sábado, 9 de novembro de 2024

 

A hipocrisia, a simplicidade e o gazofilácio.

Carlos Alberto dos Santos Dutra





Duas mensagens marcam as leituras neste 32º Domingo do Tempo Comum. Os que mais repartem são os que menos têm. A mulher de Serepta (1Reis 17, 10-16) e a viúva do Templo de Jerusalém (Marcos 12, 41-44) são exemplos disso.

As leituras nos mostram também que quem ajuda é o mais beneficiado, a começar pela felicidade que o gesto de dar traz a quem doa. 

Todos nós já experimentamos essa sensação. Como ficamos felizes em saber que nossa boa ação e atenção à alguém trouxe felicidade e bem-estar, seja a um conhecido ou desconhecido. Equivale dizer que já somos aqui, naquele momento, recompensados, recebendo uma aura de gratidão que nos invade e conforta o coração.

E o resultado é que ficamos em paz e confortado por ter feito o bem, mesmo quando o nosso gesto não é entendido pelos que estão a nossa volta. Isso porque o mundo está cheio de sábios e doutores da lei, prontos para nos apontar o dedo denunciando os nossos supostos erros. 

Mas, o Evangelho de hoje vem em nosso socorro. E dirige uma palavra para aqueles que nos repreendem e não aprovam o nosso gesto fraterno.

Ah! Mas como dói saber que aquilo que fazemos espontaneamente e de coração, às vezes não é entendido e suscita a resistência de pessoas que amamos e que estão no seio de nossa própria família, nossa comunidade de fé.

É sobre este tema que as leituras de hoje gravitam e nos inspiram: o tema da hipocrisia e da vaidade, o tema da humildade e da gratidão, o tema da sinceridade e a confiança em Deus. Temas que nos fazem refletir sobre como estamos prestando nosso culto a Deus. Ele é verdadeiro e sincero de nossa parte?

Mas como saber? Que caminho tomar? 

Pela leitura da Palavra de Deus depreende-se que ao Senhor não interessa manifestações grandiosas e ritos externos cheios de brilho e apelos visuais para chamar Sua atenção.

Neste ponto Jesus Cristo é explicito. Falando há 2 mil anos para a mentalidade daquele tempo, o Evangelho revela que Jesus não aprova a prática dos fariseus: as roupas vistosas, ser cumprimentado nas praças, ocupar os primeiros lugares dos banquetes. Tudo para demonstrar que estavam, assim, mais próximos de Deus que os demais.

Contra isso Jesus alerta: Tomai cuidado com aqueles que sabem tudo de Deus, os doutores da lei que, cheios de si se acham melhores que os outros. Cuidado com os que fazem longas orações para devorar as casas das viúvas, tirando-lhes os poucos trocados do seu sustento para manter seus privilégios e caprichos. Contra estes, a sentença é imperativa: Eles receberão a pior condenação.

Portanto, a vaidade e a hipocrisia humana, herança farisaica, nunca foi do agrado de Jesus, nem ontem, nem hoje. Isso porque essa prática revela uma oração e um louvor mais preocupado com a aparência externa, para que todos vejam o quanto somos admirados por Deus. Mas Jesus sabe que o nosso Deus não vê o externo e sim a interioridade, vê o que carregamos no nosso coração.

Então. Nós, como cristãos, como haveremos de viver e agir? Qual a receita que o Evangelho nos dá neste domingo?

Podemos dizer que para prestar o culto verdadeiro e sincero a Deus devemos colocar em prática o que o próprio Cristo nos ensinou: felizes os que vivem com simplicidade e com sinceridade a sua fé; felizes os que estão a cuidar dos pobres, praticando a caridade, semeando esperança e dedicando uma palavra e um abraço ao irmão necessitado de respeito e carinho...

Acima de tudo, acolher com gratidão os desafios que a vida impõe a cada um de nós, com fé e confiança, fazendo o melhor de si, prestando o seu culto a Deus no cotidiano, durante o labor, de forma simples e verdadeira. 

Os pobres de coração sabem muito bem prestar o seu culto a Deus. É isso que nos mostram a viúva de Serepta e a viúva no Templo de Jerusalém diante do gazofilácio.


Brasilândia/MS, 09.Nov.2024.


Fonte: 32º domingo do Tempo Comum, Deus Conosco Dia a Dia, Ano 23, nº 275, Ano Litúrgico B, 10 de novembro de 2024. Imagem: A viúva pobre - Instituto Hesed.

Gazofilácio – Era uma urna ou cofre que ficava na entrada do Templo de Jerusalém e recebia as oferendas para o culto. As esmolas (moedas) ao serem depositadas soavam, percebendo-se quem depositava maior ou menor quantidade. A viúva pobre ao depositar apenas duas moedas foi observada por Jesus que transformou aquele gesto em lição salvífica para todos que ali estavam.

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