quinta-feira, 28 de julho de 2022

Homenagem a dona Elvira e sua nova morada

Carlito Dutra



Amigos aqui presentes

Hoje é um dia de festa

Uma celebração modesta

Que nos enche de alegria.

Pois não é todos os dias

Que o pobre ganha presente

E olha aqui tão contente

Vejo o povo animado

Sorriso e rosto encantado

De pessoas conhecidas

Todas aqui reunidas

E eu não sei dizer por quê

Que evento? Oigale!

Estará acontecendo?

Desde cedo estão correndo

Gente entrando e saindo

Lágrimas no rosto caindo

Quem fez isso acontecer?

Fez a vida renascer...

Para quem estava esquecida

Pelas canhadas da vida

Hoje, aqui ela é lembrada

Sempre tímida, acanhada

Desde menina, contente

Nunca fugiu do batente

Orgulho do pai João

Mãe Maria, coração

46 era o ano

E aquele serzinho humano

Lá de Santo Anastácio

Deixou prá trás o palácio

Da família e dos pais

Seus primeiros madrigais

Em troca do Mato Grosso.

Todos juntos, um colosso

Por aqui ela chegou

E entre nós habitou

Mulher de coragem e fé.

Desde o tempo do café

Da braquiária, o colonião

Debaixo de um caminhão

Labutou de boia-fria

Na colheita, correria

Pelos sítios e fazendas

--Se não sabe fazer, aprenda!

E lá se foi a mocinha

Por dentro, uma rainha

Por fora, o aço puro

E os olhos no futuro.

Nunca soube o que é ofensa

Trabalhou sem recompensa

Quase sem tempo pra si

E de andar por aí

Apelos do coração

Ouviu a declaração

Do seu Zé de Oliveira

A mulher trabalhadeira

Sonhou alto a brasilina

Igual a tantas meninas

Entregou-se em casamento.

Felicidade é o momento

Com olhos cheios de brilho

Ao conceber os seus filhos

Um a um os viu nascer

Dar de mama, aquecer

José, Marcos e Simone

Sem TV, sem telefone

E a família foi crescendo

Novos rostinhos tremendos

Veio o Márcio e Rosemilda

Deu encanto a sua vida

Nilson e José que partiram

Depois os netos surgiram

E a vó Elvira sorria

Ana Clara e Talia

José Vitor e Bianca

Um jardim de flores brancas

O Jhonatan e a Amanda

Não importa onde anda

A vovó está contigo

Mário Márcio meu querido

Rakeile linda, Izabel

Doce sorriso de mel

Tudo encanta dona Elvira

Que volta a colher guavira

Vendo sua vida passando

Vê o bisneto acenando

É muita felicidade

Ter chegado nesta idade

Também teve seus reveses

Mas cumpriu a catequese

Amigos que conquistou

Semblante sério firmou

Fincou os pés nesta terra

Mulher de paz, não de guerra

Com garra sobreviveu

Com aquilo que Deus lhe deu

Vivendo com honestidade

Mesmo na dificuldade

Nunca bajulou ninguém

Quando precisou de alguém

Tratou sempre com respeito

Venceu todo o preconceito

Trabalhando dedicada

Desde o cabo da enxada

A vassoura ou a panela

Nunca pousou na janela

Contemplando a vida mansa

Vida de pobre não cansa

De trabalhar, que alegria

E assim, passar os dias

Dona Elvira fez história

Após os dias de gloria

Viu o corpo diminuindo

A casa antiga caindo

Estava resignada

Ter chegado ao fim da estrada

Quase se acostumou com isso.

Até que um dia, o compromisso

De um grupo de benfeitores

Homens, mulheres, senhores

Todos de bom coração

Resolveram dar a mãos

Pro milagre acontecer.

É difícil descrever

Que a vida sempre muda

Quando alguém abraça, ajuda

Sai de si, e olha adiante

Deixa de ser arrogante

E pratica a caridade

E aconteceu de verdade:

Um desafio assumido

Brilhou o rosto abatido

Daquela homenageada

Dona Elvira contemplada

Nova casa, um novo lar.

Difícil acreditar

Na força da união

Muito mais que a oração

Cada um deu um pouquinho

Surgiram tantos padrinhos

Igual as estrelas do céu

Ganhou o maior troféu.

Cada um deu o que tinha

E a alegria da avozinha

Que custava a acreditar

Vendo aquele povo ralar

Construindo sua casa

A esperança criou asas

Apertou-lhe o coração

Quando lhe estendeu a mão

O Coxiba e o Dega Freitas

Boa ação não se rejeita

Marcos, Cido marceneiro

Estes foram os primeiros

Anjos na terra, do céu

Tenho que tirar o chapéu

Para essa gente animada

Que topou qualquer parada.

Só trabalho voluntário

Como as contas de um rosário

Tantos nomes anotados

No coração tá guardado

Pois não cabe na poesia

Mas completa a alegria.

Da casa de dona Elvira

Todo mundo admira

Como ter aqui chegado?

Cada tijolo colocado

Porta, janela, vidraça

Adeus fogão de fumaça

O piso agora é luxo

E vai aguentar o repuxo

E os armários, ó que belos

Não vou mais usar chinelo

Olha o frescor desta casa

Meu coração tá em brasa

Tamanho contentamento

Maior é o agradecimento

A todos que ajudaram

Os materiais que doaram

Do comércio, a confiança

Nos cumulou de esperança.

A casa antiga partiu

Nova no lugar surgiu

O que me encanta é as cores

Muito vivas, quase flores

Nas janelas as cortinas

Quase volta a ser menina

Aquela senhora idosa

De olhar sério, pouca prosa

Mas que se permite sorrir

Ver seu coração se abrir

Esquecer que tem setenta

Mas a saúde aguenta

Suportando a emoção.

Obrigado meus irmãos

Por esta casa, o meu lar

Deus permita desfrutar

Tão grandioso presente

Recebe-los sorridente

Um a um agradecer

E a vida voltar, viver.

Para viver novamente.

 

Parabéns Dona Elvira

Parabéns comunidade.

 

Brasilândia, 27 de julho de 2022.

https://youtu.be/ziWfawgWU3M

 

Um comentário:

  1. Homenagem sincera a uma pessoa da comunidade, dando-lhe o devido reconhecimento de maneira sutil e respeitosa.

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