Dez razões para não reeleger Bolsonaro.
Carlos Alberto dos Santos Dutra.
Duas cabeças pensam mais que uma, diz o ditado. Pois eu reproduzo aqui o pensamento
de não menos que 450 cabeças que há quatro anos vem se reunindo para refletir
e pensar sobre as ameaças que a democracia vem sofrendo em nosso país.
Trata-se de um grupo de padres católicos
denominados Padres da Caminhada e Padres contra o Fascismo, provenientes
de diversas Dioceses, Ordens e Congregações Religiosas e Institutos de Vida
Consagrada de todo o Brasil e fora dele. Pois no dia 7 de setembro do corrente
ano eles lançaram uma Carta Aberta manifestando-se claramente contra a
reeleição do atual presidente da República.
O documento é objetivo e contextualiza o momento
que o Brasil vive: O período eleitoral. E inicia relembrando que em
2018, a população, enganada por fake news, desmotivada por crises
econômicas, escândalos de corrupção e insuflada por discursos de ódio acabou
por eleger para a presidência da República o senhor Jair Messias Bolsonaro. Uma
catástrofe anunciada! (...).
Hoje, distante quatro anos daquele momento, o grupo
de padres, conscientes de seu dever de pastores do povo de Deus, manifestaram
seu alerta aos brasileiros desatentos para o perigo de repetirmos o mesmo erro,
pondo o Brasil em uma crise ainda mais grave. Para tanto, elencaram dez
razões pelas quais todo o cidadão consciente deveria se opor à reeleição do
atual Presidente da República:
1ª- Uso do nome de Deus: o atual
presidente sempre manipulou o sentimento religioso da população brasileira,
tentando convencê-la de que é um homem cristão, religioso e, por isso, digno e
bom. Trata-se apenas de uma estratégia de controle das consciências, visto que
todo o seu discurso e suas ações são uma total oposição ao Evangelho de Jesus;
2ª – Discurso de ódio: o atual presidente insufla ódio na população por aqueles que considera inimigos seus ou do país (ainda que inimigos imaginários como os comunistas), tendo sempre um discurso ligado à violência, ao apelo às armas, a imposição da maioria e submissão das minorias, e um tom de agressividade e de desprezo pelos pobres, pelas mulheres, comunidades tradicionais indígenas e quilombolas, população de rua, comunidade LGBTQIA+, migrantes, etc.;
3ª – Fake news: toda a eleição de
2018 foi movida por notícias falsas e alarmistas, colocando em pânico a
população mais simples e vulnerável. Notícias falsas circularam por grupos de
WhatsApp e pelas demais redes socias, desinformando e manipulando a população.
Durante todo o seu governo as notícias falsas e caluniosas permaneceram e o
Presidente mente de forma compulsiva na TV e em seus diversos pronunciamentos;
4ª – Má gestão da pandemia de COVID-19:
o governo atual, capitaneado pelo Presidente Bolsonaro, geriu de forma
desastrosa e desumana a pandemia de COVID-19. O Presidente fez propaganda de
medicamentos comprovadamente ineficazes, atrasou propositalmente a compra de
vacinas, criou dificuldades para o estabelecimento de políticas de
distanciamento social, demitiu ministros da saúde que contradiziam suas ideias
infantis e, incrivelmente, ainda imitou pessoas morrendo sufocadas;
5ª – Volta da pobreza: o país foi
imerso na pobreza e 33 milhões de pessoas passam fome no Brasil de hoje. Nós,
que havíamos saído do mapa da fome em 2014, tornamos a ver a instabilidade
alimentar em nosso meio. A inflação impede pessoas de comprarem alimentos
básicos para a subsistência. Nosso povo passa fome enquanto super ricos cercam
o atual Presidente por medo de perderem privilégios. Com tudo isso, o
presidente ainda nega que existam pessoas com fome no Brasil;
6ª – Aumento do desmatamento: O
desmatamento ilegal, as políticas que favorecem o agronegócio irresponsável,
favorecimento do garimpo ilegal, silêncio e despreocupação com as ameaças
sofridas por ambientalistas e defensores da Amazônia, o uso de agrotóxicos
proibidos em outras partes do mundo, o pisoteamento das comunidades indígenas,
o desaparelhamento dos órgãos de controle ambiental e indigenista e a
sistemática destruição da Amazônia são escândalos em nível mundial. O atual
governo coloca em risco toda a confiabilidade do país e o equilíbrio ambiental
através de suas políticas ecocidas;
7ª – Sinais claros de corrupção: eleito com discurso anticorrupção, o atual Presidente vive soterrado e soterrando os escândalos de corrupção que o envolvem e envolvem sua família. Escândalos de corrupção na compra de vacinas, escândalos no MEC, interferência na Polícia Federal, desmonte das políticas de transparência fundamentais no combate à corrupção, compra do parlamento através do orçamento secreto, movimentações financeiras milionárias não esclarecidas (compra de 51 imóveis com dinheiro vivo), sigilo de 100 anos sobre ações pessoais sendo que somos uma República;
8ª – Ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF): o Presidente da República tem sistematicamente atacado o STF, que diz intervir indevidamente no governo. Frases ameaçadoras contra ministros do STF são públicas e estão nas redes socias. A ameaça a um poder da República é um ataque à Constituição Federal e um perigo ao Estado Democrático de Direito. Além disso sustenta um discurso antidemocrático militarista;
9ª – Questionamento sobre o processo
eleitoral: mesmo tendo sido eleito pelo atual sistema de urnas
eletrônicas, o Presidente da República questiona sistematicamente o sistema
eleitoral brasileiro, afirmando que houve e que podem acontecer fraudes. Chegou
mesmo a afirmar que existiam provas dessas fraudes, provas essas, que nunca
pode demonstrar. O TSE já demonstrou que tudo não passa de retórica de mentira.
Porém, com esse discurso cria desconfiança e instabilidade no sistema eleitoral
do Brasil;
10ª – Claros sinais de autoritarismo e fascismo: por fim, o lema do presidente Bolsonaro sempre foi: Deus acima de tudo, Brasil acima de todos, que se assemelha a propaganda nazista Alemanha acima de tudo, lema que deturpa patriotismo em perigoso nacionalismo. Em um Estado laico a única realidade que está acima de tudo é a Constituição, que existe para garantir a liberdade e o bem estar de todos os cidadãos, não importando suas etnias, religiões ou classes sociais. O Estado laico não é Estado ateu. Estado laico é a única garantia de que todos os cidadãos poderão viver e celebrar suas diversas crenças de forma livre;
Por fim, feitas essas considerações, como padres preocupados
com o bem comum e bem estar da população brasileira, recordam os religiosos que
Jesus veio para que tenham vida e vida em abundância (Jo 10,10). E conclamam: Um discípulo de Jesus, quando consciente, não pode
reeleger um homem que com palavras e obras demonstra ser o oposto de tudo
aquilo que Jesus é e anuncia. Deus nos ilumine para sermos fiéis ao
Senhor da vida!
Brasilândia/MS, 25 de setembro de 2022.
Fonte: Carta Aberta assinada por mais de 450 padres católicos de diversas Dioceses, Ordens, Congregações e Institutos de Vida Consagrada de todo o Brasil e fora dele, denominados Padres da Caminhada e Padres contra o fascismo. 07.Set.2022. https://www.ihu.unisinos.br/categorias/621936-450-padres-se-manifestam-contra-reeleicao-de-bolsonaro; https://www.pragmatismopolitico.com.br/2022/09/padres-catolicos-manifestam-contra-reeleicao-bolsonaro.html; Cf. também: https://www.brasildefato.com.br/2020/07/31/mais-de-mil-padres-apoiam-carta-ao-povo-de-deus-dos-bispos-com-criticas-a-bolsonaro;
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