Soraia Monteiro: as lembranças e o adeus.
Carlos Alberto
dos Santos Dutra
As águas do rio Verde
correm mansas. Por elas sobem mamães peixes levando no ventre seus ovos para
vê-los eclodir sob o calor das nascentes daquele berçário de vida e proteção. Rio
que gera sustento e sobrevivência para tantos até a sua desembocadura no paranazão.
Rio que também guarda
sob suas águas, há 60 anos, uma história de dor e lágrimas, quando a antiga
ponte de madeira ruiu sucumbindo junto dela um ônibus que levou à morte cerca
de 30 pessoas.
Com o passar dos
anos, outros conhecidos e amigos pereceram sob essas mesmas águas,
aparentemente revigorantes e calmas, mas sempre muito perigosas.
A notícia de que o
barco onde a senhora Soraia Monteiro se encontrava veio a
naufragar causando a sua morte, colheu de surpresa toda a comunidade de
Brasilândia.
Familiares e amigos
choram a despedida desta senhora que, ainda jovem já era avó, e deixa o companheiro e neto que, na ocasião, foram salvos das águas nesta tragédia.
Mulher prestativa e
trabalhadeira, sempre dedicou a vida a dar alegria e conforto aos outros. Em
especial, nos primeiros anos quando a conheci, prestando serviço na culinária
de uma escola ao fazer o gosto de professores e crianças, preparando-lhes a
melhor das refeições.
O coração aperta e a
lembrança nos leva a 25 anos atrás, quando ainda éramos professores da saudosa
Escola Agrícola Julião Maia, e lá se encontrava ela, entre as demais
cozinheiras, firme no seu ofício.
Muito preocupada,
pilotando o fogão, Soraia dedicava-se a fazer a alegria dos
estudantes chamados de agricolinos que vinham das fazendas e
da cidade ali estudar e encontravam naquela profissional, aparentemente
anônima, segurança e boa alimentação.
O tempo passou e as
lembranças vão esmaecendo na memória daqueles estudantes. Quem esteve ao seu
lado, entretanto, a família com certeza saberá dizer o quanto ela foi
importante para cada um daqueles que dela se aproximou: uma mão amiga que
sempre ajudou.
Tal qual uma
experimentada educadora, depois de trabalhar em outros lugares, nos últimos
tempos laborava como servidora no Centro Educacional Infantil Carmelita
Barbosa Caetano. Certamente ali, saberão dizer seus colegas, continuou a prestar seu admirável trabalho com dedicação e empenho.
De olhar e aparência
séria, cônscia de suas responsabilidades, demonstrava sempre estar focada no
seu trabalho, não abrindo mão, de quando em vez, de declinar um sorriso que
inspirava presteza e confiança de uma mãe.
Ao lado da família
que sempre zelou, soube apoiar também os amigos a qualquer hora. E isso lhe
brindou a felicidade adquirida pela experiência dos anos. É essas boas lembranças que vamos guardar.
Com os nossos
sentimentos de pesar à família, rogamos a Deus pela nossa amiga Soraia
Monteiro para que descanse em paz.
Brasilândia/MS,
30 de julho de 2022.
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