José Leite de Noronha, o sindicalista da terra nos deixou.
Carlos Alberto dos Santos Dutra
Tem dias que amanhecem sombrios e nostálgicos nos fazendo parar no
tempo e refletir sobre o sentido da vida. O dia de hoje foi um deles, quando a
chuva, que pareciam lágrimas, nos conduziram ao recolhimento, à memória.
Há trinta dias, nesta tarde, minha mãe, dona Laura partia. Primeiro
mês sem ela, sem o seu sorriso, sem a sua alegria, sem a sua magia de tudo
transformar em paraíso...
E como se a dor não fosse suficiente, eis que a notícia do falecimento
do Sr. José Leite de Noronha também nos chega para fazer companhia neste momento
de profundo pesar.
Por diversas vezes tive a oportunidade de celebrar ao lado do seu Zé
Leite, como era conhecido. Celebração de lutas, conquistas, derrotas, vitórias.
Mas acima de tudo celebração da vida, da fartura de força que de seus braços e
coração brotavam.
Há dois anos, quando completou 60 anos de casado, ao lado da esposa, Srª Maria Cosmo de Noronha, tive a honra de estar ao seu lado rogando a Deus bênçãos sobre o casal, oportunidade em que pude manifestar um pouco da admiração desta comunidade de Brasilândia em relação à sua pessoa.
E a fiz em versos que passo agora a
reproduzir; tudo para demonstrar que a vida não acaba com a morte; apenas recomeça, tanto para quem parte, como para quem fica.
Aquele que parte irá trilhar novos caminhos por nós ainda insondáveis e que somente a ele dizem respeito. Aos que ficam, igualmente, cabe recomeçar a
caminhada iniciada por aquele que se foi, honrando-o e perenizando no tempo sua memória e seus feitos de glória que confortam a alma e o espírito da esposa,
filhos, familiares e amigos.
Depois de 88 anos de caminhada, descanse em paz, amigo de tantas jornadas agrárias, seu José Leite de Noronha, nosso sindicalista da terra no céu.
Brasilândia/MS, 21 de setembro de 2022.
Homenagem ao Casal
José Leite de Noronha e Maria Cosmo de Noronha
1- Amigos aqui presentes
Hoje é um dia especial
Pois a vida conjugal
Do seu Zé Leite e Maria
Festeja com alegria
Suas bodas de diamante.
E foi assim, num instante
Que um filho de Caetés
De Garanhuns, através.
De uma data memorável
Nascia este cabra saudável
Era 7 de setembro
Ano 34, eu me lembro
E logo ele virou moço
Foi no meio do alvoroço
Da guerra e revolução.
Para defender a nação
No Exército se alistou
Mas o comandante falou:
Serviço militar: - dispensado.
E lá se tocou o soldado
Sem farda, buscando a sorte
Resolveu deixar o Norte
Foi pra São Paulo animado.
2- Sua história foi assim:
Começou no interior
Junqueirópolis, sim senhor.
Trabalhou de diarista
E por ser idealista
Foi exímio professor
Dos filhos de seu senhor
Dono das terras, e os seus
Foi um dom que Deus lhe deu
Alfabetizar num estalo.
Na fazenda Canta Galo
Onde ele foi trabalhar
Ensinou ler e a contar.
Mas a coisa ficou boa
Co’a chegada de Alagoas
De famílias pro algodão
Prá colheita, e nosso irmão
Vendo aquele pau de arara
E o trem chegando, tomara.
Adamantina, o destino.
Mas o coração do menino
Brioso e trabalhador
Notou no rosto um rubor
De um olhar bem feminino.
3- Em meio aquela gente
Lá estava aquela jovem
Que beirava os dezenove
Ele já com 24
Não ia fazer teatro
Pois tinha pedido a Deus
Que era um desejo seu
Uma esposa arrumar
Para com ela casar.
E foi o que aconteceu
Quando o dia amanheceu
Zé e Maria, casados, felizes
Foram brotando raízes
Nasceu a primeira filha
Foi engrossando a família:
10 filhos e mudou de rumo
Santa Mercedes, me aprumo
Se tornou um comerciante
Para depois ser sitiante
Partindo prá Ouro Verde.
Mas só viu tapete verde
Quando pisou nesta terra
Brasilândia que encerra
Cerrados e cana-verde.
4- Foi aqui na Brasilândia
Que nasceu a sua caçula
Filha que mãe sempre adula
Zelosa de muitas datas
Verdadeira mãe-da-mata
Dona de casa, cozinheira
Criar filhos, costureira
Professora no bordado
Naquele lar tão sagrado
Ao lado do companheiro
Zé que também foi fazendeiro
E sindicalista por anos
16, se não me engano.
A frente do Sindicato
Trabalhadores de fato
Numa longa trajetória
60 anos de história
Bodas de diamante celebra
Resistência que não quebra
Casal unido, fraterno
Que suportou o inverno,
A chuva, também o sol de verão
Compromisso que fez, farão
Selando o amor eterno.
5- Ah, seu Zé Leite de lutas.
Impossível não lembrar
Ensinou gente a sonhar
Por um chão e liberdade.
E, sem nenhuma vaidade
Dedicou-se aos sem-terra
Pregou a paz, não a guerra
Mas com força e decisão
Acolhendo os irmãos
Pelos campos acampados
E passou uns maus bocados
Numa luta desigual
Verdadeira pastoral
Que imprimiu no sindicato
Do mais velho ao novato
Deu esperança ao povo
Fez brotar o sangue novo
Reforma Agrária esperada
Que ao lado de sua amada
Esposa, filhos e netos
Sempre contou com o afeto
Mesmo assim, sem entender
O que fazia aquele homem ser
Tão dedicado e correto.
6- Homem, assim, é raridade.
Tão dedicado operário
Verdadeiro relicário
Não cansa no dia-a-dia
Sorri a esposa Maria
Ao ver o seu Zé confiante
Olhando sempre o horizonte
Parecendo sempre moço
E no meio do alvoroço
Sempre aconselha com calma
Para a família é a alma
Que nasceu do amor primeiro
Compromisso verdadeiro
Há 60 anos passados
Deram-se as mãos lado a lado
Vida juntos que plantaram
Flores, frutas que vingaram
Embelezou o caminho
Que hoje colhe com carinho
Nesta festa radiante
É as bodas de diamante
Deste casal e seu ninho!
Homenagem ao Senhor José Leite de Noronha e Senhora Maria Cosmo de Noronha declamada pelo autor durante a Celebração de Bodas de Diamante, em Brasilândia/MS, no dia 4 de janeiro de 2020.
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