sábado, 17 de setembro de 2022

 

Ler, julgar e agir em tempo de política.

Carlos Alberto dos Santos Dutra







Um dia, um jovem perguntou para mim: --Por que o senhor escreve? De imediato não soube responder. Minutos depois uma série de respostas passaram pela minha mente. Meu interlocutor já não estava mais por perto, porém, a vontade de lhe dar uma resposta permanecia. A ponto de me incentivar a redigir estas linhas.

A questão – diria eu –, não se prende tanto ao porque escrevo, mas para quem escrevo. Sobretudo num tempo onde cada vez menos se lê e nos distanciamos das palavras, contextos e significados. Pode ser um paradoxo: pouco se lê mas ainda assim insistimos em escrever.

A explicação para a insistência na escrita – diria eu --, seria uma nobre justificativa para se incentivar à leitura. E não estou falando dos clássicos da literatura universal cujos pensamentos, excertos deles, de quando em vez, são lançados pelo Facebook causando admiração a todos.

Tais frases, assim escritas, ainda que descontextualizadas muitas vezes, se apresentam como um libelo e convite à leitura. Não raro despertando o interesse do leitor ao aprofundamento sobre algumas obras, muitas delas referenciais de vida para a humanidade.

Por isso o escritor escreve. Mesmo que uma rápida nota, ou artigo num blog raramente visitado. Mas ele teima em semear letras e palavras ao vento na esperança de que elas pousem, tal qual semente, sobre o coração de algum viajante em busca de um  horizonte azul.

-- É para este que escrevo, teria dito na ocasião ao jovem que me interpelou. Escrevo para aquele que não se contenta em ver o mundo somente, mas deseja também entendê-lo para transformá-lo. Sobretudo no mundo das ideias, onde as palavras tem o dom de iludir ou discernir, dependendo do meu ponto de vista, dependendo de onde me situo no lugar onde vivo, suas ideias, seus valores.

Por isso o escrevinhador insiste com as palavras, em que pese as mensagens de áudio hoje nas midias sociais substituam os textos abreviando o tempo e a distância entre o que fala ou escreve e o que ouve ou lê.

Neste tempo pré-eleitoral, nunca a leitura foi tão necessária e útil ao discernimento. Único escudo capaz de deter as fakes news e os tais vídeos curtos de banalidades das redes sociais que iluminam e enchem os olhos de crianças até idosos com valores cada vez mais distantes daqueles tidos como normais.

Na política deste ano, só para citar um exemplo, podemos perguntar: -- Quem será capaz de conhecer, se não através da leitura acurada, o programa de governo dos 151 candidatos que disputam as 8 vagas para a deputado federal; ou as propostas apresentadas pelos 375 candidatos que disputam as 24 vagas para deputado estadual no Mato Grosso do Sul?

Eleição é um patrimônio muito caro aos brasileiros pois lhes garante escolher quem irá os governar e representá-los por 4 anos. Mais que um dever, é um direito inalienável, uma conquista constitucional que deve ser valorizada por cada cidadão.

Mas isso só terá êxito se cada um exercer esse direito com conhecimento e responsabilidade, votando em quem lhe apresentou a melhor proposta, entre tantos. É preciso conhecer a história de vida e ações do candidato, bem como aprofundar suas propostas através de um instrumento imprescindível: a leitura, para se poder ver, julgar e agir com o nosso próprio saber.


Brasilândia-MS, 17 de setembro de 2022.

Imagem: Governador Wilson Barbosa Martins (ao lado da esposa Nelly Martins, o deputado Akira Otsubo e a prefeita Marilza Maria Rodrigues do Amaral) recebe do autor um exemplar do livro Ofaié, morte e vida de um povo (Autoria da Foto: Ritsuko Katsumata Benicio,1998).

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