Ler, julgar e agir em tempo de política.
Carlos Alberto dos Santos Dutra
A questão – diria eu –, não se prende tanto ao porque escrevo,
mas para quem escrevo. Sobretudo num tempo onde cada vez menos se lê e
nos distanciamos das palavras, contextos e significados. Pode ser um paradoxo:
pouco se lê mas ainda assim insistimos em escrever.
A explicação para a insistência na escrita – diria eu --, seria uma nobre justificativa para se incentivar à leitura. E não estou falando dos clássicos da literatura universal cujos pensamentos, excertos deles, de
quando em vez, são lançados pelo Facebook causando admiração a todos.
Tais frases, assim escritas, ainda que descontextualizadas muitas
vezes, se apresentam como um libelo e convite à leitura. Não raro despertando o
interesse do leitor ao aprofundamento sobre algumas obras, muitas delas referenciais de
vida para a humanidade.
Por isso o escritor escreve. Mesmo que uma rápida nota, ou artigo num
blog raramente visitado. Mas ele teima em semear letras e palavras ao vento na
esperança de que elas pousem, tal qual semente, sobre o coração de algum viajante
em busca de um horizonte azul.
-- É para este que escrevo, teria dito na ocasião ao jovem que me interpelou. Escrevo
para aquele que não se contenta em ver o mundo somente, mas deseja também entendê-lo
para transformá-lo. Sobretudo no mundo das ideias, onde as palavras tem o dom
de iludir ou discernir, dependendo do meu ponto de vista, dependendo de onde me
situo no lugar onde vivo, suas ideias, seus valores.
Por isso o escrevinhador insiste com as palavras, em que pese as
mensagens de áudio hoje nas midias sociais substituam os textos abreviando o tempo e a distância
entre o que fala ou escreve e o que ouve ou lê.
Neste tempo pré-eleitoral, nunca a leitura foi tão necessária e útil ao
discernimento. Único escudo capaz de deter as fakes news e os tais vídeos
curtos de banalidades das redes sociais que iluminam e enchem os olhos de crianças até idosos
com valores cada vez mais distantes daqueles tidos como normais.
Na política deste ano, só para citar um exemplo, podemos perguntar: --
Quem será capaz de conhecer, se não através da leitura acurada, o programa de
governo dos 151 candidatos que disputam as 8 vagas para a deputado federal; ou
as propostas apresentadas pelos 375 candidatos que disputam as 24 vagas para
deputado estadual no Mato Grosso do Sul?
Eleição é um patrimônio muito caro aos brasileiros pois lhes garante
escolher quem irá os governar e representá-los por 4 anos. Mais que um dever, é
um direito inalienável, uma conquista constitucional que deve ser valorizada
por cada cidadão.
Mas isso só terá êxito se cada um exercer esse direito com
conhecimento e responsabilidade, votando em quem lhe apresentou a melhor proposta, entre tantos. É preciso conhecer a história de vida e ações do candidato, bem como aprofundar suas propostas através de um instrumento imprescindível: a leitura, para se poder ver, julgar
e agir com o nosso próprio saber.
Brasilândia-MS, 17 de setembro de 2022.
Imagem: Governador Wilson Barbosa Martins (ao lado da esposa Nelly Martins, o deputado Akira Otsubo e a prefeita Marilza Maria Rodrigues do Amaral) recebe do autor um exemplar do livro Ofaié, morte e vida de um povo (Autoria da Foto: Ritsuko Katsumata Benicio,1998).
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