se revelado mestre em medir e expor o tamanho da distância que há entre intenções e gestor, no discurso e na prática dos agentes políticos que ocupam funções institucionais de poder...

É isso que motivou este escrevinhador produzir tantos livros. E também pela riqueza de histórias e informações, fotografias e acontecimentos que foram se apresentando ao longo do caminho que fui trilhando. Em mais de 30 anos cruzando estradas por aqui, a rica realidade de Brasilândia foi como um despertar. E o pesquisador sempre atento.

É esse o espírito da obra que os senhores vereadores estão patrocinando e a razão de eu estar aqui hoje fazendo esse pronunciamento. Digo, pois, palavras de agradecimento ao parlamento brasilandense que entendeu a importância do trabalho realizado até aqui por este escritor, patrocinando sua recente obra. Trata-se na verdade do 2º volume de uma coleção de 5 volumes que se encontram em fase final de construção.

E fala da História e Memória de Brasilândia, sob o viés do Patrimônio, de nossa cidade. Desde a cultura até as instituições, talentos e êxitos locais que projetaram e ainda projetam a cidade no campo da música, da arte, da dança e do teatro. Discorre sobre as festas, prêmios, eventos e aniversários que, ao longo dos 50 anos de existência do município de Brasilândia a cidade comemorou.

É mais que uma volta ao passado. É reviver esses momentos conferindo-lhes significado e importância. É valorizar e homenagear as pessoas, e inscrevê-las na heráldica da gloria, de realizações que foram pontuadas de sentimento de vida, lutas e vitórias de um povo dócil e gentil. É esse legado que a Câmara Municipal de Brasilândia, ao garantir recursos para a publicação deste 2º volume deixa para a posteridade. Facultando à população poder ter acesso a esse conjunto de informações.

A iniciativa referendada por todos os nobres edis desta Casa de Leis, ao propor e aprovar o projeto de lei que garantiu essa façanha pioneira no campo da cultura e conhecimento literário merece toda a nossa homenagem e agradecimento. Honraria que, no mesmo grau, deve ser conferido ao prefeito municipal que sancionou a lei que possibilitou esse patrocínio. Do meu legado, Dr. Antônio de Pádua Thiago, com este gesto, se une aos ex-prefeitos Prof. José Cândido da Silva e Neuza Paulino Maia que igualmente patrocinaram obras deste pesquisador que vos fala.

Nada mais gratificante saber que sua obra mais recente estará em breve ao alcance de muitos brasilandenses por especial deferência desta Casa. Os senhores vereadores não patrocinaram simplesmente mais um livro para o acervo das bibliotecas; vossas excelências, ao oportunizar a divulgação desta obra, tornam-se também autores da própria história semeando conhecimento e cultura pelos campos e cerrados desta nossa cidade esperança. Obrigado. Muito obrigado a todos.

 

Brasilândia/MS, 20 de setembro de 2021.


Aos Vereadores Selma de Souza Alquaz Silva, Aurinéia de Almeida Halsback, Patrícia Costa Jardim, Maria Jovelina da Silva, Márcia Regina do Amaral Schio, José Quintino de Souza, Nivaldo Nunes, Joaquim Martos de Moraes e Edson Pereira Costa. 

Foto: Patrícia Acunha/PMB, 2021

Notícia: https://www.brasilandia.ms.gov.br/portal/noticias/0/3/2483/lei-autoriza-saldo-excedente-do-repasse-do-duodecimo-para-custear-impressao-de-livro


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