Homenagem
a dona Elvira e sua nova morada
Carlito Dutra
Amigos aqui presentes
Hoje é um dia de festa
Uma celebração modesta
Que nos enche de alegria.
Pois não é todos os dias
Que o pobre ganha presente
E olha aqui tão contente
Vejo o povo animado
Sorriso e rosto encantado
De pessoas conhecidas
Todas aqui reunidas
E eu não sei dizer por quê
Que evento? Oigale!
Estará acontecendo?
Desde cedo estão correndo
Gente entrando e saindo
Lágrimas no rosto caindo
Quem fez isso acontecer?
Fez a vida renascer...
Para quem estava esquecida
Pelas canhadas da vida
Hoje, aqui ela é lembrada
Sempre tímida, acanhada
Desde menina, contente
Nunca fugiu do batente
Orgulho do pai João
Mãe Maria, coração
46 era o ano
E aquele serzinho humano
Lá de Santo Anastácio
Deixou prá trás o palácio
Da família e dos pais
Seus primeiros madrigais
Em troca do Mato Grosso.
Todos juntos, um colosso
Por aqui ela chegou
E entre nós habitou
Mulher de coragem e fé.
Desde o tempo do café
Da braquiária, o colonião
Debaixo de um caminhão
Labutou de boia-fria
Na colheita, correria
Pelos sítios e fazendas
--Se não sabe fazer, aprenda!
E lá se foi a mocinha
Por dentro, uma rainha
Por fora, o aço puro
E os olhos no futuro.
Nunca soube o que é ofensa
Trabalhou sem recompensa
Quase sem tempo pra si
E de andar por aí
Apelos do coração
Ouviu a declaração
Do seu Zé de Oliveira
A mulher trabalhadeira
Sonhou alto a brasilina
Igual a tantas meninas
Entregou-se em casamento.
Felicidade é o momento
Com olhos cheios de brilho
Ao conceber os seus filhos
Um a um os viu nascer
Dar de mama, aquecer
José, Marcos e Simone
Sem TV, sem telefone
E a família foi crescendo
Novos rostinhos tremendos
Veio o Márcio e Rosemilda
Deu encanto a sua vida
Nilson e José que partiram
Depois os netos surgiram
E a vó Elvira sorria
Ana Clara e Talia
José Vitor e Bianca
Um jardim de flores brancas
O Jhonatan e a Amanda
Não importa onde anda
A vovó está contigo
Mário Márcio meu querido
Rakeile linda, Izabel
Doce sorriso de mel
Tudo encanta dona Elvira
Que volta a colher guavira
Vendo sua vida passando
Vê o bisneto acenando
É muita felicidade
Ter chegado nesta idade
Também teve seus reveses
Mas cumpriu a catequese
Amigos que conquistou
Semblante sério firmou
Fincou os pés nesta terra
Mulher de paz, não de guerra
Com garra sobreviveu
Com aquilo que Deus lhe deu
Vivendo com honestidade
Mesmo na dificuldade
Nunca bajulou ninguém
Quando precisou de alguém
Tratou sempre com respeito
Venceu todo o preconceito
Trabalhando dedicada
Desde o cabo da enxada
A vassoura ou a panela
Nunca pousou na janela
Contemplando a vida mansa
Vida de pobre não cansa
De trabalhar, que alegria
E assim, passar os dias
Dona Elvira fez história
Após os dias de gloria
Viu o corpo diminuindo
A casa antiga caindo
Estava resignada
Ter chegado ao fim da estrada
Quase se acostumou com isso.
Até que um dia, o compromisso
De um grupo de benfeitores
Homens, mulheres, senhores
Todos de bom coração
Resolveram dar a mãos
Pro milagre acontecer.
É difícil descrever
Que a vida sempre muda
Quando alguém abraça, ajuda
Sai de si, e olha adiante
Deixa de ser arrogante
E pratica a caridade
E aconteceu de verdade:
Um desafio assumido
Brilhou o rosto abatido
Daquela homenageada
Dona Elvira contemplada
Nova casa, um novo lar.
Difícil acreditar
Na força da união
Muito mais que a oração
Cada um deu um pouquinho
Surgiram tantos padrinhos
Igual as estrelas do céu
Ganhou o maior troféu.
Cada um deu o que tinha
E a alegria da avozinha
Que custava a acreditar
Vendo aquele povo ralar
Construindo sua casa
A esperança criou asas
Apertou-lhe o coração
Quando lhe estendeu a mão
O Coxiba e o Dega Freitas
Boa ação não se rejeita
Marcos, Cido marceneiro
Estes foram os primeiros
Anjos na terra, do céu
Tenho que tirar o chapéu
Para essa gente animada
Que topou qualquer parada.
Só trabalho voluntário
Como as contas de um rosário
Tantos nomes anotados
No coração tá guardado
Pois não cabe na poesia
Mas completa a alegria.
Da casa de dona Elvira
Todo mundo admira
Como ter aqui chegado?
Cada tijolo colocado
Porta, janela, vidraça
Adeus fogão de fumaça
O piso agora é luxo
E vai aguentar o repuxo
E os armários, ó que belos
Não vou mais usar chinelo
Olha o frescor desta casa
Meu coração tá em brasa
Tamanho contentamento
Maior é o agradecimento
A todos que ajudaram
Os materiais que doaram
Do comércio, a confiança
Nos cumulou de esperança.
A casa antiga partiu
Nova no lugar surgiu
O que me encanta é as cores
Muito vivas, quase flores
Nas janelas as cortinas
Quase volta a ser menina
Aquela senhora idosa
De olhar sério, pouca prosa
Mas que se permite sorrir
Ver seu coração se abrir
Esquecer que tem setenta
Mas a saúde aguenta
Suportando a emoção.
Obrigado meus irmãos
Por esta casa, o meu lar
Deus permita desfrutar
Tão grandioso presente
Recebe-los sorridente
Um a um agradecer
E a vida voltar, viver.
Para viver novamente.
Parabéns Dona Elvira
Parabéns comunidade.
Brasilândia, 27 de julho de 2022.
Homenagem sincera a uma pessoa da comunidade, dando-lhe o devido reconhecimento de maneira sutil e respeitosa.
ResponderExcluir