domingo, 3 de julho de 2022

Nossa doce casa encantada

 

Nossa doce casa encantada
Carlos Alberto dos Santos Dutra




Foi ali que passamos os melhores dias de nossas vidas.
Dias de infância, dias de alegria. E hoje, em meio a nostalgia, algo muito vivo ali dentro ainda pulsa.

Parece que foi ontem: os primeiros tijolos.
E nosso pai Vilson, artífice de pedreiro, foi também marceneiro, eletricista e tantas outras coisas mais.

E lá, sob a presença gentil do vô João,
Sempre de olho na obra e aquele milagre, que transformou o banhado daquele terreno num lugar habitável e seguro.

Visita de longe, da tia Lezi,
E olhares de perto, da tia Laureci
Para a alegria de dona Laura, nossa mãe. E o olhar doce da vó Maria.


Arquitetura arrojada para um tempo onde tudo era novidade:
Janelas amplas, vidros martelados e grades nas portas.
E o assoalho de parquet, chamado de taco, que hoje só vive nas nossas recordações.

Quantas vezes rolamos pelo chão e brigamos, oito irmãos.
Brincadeiras de barraca, os causos no galpão e tantas bobagens..., naquele solo sagrado que nos impulsionou para a vida.

A calçada de cacos de tijolos (que hoje desprezamos nos entulhos pelas construtoras), juntados um a um, na argamassa pelas mãos zelosas de nosso pai. 

Taciturno que olhava longe, e o carinho sempre perto, às vezes retido, mas sempre presente no aprendizado dos filhos.
E o legado que deixou.

Concluído o palácio e lá aninharam-se os filhos que foram nascendo, crescendo e bebendo na fonte dos sonhos: o pátio, a horta, o pé de oliveira, a graxeira, os latoeiros, o campinho.
E a lembrança pueril dos nomes Guismara, Fifi, Fumacinha, nosso barbeiro, e tantos outros que faziam nossa inocência sorrir.

O tempo sopra e aquela casa parecia um forte, no alto da colina,
Quando tudo a sua volta era um vasto descampado. Imponente casa branca, abrigo dos desvalidos: Pezinho, Clodo e outros, que nela encontravam alimento, respeito e amizade, quando nem entendíamos direito por que eram essas virtudes.

Sábia pedagogia de dois mestres silenciosos, tal qual a beleza do ipê contemporâneo que hoje adorna aquele lar, só nos resta a gratidão dos gestos e os acordes do coração presos a ele. O universo estava nas nossas mãos.

Olha o Mundo da Criança! Enciclopédia que nos literalmente alimentou com o saber e aventuras, sob inspiração de sábia mãe leitora-escritora.

Casa do seu Vilson, casa da dona Laura... Oh! nossa doce casa encantada que ainda guardas o maior dos tesouros. Permaneces a mesma: majestosa... Cada coisa no seu lugar, dentro e fora de nossos corações. Sempre pronta, nossa mãe, de braços abertos para acolher os distantes filhos seus.

Brasilândia/MS, 03 de julho de 2022. Publicada originalmente em 03 de Julho de 2014.

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