quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

 

Zé são-paulino: a alegria e o adeus
Carlos Alberto dos Santos Dutra

Tem pessoas que passam pela vida da gente; outras ficam guardadas no fundo do coração. São imagens, gestos e sons, frutos de nossos encontros e que absorvemos no cotidiano das relações com os amigos e parentes, e até de nossos desafetos que, nem sabemos o porquê, vão se aninhando e se aquerenciando em nosso peito e acabam posseiros para sempre, nutrindo nosso carinho, respeito e bem querer.

José Sebastião Sobrinho era uma dessas pessoas. Conhecido como Zé são-paulino, por razões óbvias, o conheci logo que aqui cheguei, no ano de 1986. Homem honrado, à moda antiga, de palavra e que primava pela honestidade, era querido por todos. A família que o perdeu naquela sexta feira, dia 15 de fevereiro de 2014, de triste memória, só tem de se orgulhar deste patriarca cujo trabalho e a alegria sempre foram a sua maior virtude. É exemplo para todos.

No campo das ideias, por ser petista de carteirinha, foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, ao lado de Irineu de Souza Brito. Entusiasta das reuniões e militância daqueles bons tempos, quando a estrela ainda defendia com bravura os pequenos em face da ditadura, quando a frestinha da liberdade e da justiça recém começava a aparecer, mesmo aqui, na longínqua Brasilândia-MS. Eta! militância de garra, quanta saudade!

Particularmente travei com ele amizade desprendida e, ao mesmo tempo, engajada. De aparência juvenil e de falar fluente, sob a aba do chapéu, poucos lhe davam valor à distância. Mas, depois de conhecê-lo e ouvir de perto sua voz, descobriam que ali, atrás daquelas feições frágeis, se escondia um grande homem e um coração imenso. Sobretudo para os que mais precisavam e os que buscavam a ajuda que nunca faltava.

Certa feita, no auge da luta dos índios Ofaié com a poderosa CESP e uma enchente que inundou as margens do rio Verde e Paraná, em 1999, foi Zé São-paulino que abriu os braços para colher o desterro dos primi ocupandi desta comunidade. E lá estava ele, zeloso, abrindo uma exceção junto ao seu patrão, na fazenda Santa Cecília, lá para os lados da Três Morrinhos, cedendo uma área para alojar os índios, mesmo que tivéssemos à época de lavrar um contrato de arrendamento para a exploração agrícola, para que os indígenas pudessem plantar arroz, diga-se de passagem, uma das melhores colheitas que os Ofaié tiveram naquele ano.

Homem disposto e desprendido nos seus negócios e sábio na lida e a vida no campo, foi o orgulho e a alegria de sua família. Mesmo depois do infortúnio daquele acidente que marcou seu coração com uma cicatriz e lhe tirou o brilho da vida, preocupação e arrependimento que carregou até seus últimos dias. Fica a saudade e a alegria para aqueles que o viram sempre solícito, otimista e esperançoso; sempre buscando inteirar-se das notícias e dos acontecimentos ligados às lutas do povo e às conquistas do partido dos trabalhadores, demonstrando ser um cidadão engajado, desses que já não se fazem mais.

Passados 11 anos de sua partida, há de descansar em paz o amigo Zé são-paulino. Com as condolências e sentimentos daqueles que o conheceram à seus familiares. Partiu, com certeza, sereno e confiante esse nosso militante, de lutas e de sonhos, levando consigo a nossa dor e saudade, para a querência do Céu. Amém.

Brasilândia/MS, 17 de fevereiro de 2025.


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