O lamento da Árvore da
Onça
Carlos Alberto dos Santos
Dutra
Lá está ela, cansada de seus longos anos. Muitos contemplaram seus antepassados, por entre o cerrado dos sertanistas que chamavam esta Copaíba (Copaifera langsdorffii), de Árvore da Onça e Pau Óleo da Folha Miúda. Era uma centelha de vida. Agora ela corre o risco de morte e desistir de vez da vida, ainda que contra a vontade.
Já não têm forças seus galhos para socorrer e dar abrigo aos pássaros do rigor da chuva e do impetuoso vento que lhe açoitava o tronco. O vigor de outrora transformara-se numa lembrança, uma saudosa sombra talvez.
A ocupação antrópica à sua volta, aos poucos foi ceifando seus rebentos pequenos, ramos parentes ligados a uma rede altiva de linhagem verde e majestosa que cobria a distância da paisagem a perder de vista. Agora, tudo ao seu redor se tornou escasso e solitário.
O que restou da antiga Copaíba são as marcas visíveis da antracnose e resinose, doenças fitossanitárias silenciosas que provocam a morte de sua seiva, definhando os tecidos de seu lenho.
O que resta, sentencia o técnico ambiental dedicado que a analisa, é a inexorável podridão geral da bitola de seus galhos. A saia adensada do seu corpo inclina-se para a direita e suas folhas, a poucos metros do chão, precipitam-se sobre o terreno em declive.
Sem qualquer preocupação de preservação ambiental, loteamentos imobiliários são traçados a partir de planilhas todo cifras do alto de escritórios de engenharia, com raras exceções, pouco se importando com a terra e a vida verde que do papel grita para ouvidos moucos.
A majestosa Copaíba será removida e pouco ou nada poderá ser feito. Um gesto intempestivo do técnico que o lamento assiste, entretanto, parece semear uma réstia de alento e esperança àquela espécie.
Ele pede ao proprietário do lote, onde a árvore se encontra, que aguarde mais uns dias, para que as sementes desta espécie cumpram o seu ciclo natural e sejam liberadas ao vento, permitindo serem recolhidas e plantadas.
E assim, a natureza possa ver os filhos dessa mãe nascer, crescer e saber de seu gesto heroico de resistência e adeus.
Igual a essa Copaíba, dezenas, centenas de árvores são removidas em lavouras, florestas plantadas, assentamentos, loteamentos, jardins e praças, todos os dias e noites.
A mão que toca aquele tronco sólido que pode ter o dobro da idade do homem que pede a sua supressão, há de sentir a força que vem da terra e fazê-lo produzir, permitindo dela nascer outras tantas Copaíba que, enfim, restarem.
Para o técnico em Agropecuária, Jorge Luís da Silva.
Brasilândia/MS, 12 de
fevereiro de 2025.
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