Ler, julgar e agir em tempo de política.
Carlos Alberto dos Santos Dutra
A questão – diria eu –, não se prende tanto ao porque escrevo,
mas para quem escrevo. Sobretudo num tempo onde cada vez menos se lê e
nos distanciamos das palavras, contextos e significados. Pode ser um paradoxo:
pouco se lê mas ainda assim insistimos em escrever.
A explicação para a insistência na escrita – diria eu --, seria uma nobre justificativa para se incentivar à leitura. E não estou falando dos clássicos da literatura universal cujos pensamentos, excertos deles, de
quando em vez, são lançados pelo Facebook causando admiração a todos.
Tais frases, assim escritas, ainda que descontextualizadas muitas
vezes, se apresentam como um libelo e convite à leitura. Não raro despertando o
interesse do leitor ao aprofundamento sobre algumas obras, muitas delas referenciais de
vida para a humanidade.
Por isso o escritor escreve. Mesmo que uma rápida nota, ou artigo num
blog raramente visitado. Mas ele teima em semear letras e palavras ao vento na
esperança de que elas pousem, tal qual semente, sobre o coração de algum viajante
em busca de um horizonte azul.
-- É para este universo que escrevo, teria dito na ocasião ao jovem que me interpelou. Escrevo
para aquele que não se contenta em ver o mundo somente, mas deseja também entendê-lo
para transformá-lo. Sobretudo no mundo das ideias, onde as palavras tem o dom
de iludir ou discernir, dependendo do meu ponto de vista, dependendo de onde me
situo no lugar onde vivo, suas ideias, seus valores.
Por isso o escrevinhador insiste com as palavras, em que pese as
mensagens de áudio hoje nas mídias sociais substituam os textos abreviando o tempo e a distância
entre o que fala ou escreve e o que ouve ou lê.
Neste tempo pré-eleitoral, nunca a leitura foi tão necessária e útil ao
discernimento. Único escudo capaz de deter as fakes news e os tais vídeos
curtos de banalidades das redes sociais que iluminam e enchem os olhos de crianças até idosos
com valores cada vez mais distantes daqueles tidos como normais.
Na política deste ano (2022), só para citar um exemplo, poderíamos nos perguntar: --
Quem será capaz de conhecer, se não através da leitura acurada, o programa de
governo dos 151 candidatos que disputam as 8 vagas para a deputado federal; ou
as propostas apresentadas pelos 375 candidatos que disputam as 24 vagas para
deputado estadual no Mato Grosso do Sul?
As mesmas perguntas poderiam ser feitas para os candidatos das eleições atuais.
Eleição é um patrimônio muito caro aos brasileiros pois lhes garante
escolher quem irá os governar e representá-los por 4 anos. Mais que um dever, é
um direito inalienável, uma conquista constitucional que deve ser valorizada
por cada cidadão.
Mas isso só terá êxito se cada um exercer esse direito com
conhecimento e responsabilidade, votando em quem lhe apresentou a melhor proposta, entre tantos. É preciso conhecer a história de vida e ações do candidato, bem como aprofundar suas propostas através de um instrumento imprescindível: a leitura, para se poder ver, julgar
e agir com o nosso próprio saber.
Brasilândia-MS, 17 de setembro de 2022.
Imagem: Governador Wilson Barbosa Martins (ao lado da esposa Nelly Martins, o deputado Akira Otsubo e a prefeita Marilza Maria Rodrigues do Amaral) recebe do autor um exemplar do livro Ofaié, morte e vida de um povo (Autoria da Foto: Ritsuko Katsumata Benicio,1998).
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