O voluntariado e a
limpeza do rio Verde
Carlos Alberto dos Santos
Dutra
O que faz um grupo de pessoas se mobilizar em torno de uma causa nobre? Que mistério encerra a condição humana que é capaz de se desprender para se dedicar a realizar algo grandioso?
Consultamos o alto de nossos brios e laços do coração para entender o porquê pessoas praticam semelhante gesto de filantropia e altruísmo quando o objeto de suas ações não se destinam a uma pessoa ou algo minimamente palpável?
Ainda mais um gesto gratuito e desinteressado feito em favor de quem comprovadamente nada de material pode dar em troca. Algo semelhante a dar esmolas ou agasalho a um mendigo que bate à nossa porta, cujos nossos olhos repousam e seu hálito de abandono nos sensibiliza.
Ainda que este gesto último
corra o risco de, um dia, ser reconhecimento e o beneficiado possa vir a
externar alguma gratidão por ter recebido a benesse, tal situação aqui não
ocorre: a oferta se dirige a um ser despido de humanidade e ornado somente
com as cores que a mãe natureza o criou e desenhou; reveste-se, pois, de
dimensão meramente cósmica e ontológica.
Mas eles estavam lá, solícitos e dispostos, lançando seus barcos nas águas, sem se importar muito com o número daqueles que aderiam àquela ousadia. Todos imbuídos de um vigor e alegria que contagiava os que se encontravam nas margens daquele rio chamado Xiurú, na linguagem Ofaié rio escuro, em razão de suas águas de outrora deslizarem rasas sobre as pedras que lhe davam um colorido turvo, o que tornava aquele rio em alguns pontos perigosos e de forte correnteza.
Hoje, suas águas deslizam mansas, imperceptíveis, por conta da represa da barragem da hidrelétrica de Porto Primavera que transformou o caudaloso rio Paraná e rio Verde num grande e estático lago de milhares de quilômetros que cobriram casas, ranchos, olarias e matas de suas margens, que contornam a saudosa lembrança dos ribeirinhos e pescadores.
Os barcos a motor e a remo partem rio abaixo e rio acima, e seus condutores devidamente equipados com seus salva-vidas, carregam sacos plásticos recolhendo o lixo acumulado e deixado por pescadores, banhistas, acampamentos e turistas que circulam pelas águas e margens desse rio.
A experiência de outros anos de limpeza dava a certeza de ali encontrar: latas de cerveja e refrigerante, garrafas de vidro e plástico, trapos de roupas, restos de comida, sofás velhos boiando nas águas, até fraldas descartáveis e preservativos, frascos de remédios e tantos outros objetos lançados ao rio e levado pelas águas que jazem acumulados nas barrancas deste rio.
Tudo é recolhido com obstinado zelo pelos voluntários, também por via terrestre, pela margem do rio, sendo o material conduzido e diligentemente trazido até o atracadouro da Jaboticabeira ali sendo colocado em caçambas para ser posteriormente descartado ou reciclado.
Naquele domingo a natureza estava em festa. Recebia o fiel grupo dos amigos integrantes da Associação dos Pescadores e o grupo Curva de Rio, para prestar homenagem àquele manancial de vida e realizar o belo trabalho de limpeza que o grupo repetia todos os anos, sempre de forma voluntária e graciosa.
Expressão de gratidão ao rio pelo muito que ele tem feito àqueles que por ali passam e buscam o frescor de suas sombras, que buscam paz e o silêncio das águas, para o seu lazer, a pesca e recolher o alimento saboroso de suas águas: o peixe, podendo ali mesmo ser preparado e degustado sem cerimônia alguma, como uma dádiva de Deus.
Gesto também que é uma forma de chamar a atenção da comunidade brasilandense e da região, sobre a importância da conservação dos mananciais de águas, desde os pequenos córregos até os encorpados rios, que precisam de proteção e cuidados, sobretudo as suas nascentes e matas ciliares.
A ação deste grupo voluntário é uma bênção para os que amam a natureza. E para os demais, um lenitivo para os descuidados e desatentos para a importância de se manter o rio Verde vivo. É nestas águas que sobrevivem os rebentos neste berçário de vida essencial para a continuidade e fartura da pesca e, por conseguinte, para sobrevivência do homem.
Parabéns Associação dos Pescadores, Grupo Curva de Rio, voluntários e participantes, entidades e instituições públicas como as Secretarias Municipais da Prefeitura Municipal de Brasilândia que deram o suporte e apoio para que este evento solidário ocorresse repleto de êxito, o que a natureza agradece.
Brasilândia/MS, 16 de
fevereiro de 2025.
Foto: https://www.facebook.com/jeffinhoson.brasilandia
Associação de Pescadores e Curva de Rio
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