sexta-feira, 6 de novembro de 2020

 

As flores e o encantamento de dona Ignes.

Carlos Alberto dos Santos Dutra 


 



O corpo levemente inclinado para trás se apoia nos braços de quem confia. 

O olhar para alto vai ao encontro do rosto de quem a abraça. 

O homem gentil a toma pelo braço enquanto a envolve numa aura de ternura e alegria. 

A mulher, ao reclinar, suas mãos postas figuram como se uma prece de agradecimento e júbilo por estar ali fizesse, naquele momento mágico.

Ele é só encantamento. Parece estar diante do melhor momento de sua vida, o mais importante. E sorri. Assim como sua amada, que estampa no rosto largo olhar de felicidade. 

O azul do vestido, de corte bem talhado revela elegância e bom gosto. Cor que contrasta com a delicada correntinha que ostenta no pescoço deixando cair sobre o peito a medalha que acompanha a expressão de sua fé.

O momento de rara beleza captado pela lente do fotógrafo há de se eternizar no tempo, atravessar gerações inteiras motivadas por este gesto de grandeza antológica, despertando para a sedução e o encanto que o quadro inspira. 

No contorno e estampa deste quadro real, é possível sentir a força e a emoção que a mensagem e suas cores transmitem. Sentimento que fulmina em cheio nossos corações.

Um casal assim é coisa rara, coisa de cinema. Ainda mais quando viveram juntos 70 anos, trilhando lado a lado uma longa e linda história de amor. 

História cheia de alegria e testemunho de vida, cultivada num jardim repleto de flores, frutos e rebentos que continuam sempre a florir.

Para quem veio ao mundo, passou a infância, cresceu e casou numa cidade de nome Paraíso, é razão suficiente para explicar o longevo percurso de vida feliz que trilhou.

Anos cheios de graça e abundância vividos por dona Ignes da Costa Souza ao lado do esposo Joaquim Ferreira de Souza, aquele que, mesmo nas horas difíceis enfrentadas pelo casal, o sorriso e o abraço de confiança nunca lhe faltou.

Ela manteve o afeto demonstrado até o final de seus dias, quando a doença a impediu de sorrir e abraçar aquele que há 15 dias, o Céu lhe roubou primeiro. 

Ah, esse amor verdadeiro, liame de companheirismo e respeito, alegria e perfume, que aos poucos foi se esvaindo. Ah, aquela saudade tamanha de sair correndo ao encontro daquele que o olhar se acostumou...

Mas, eis que lá, no horizonte florido, em outro lugar Paraíso, acenando entre as flores, ela vislumbra um ramalhete abraçado, embalado pelo vento, saudando sua chegada. 

E lá vai a noiva Ignes, cheia de graça, radiante, percorrendo entre as flores, sem dores, toda vestida de azul, olhando para o alto sorrindo. E agradecendo a Deus pelo feliz encontro com seu amor encantado, juntinhos na eternidade.

Brasilândia/MS, 6 de novembro de 2020.

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