segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Na Paz, seu Domingos se encontra com Maria, sua Mãe.

Carlos Alberto dos Santos Dutra


 







A porta da Igreja ainda  não se encontrava aberta. Mas ele já estava lá com o olhar comprido em sua direção. A laje do banco da praça ainda guardava o calor da tarde que declinava, enquanto os primeiros raios de luz das estrelas começavam a pontuar sobre seus cabelos levemente brancos. Logo outros amigos lhe fariam companhia sentando ao seu lado, igualmente esperando o milagre acontecer.

Todas as quartas-feiras, raras vezes faltando, lá se encontrava seu Domingos Leite Soares com o terço na mão adentrando aquele espaço e distância entre seus pés e a porta da Igreja. Caminhando lentamente, por vezes trôpegos devido à idade e as doenças que lhe faziam companhia nos últimos anos, lá se dirigia ele para aquele seu encontro semanal.

Bem ao seu estilo e elegância, caminhava ereto e com olhar que mirava longe. Um leve sorriso no rosto demonstrava quando alguém lhe dirigia a palavra. Comedido e com o aspecto de um sábio, inspirava paz a quem dele se aproximava. Mesmo que pouco falasse, dizia muito o seu silêncio que alcançava longe.

As amizades, a família, o trabalho e as dores, quando adentrava o templo, tudo lhe parecia secundário. Tamanho encantamento que dele se apropriava, no momento em que seus olhos sobre Ela pousavam. A vista parecia faltar-lhe para tanto brilho e acolhimento que d’Ela desprendia a quem dela se aproximava.

Não. Não podia tocar-Lhe e tampouco se sentia merecedor. Apenas se ajoelhava e deixava que o perfume e as flores que caiam do céu pousassem sobre sua cabeça. Neste momento o coração lhe apertava e sentia-se querido e amado tal qual um filho junto de sua mãe.

Filhos, família, amigos, teve tantos. Pais, esposa, parentes, também os teve. Só que o tempo, aos poucos, foi-lhe roubando um a um, restando-lhe raros encontros e abraços de acolhida. Coisas da vida, com o que já não se importava mais, enquanto caminhava, quando ao lado d’Ela se encontrava.

E ali, diante da Santa Virgem Maria, mãe de Deus e daquele filho gentil, ele se dava conta do quanto era feliz, voltando quase ser aquele menino nascido em Montes Claros. Ainda preso ao cordão umbilical da mãe, desde o dia 9 de setembro de 1939, quando nasceu, por 83 anos manteve-se ligado, segurando firme, por semelhança, as contas do rosário que sempre rezou, confirmando sua devoção e fé.

Quando os anjos vieram buscá-lo, tiveram dificuldade de entender os parentes e amigos que havia chegado a hora dele partir. A hora daquele filho se encontrar pessoalmente com sua Mãe do Céu havia chegado.

Caminho que ele havia preparado, em silêncio, ao dedilhar cada conta do rosário às quartas-feiras na comunidade Cristo Bom Pastor que frequentava e que hoje dele se despede, no dia em que ele celebra a sua Páscoa definitiva.

Descanse em Paz seu Domingos Leite Soares. Interceda por nós junto à Virgem!

Brasilândia/MS, 19 de setembro de 2022. 


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