As
flores e o encantamento de dona Ignes.
Carlos Alberto dos Santos Dutra
O corpo levemente inclinado para trás se apoia nos braços de quem confia.
O olhar para alto vai ao encontro do rosto de quem a abraça.
O homem gentil a toma pelo braço enquanto a envolve numa aura de ternura e alegria.
A mulher, ao reclinar,
suas mãos postas figuram como se uma prece de agradecimento e júbilo por estar
ali fizesse, naquele momento mágico.
Ele é só encantamento. Parece estar diante do melhor momento de sua vida, o mais importante. E sorri. Assim como sua amada, que estampa no rosto largo olhar de felicidade.
O azul do vestido, de corte bem talhado revela elegância e bom gosto. Cor que contrasta
com a delicada correntinha que ostenta no pescoço deixando cair sobre o peito a
medalha que acompanha a expressão de sua fé.
O momento de rara beleza captado pela lente do fotógrafo há de se eternizar no tempo, atravessar gerações inteiras motivadas por este gesto de grandeza antológica, despertando para a sedução e o encanto que o quadro inspira.
No contorno e estampa deste quadro real, é possível
sentir a força e a emoção que a mensagem e suas cores transmitem. Sentimento que fulmina em cheio nossos
corações.
Um casal assim é coisa rara, coisa de cinema. Ainda mais quando viveram juntos 70 anos, trilhando lado a lado uma longa e linda história de amor.
História cheia de
alegria e testemunho de vida, cultivada num jardim repleto de flores, frutos e rebentos que continuam sempre a florir.
Para
quem veio ao mundo, passou a infância, cresceu e casou numa cidade de nome Paraíso, é razão suficiente para explicar o longevo percurso de vida feliz que
trilhou.
Anos
cheios de graça e abundância vividos por dona Ignes da Costa Souza ao lado do esposo Joaquim
Ferreira de Souza, aquele que, mesmo nas horas difíceis enfrentadas pelo
casal, o sorriso e o abraço de confiança nunca lhe faltou.
Ela manteve o afeto demonstrado até o final de seus dias, quando a doença a impediu de sorrir e abraçar aquele que há 15 dias, o Céu lhe roubou primeiro.
Ah, esse amor
verdadeiro, liame de companheirismo e respeito, alegria e perfume, que aos
poucos foi se esvaindo. Ah, aquela saudade tamanha de sair correndo ao encontro daquele que o olhar se acostumou...
Mas, eis que lá, no horizonte florido, em outro lugar Paraíso, acenando entre as flores, ela vislumbra um ramalhete abraçado, embalado pelo vento, saudando sua chegada.
E lá vai a noiva Ignes, cheia de graça, radiante, percorrendo entre as flores, sem dores, toda vestida de azul, olhando para o alto sorrindo. E agradecendo a Deus pelo feliz encontro
com seu amor encantado, juntinhos na eternidade.
Brasilândia/MS,
6 de novembro de 2020.
Nenhum comentário:
Postar um comentário