terça-feira, 3 de novembro de 2020

 

Quem são e o que pensam os candidatos a prefeito de Brasilândia?

Carlos Alberto dos Santos Dutra

 

Estamos a doze dias das eleições e os candidatos entram na reta final da campanha neste tumultuado ano de pandemia. O eleitor já definiu o nome de sua preferência para candidato a vereador. Entre os 67 concorrentes (depois de duas renúncias), todos já disseram que desejam o melhor para Brasilândia. Eis que agora o cidadão tem outro desafio: escolher o melhor nome para prefeito de sua cidade.


Acima de todas as paixões movidas mais pelo afeto do que pela razão, instala-se agora o dever de passar a limpo os três nomes que se propõem a sentar na cadeira de prefeito da cidade e governá-la por quatro anos. O ideal teria sido a promoção de um debate público entre os candidatos para que eles pudessem expor suas ideias ao vivo confrontando-as com os demais.


O isolamento social e os cuidados preventivos em relação à Covid-19 impediu isso, dificultando a exposição e acesso ao grande público, o que só foi rompido pelas mensagens, lives e vídeos postados nas redes sociais, onde o cidadão teve escassa chance de interagir com os candidatos.


Para o Executivo local concorrem três nomes: dois novos e um veterano na política. Da parte dos novatos, o candidato do PTB aventura-se heroica e quixotescamente com chapa completa, não se coligando a nenhuma outra sigla. Legenda, aliás, que traz consigo no seu histórico de vida, um rol de vitórias expressivas nos pleitos municipais em datas passadas.


Há de se lembrar dos nomes do professor José Cândido da Silva, eleito prefeito em 1988 e candidato não eleito em 1996; a professora Sandra Aparecida Louzada da Costa, candidata a prefeito, não eleita em 1992 e o médico Dr. Flávio Ercio Coelho de Vasconcelos, candidato a prefeito, não eleito em 2004.


Marco na luta trabalhista no Brasil, este partido fundado por Getúlio Vargas em 1945 detém conquistas que perduram até hoje, apesar das investidas neoliberais para destruí-las. Até a eleição passada o PTB tinha em Brasilândia 130 filiados que continuaram levando adiante o ideário do partido, entre eles o nome da saudosa prefeita Marilza Maria Rodrigues do Amaral, uma das pioneiras, que figurava em 2004 a frente da legenda.


Este é o legado que o cidadão Nilson de Oliveira (1) carrega como candidato a prefeito. Conhecido pelo epíteto Ninja, é servidor público, preside o Sindicato dos Servidores do município, tem 61 anos, nasceu em Rio Preto/SP e residente em Brasilândia há 31 anos. Politicamente, sua candidatura é uma espécie de volta ao passado quando a política era confiada àqueles que, por fazerem parte das classes populares, entendia que por elas a administração devia ser manejada. 


Distante do olhar ideológico, a roupagem nova de suas palavras alcançam os eleitores sobretudo pela emoção. De forte identificação com o povo, ele e seus 13 candidatos a vereador falam da vida cotidiana, demandas existenciais e carências que emanam da própria condição excluída da maioria do eleitorado que busca espaço no poder para ascender e fazer valer suas ideias e reivindicações.


O antigo artesão, radialista, fundador da extinta Guarda Mirim e animador da Fanfarra municipal, já foi candidato a vereador pelo PSDB em 2012 e obteve 97 votos. Não obstante, é potencialmente um dos concorrentes que mais se amolda àqueles que buscam um contato íntimo com o governante e confiam que poder de decisão que precisam dele possa emanar.


Quem o auxilia para superar os limites de seus propósitos, sem dúvida, é o candidato a vice-prefeito escolhido: o jovem Marcos Rodrigues Teodoro, de 39 anos, nascido em Panorama/SP, com instrução superiora e formação técnica industrial. Um idealista, estreante na política que, em tese, deve acrescentar com sua capacidade profissional total credibilidade e confiança de um filho da terra à candidatura do PTB ao governo de Brasilândia.


A partir dos vídeos postados nas redes sociais é possível descrever o perfil popular de Oliveira Júnior quando ele enfatiza o desejo de governar com simplicidade e transparência, com alegria e humildade, propondo uma política nova com projetos novos. Com a ressalva de que não precisa de porta-voz, não tem o rabo preso, e não vai [permitir ninguém] mamar na teta, deixa escapar seu descontentamento em face de sua antiga legenda mãe, queixando-se ainda de que muitos de seus projetos estão sendo copiados pelos demais candidatos.


Na lista de projetos que, segundo ele, são todos ótimos, estão: farmácia do povo nos bairros e distritos; retornar o esgoto urbano para a gerência do município, retirando-o da SANESUL; a construção de um balneário municipal; garantir o projeto do jovem aprendiz, em parceria com o SEBRAE, comércio e empresas. 


Enfim, defende uma administração voltada para a obra humana, conclamando a sociedade como um todo, com um detalhe surreal: a união das igrejas cristãs para, através da evangelização, abraçar e corroborar para resolver as questões sociais do município, afirmou ele em um de seus vídeos.


Sua candidatura, sob o aspecto da estratégia eleitoral pode ser entendida como um equívoco: desprezou a possibilidade de compor numa coligação com siglas que historicamente foram aliadas, e assim, participar de um projeto maior de poder. Perde, assim, o PTB, a possibilidade de aumentar suas chances de mudar o cenário da política local imprimindo, quiçá, o viés popular que seu discurso defende. 


Outro candidato que concorre ao Executivo brasilandense vem das fileiras históricas do PSDB que nestas eleições aliou-se ao novo partido PODE. A chapa tem como cabeça a candidata nascida em Três Lagoas, Léa Karla de Moura Dias (2), médica de 40 anos, e que escolheu para sua coligação o slogan Por uma Brasilândia com oportunidades justa e humana.


Sua legenda em nível nacional nasceu após a abertura política no ano de 1988 pelas mãos de Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso, dissidentes do PMDB, na época. Aqui em Brasilândia o partido tucano detém nomes conhecidos de eleições passadas: Marilza Maria Rodrigues do Amaral, candidata eleita prefeita em 2000; Messias Pereira dos Santos, candidato a vice-prefeito, não eleito em 2008; Márcia Regina do Amaral Schio, eleita vice-prefeita em 2012 e candidata a prefeita, não eleita em 2016, entre outros.


Drª. Lea tem como candidato a vice Thiago da Silva Gonçalves, jovem de 27 anos, natural de Panorama/SP, que é estreante na política. Seu nome reforça as ideias do partido que em 2016 possuía 284 filiados e era o 2º maior partido político de Brasilândia. Está coligada ao partido PODE, nova denominação do antigo Partido Trabalhista Nacional-PTN obtida a partir de uma frase de Barack Obama: Yes, we can (Sim, nós podemos) adotada pelo partido.


A legenda do PODE, sem dúvida, agrega valor à candidatura do PSDB por se tratar de um partido que, em nível nacional, defende mecanismos de democracia direta, para a gestão pública: plebiscitos, referendos, veto popular e o direito de revogação. Renata Abreu e Álvaro Dias são líderes deste partido e propõem, entre outras coisas, que o cidadão tenha o direito de vetar leis já aprovadas, participando de todo o processo democrático.


Drª Léa, que adotou Brasilândia como sua cidade, iniciou seu trabalho como médica em 2007 prestando atendimento inicialmente no Posto de Saúde do Reassentamento Novo Porto João André, passando pela Aldeia Ofaié, Estratégia da Saúde da Família-ESF-1 no bairro Mão Amiga e também no Hospital Municipal Dr. Júlio César Paulino Maia, durante quase 12 anos.


Foram muitos anos de dedicação, acolhimento, atendimento humanizado, visitas domiciliares, correria contra o tempo em transporte para salvar vidas, foram anos de troca de experiência, aprendizado e trabalho em equipe, declarou ela em outubro de 2018 quando deixou (3) o Hospital de Brasilândia.


Suas propostas têm ressonância nas apresentações dos 25 candidatos a vereador de sua coligação, onde manifestam todo o seu empenho e interesse em contribuir para o desenvolvimento da cidade. 
Para isso elenca alternativas em favor da segurança pública querendo implantar um sistema de vídeo monitoramento para inibir a criminalidade; solicitando aumento de efetivo e viaturas para as polícias civil e militar; instalando uma unidade do Corpo de Bombeiros no município.


No campo da produção defende o apoio efetivo a projetos de piscicultura. Inova com a implantação do Gabinete Popular que cria um canal de diálogo direto com a população. No esporte, informa que irá readequar e reestruturar as áreas para a prática de esportes, tanto na cidade como no interior do município, bem como ativar a piscina do Parque Akira Otsubo. No campo da cultura se compromete reestruturar e dar maior apoio aos integrantes da Fanfarra Municipal, entre outras propostas.


A candidata recebe apoio dos deputados estaduais Mara Caseiro, presidente do PSDB Mulher do Estado, e Paulo Correia, presidente da Assembleia Legislativa; e dos deputados federais Rose Modesto e Beto Pereira que prometem dar-lhe o suporte necessário em nível estadual e federal ao seu mandato. Staff político que dá garantia de amplos canais para a viabilização de recursos para seus projetos.


Ela defende ainda no campo da Educação: escola em período integral; adequação nas creches municipais; melhorar as rotas do transporte escolar; informatizar a biblioteca municipal; implantação do programa de psicossupervisão pedagógica a alunos e professores em todas as escolas; garantir bolsas de estudos para os alunos universitários.


Já no campo da Saúde, sua área de maior conhecimento, propõe melhorar e aprimorar o que já existe acrescentando: contratação de mais médicos especialistas; descentralização da farmácia municipal; construção de um centro de fisioterapia; centro de atendimento domiciliar; Plano de Cargos e Carreiras para os servidores da Saúde, entre outras iniciativas.


A fala é comedida, a voz é do coração, e o rosto transparece beleza e sinceridade. Suas apresentações em vídeo, ao observador mais atento, o faz voltar no tempo diante de alguém tão cheia de boa vontade e idealismo que acredita ser capaz de levar amor e bem estar ao cidadão esquecido. Intenção que contrasta com a dureza do mundo atual e a astuta militância dos oponentes de menor penhor.


O terceiro candidato concorrente é Antônio de Pádua Thiago, popular Dr. Antônio (4), um veterano que está na política local há 28 anos. Concorre pela coligação MDB, DEM e PSD, com o slogan Brasilândia que eu amo. Médico de profissão, tem 60 anos e nasceu em Três Lagoas. Concorre a reeleição tendo como vice, Gabriel Baez Gonçalves, popular Dr. Gabriel, igualmente médico, 40 anos, nascido em Bela Vista.


O candidato estreou na política no ano de 1992 através da sigla do PTB, elegendo-se o 6º vereador mais votado entre os 46 que disputaram as eleições naquele ano, obtendo 178 votos. A partir de 1995, já pela legenda do antigo PMDB, ajudou a escrever a história deste partido do qual jamais arredou o pé. 


Depois de candidatar-se a prefeito em 1996 não elegendo-se, Dr. Antônio concorreu nos quadriênios seguintes elegendo-se prefeito nos anos de 2004, 2008 e 2016. Em 2012 o PMDB lançou a prefeito o nome da Profª Eurides Palharis Lins, que não elegeu-se.


Nestas eleições de 2020, valendo-se também de vídeos postados no facebook, o candidato se comunica com os eleitores apresentando o que chamou de minissérie dividida em 15 capítulos para informar e relembrar o que realizou nos três mandatos que esteve à frente da prefeitura local. No entendimento dos analistas expert em marketing ele está correto: quem busca reeleição deve falar o que fez; os novatos, falam do que se propõem fazer.


E assim tem sido o roteiro de suas lives e apresentações. Vale-se do farto rol de obras que suas exitosas administrações realizaram ao longo dos anos para mostrar a todos a marca pessoal que imprimiu nestes feitos e dividendos políticos que acumulou durante 12 anos. Sem dúvida, tal volume de brilhantes conquistas configura visível vantagem sobre os demais concorrentes, tornando-o preferido da maioria dos eleitores.


Como se não bastasse, vale-se de vasta gama de novos projetos e propostas apresentados pelos 29 candidatos a vereador que compõem sua coligação, sendo que somente três deles buscam a reeleição. Lacunas existentes na atual administração, no campo do relacionamento com a sociedade, confiam seus eleitores, caberá a ele equacioná-las.


Há, entretanto, aqueles mais exigentes que preferem, não somente relembrar as obras do passado, úteis, necessárias e aplaudidas por todos, mas também cotejá-las com o presente, alinhando-as com o futuro. Até mesmo por dever de isonomia e simetria na disputa com os demais candidatos. A correlação de forças seria explicitada e os pesos e as medidas poderiam ser mais bem avaliados na balança do entendimento que dá sustentação ao voto do eleitor.


Sua candidatura, entretanto, renova o inestimável apoio de nomes de expressões na política estadual e nacional. Demonstra o quão bem relacionado ele é na esfera de seu partido e aliados. É o que confirmam as declarações do deputado federal Fábio Trad; do ex-governador André Puccinelli; do senador Nelsinho Trad; da ministra da Agricultura, Tereza Cristina; da senadora Simone Tebet, entre outros, que manifestaram apoio à candidatura de Dr. Antônio.


Situação que lhe confere tranquilidade e conforto eleitoral, arrisco dizer. Dá-lhe quase uma garantia de vitória no dia 15 de novembro. Vitória, entretanto, que está sendo conquistada com os olhos no retrovisor da história. Realidade que mostra um consistente e progressista percurso, mas que reclama atenção ao para-brisa de um veículo social --nestes tempos líquidos, diria Zygmunt Bauman (5)--, em constante movimento.


A cada trecho da estrada, diz a canção de Belchior imortalizada pela gaúcha Elis Regina, há sempre o alerta a ser dado: cuidado meu bem, há perigo na esquina (6).

 
Aos três candidatos, portanto, cabe lembrar do risco de se menosprezar a aparente fragilidade do outro, descuidando ou subestimando suas virtudes. Pois uma coisa é certa: a decisão não está nas mãos dos candidatos e sim nas mãos daqueles eleitores que se sentirem melhor representados e respeitados a cada eleição.





Brasilândia/MS, 03 de novembro de 2020.



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