Nossa doce casa encantada
Carlos Alberto dos Santos Dutra
Foi ali que passamos os melhores dias
de nossas vidas.
Dias de infância, dias de alegria. E hoje, em meio a nostalgia, algo muito vivo ali dentro ainda pulsa.
Parece que foi ontem: os primeiros tijolos.
E nosso pai Vilson, artífice de pedreiro, foi também marceneiro, eletricista e tantas
outras coisas mais.
E lá, sob a presença gentil do vô João,
Sempre de olho na obra e aquele milagre, que transformou o banhado daquele terreno num lugar habitável e seguro.
Visita de longe, da tia Lezi,
E olhares de perto, da tia Laureci. Para a alegria de dona Laura, nossa mãe. E o olhar doce da vó Maria.
Arquitetura arrojada para um tempo onde tudo era novidade:
Janelas amplas, vidros martelados e grades nas portas.
E o assoalho de parquet, chamado de taco, que hoje só vive nas nossas recordações.
Quantas vezes rolamos pelo chão e brigamos, oito irmãos.
Brincadeiras de barraca, os causos no galpão e tantas bobagens..., naquele solo sagrado que nos impulsionou para a vida.
A calçada de cacos de tijolos (que hoje desprezamos nos entulhos pelas construtoras), juntados um a um, na argamassa pelas mãos zelosas de nosso pai.
Taciturno que olhava longe, e o carinho sempre perto, às vezes retido, mas sempre
presente no aprendizado dos filhos.
E o legado que deixou.
Concluído o palácio e lá aninharam-se os filhos que foram nascendo, crescendo e bebendo na fonte dos sonhos: o pátio, a horta, o pé de oliveira, a graxeira, os latoeiros, o campinho.
E a lembrança pueril dos nomes Guismara, Fifi, Fumacinha, nosso barbeiro, e tantos outros que faziam nossa inocência sorrir.
O tempo sopra e aquela casa parecia um forte, no alto da colina,
Quando tudo a sua volta era um vasto descampado. Imponente casa branca, abrigo dos desvalidos: Pezinho, Clodo e outros, que nela encontravam alimento,
respeito e amizade, quando nem entendíamos direito por que eram essas virtudes.
Sábia pedagogia de dois mestres silenciosos, tal qual a beleza do ipê contemporâneo que hoje adorna aquele lar, só nos resta a gratidão dos gestos e os acordes do coração presos a ele. O universo estava nas nossas mãos.
Olha o Mundo da Criança! Enciclopédia que nos literalmente alimentou com o saber e aventuras, sob inspiração de sábia mãe leitora-escritora.
Casa do seu Vilson, casa da dona Laura... Oh! nossa doce casa encantada que ainda guardas o maior dos tesouros. Permaneces a mesma: majestosa... Cada coisa no seu lugar, dentro e fora de nossos corações. Sempre pronta, nossa mãe, de braços abertos para acolher os distantes filhos seus.
Brasilândia/MS, 03 de julho de 2022. Publicada originalmente em 03 de Julho de 2014.
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