terça-feira, 21 de setembro de 2021

 

Dona Perpétua, as homenagens e a Câmara Municipal

Carlos Alberto dos Santos Dutra


 








A pia está repleta de louça. Panelas, pratos, copos e garfos. É final de mais um almoço onde a família está reunida. Minutos antes, o chefe da casa encontrava-se na cabeceira da mesa e os filhos ao redor com os olhos fixos naquela porta, no desvão entre a cozinha e a sala de refeições. A casa simples, de madeira, transpirava um ar de nostalgia e felicidade, misturando-se ao aroma tépido que exalava do alimento prestes a ser servido.

E eis que ela surge com aqueles pratos saborosos nas mãos. Um, depois, outros, e por fim o prato principal: o sorriso daquela fada, de olhar meigo e cabisbaixo, levemente encabulada pela recepção da família que lhe saudava naquele momento. Ela era a rainha do lar. Todos comiam, todos sorriam e a felicidade morava ali, bem pertinho daqueles corações.

A espuma escorre pela borda do prato e levemente aquela mão, já com o peso da idade,  não segura com tanta firmeza a esponja enquanto lava a louça, que a cada dia fica menor. As conversas ao redor da mesa silenciam, a cabeceira da mesa se encontra vazia e os filhos, um a um vão deixando aquela casa encantada, constituem suas famílias, seguem seus rumos, deixando para trás somente a saudade.

Porém, mães fadas, rendeiras, lavadeiras, costureiras, cozinheiras, nutrizes, não lhes é permitido viver de lembranças e desaparecer. Sobretudo quando uma mãe recebe o nome de Perpétua. Vieram ao mundo para ficar. São perenes como a rocha que tudo suporta, até mesmo a ausência e a dor. E também se alegram com a chuva, o sorriso dos filhos e as homenagens.

Sim, homenagem é o que dona Perpétua (dona Peta) recebeu no dia de ontem (dia 20) na Câmara Municipal de Brasilândia. Por meio do Projeto de Lei nº 15/2021, de 20 de setembro de 2021, apresentado pela vereadora Aurineia de Almeida Halsback, a rua Projetada 04, do bairro Juvenal Serafim Uchoa, recebeu o nome de Perpétua Uchôa de Lima. Orgulho para uma das filhas do saudoso Antônio Serafim Uchôa, tronco antigo cearense que por aqui se aquerenciou no ano de 1967, família pioneira de nossa cidade.

Nascida em 6 de maio de 1937 na cidade Iguatu-CE, dona Perpétua era casada com Juvenal Uchoa de Almeida sendo que juntos tiveram doze filhos. Ainda moça, já morando em Brasilândia, trabalhou ao lado do esposo na fazenda Lajeado, de propriedade de seu Porfírio Alves de Souza mudando-se depois para a sede do município.

E lá encontramos aquela mulher de fibra e labuta, com amor incondicional aos filhos, zelando pela harmonia no lar. Olhar a sua volta e ver tudo em ordem e perfeito, já a tornava feliz. E sorria ao ver o esposo, sempre falante e carinhosamente chamado de Naná, regendo a orquestra da política local, cujo point era o portão daquela casa, seu imaginário castelo, localizado na rua Clovis Cordeiro 454.

E lá encontramos dona Perpétua as volta com a casa e os filhos, acostumando-se ver o seu lar transformar-se numa espécie de berço da democracia. Como uma grande família, ali não havia discriminação de filhos, amigos ou partidos, e todos os assuntos eram discutidos com o mesmo calor, por qualquer um que por ali resolvesse refrescar-se na sombra daquela eterna morada que viu a cidade crescer.

A homenagem prestada pela Câmara Municipal de Brasilândia à senhora Perpétua Uchôa de Lima, falecida na véspera de Natal do ano de 2012, aos 75 anos de idade, emocionou a todos e encheu de lágrimas os olhos dos familiares e amigos que se encontravam presentes naquela sessão. Em especial as filhas Francisca e Irene que levaram para casa naquela noite, mais do que o coração apertado: levavam a certeza de terem participado da mais alta homenagem que a municipalidade podia ter dado a esta pioneira e valorosa mulher brasilandense. Parabéns família Uchoa de Lima.

 

Brasilândia/MS, 21 de setembro de 2021.

Dia da Árvore.














A vereadora Neia e as filhas de dona Perpétua Francisca e Irene. (Foto: Facebook/Aurineia.halsback)

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