O menino e a alegria de seu Teixa e dona Tina.
Carlos Alberto dos Santos Dutra
Diz o ditado que “o trabalho dignifica o homem”. A frase cunhada pelo sociólogo Max Weber sempre foi um lema para aquela família que, mesmo sem conhecer o economista alemão falecido em 1920, contemporâneo de seus ancestrais, sempre soube enfrentar o desafio das intempéries e o devaneio dos homens, suas guerras e lutas intestinas.
Agora, o clima é de paz e segurança nutrido pela lembrança das águas e a abundância do mar que abranda sua fúria e descansa calmo no espraiado da areia. Tudo ao redor é graça e beleza que permite a leveza dos passos descalços alcançar o frescor da vida e a felicidade de se estar em casa e ter um lar.
O olhar da mãe contempla aquele menino de olhos azuis e pele muito clara, num tom próximo ao rosado, que sorri e corre entre as rosas do quintal da casa. Dona Albertina, sempre preferiu rosas à outras flores, embora a todas elas dedicasse atenção e cuidado. Parecia que elas entendiam o seu jeito de ser e viver.
Ao lado do esposo, cultivava uma vida simples, comum a maioria dos imigrantes do seu tempo, e que se encontravam espalhados por aquele imenso país chamado Brasil que os acolheu indistintamente, mesmo que tivessem de alojar-se em lugares distantes num cantinho daquela imensidão de terras sertão a dentro.
Um apito alto e retumbante a faz despertar do presente e, numa onda de nostalgia e saudade que lhe percorre a espinhas, se descobre nos braços do vento que a embala sustentada pela quilha do navio que avança. Deixa para trás, por entre as brumas, as lembranças do avô Christian Landgraf, da mãe Antônia Landgraf Braun e do pai Fernando Braun.
Albertina Landgraf Braun Höffig, alcunhada ainda pequena com o nome de Tina, parece ver, pelos olhos do esposo, o passado de insegurança e medo que já não existe mais. Seu Cristiano Höffig, que recebeu o apelido de Teixa na fazenda Criciumal, em Pirassununga, cidade onde nasceu, ainda guarda na memória a profissão de cuteleiro do pai, Floriano Louis Höffig, que herdou do avô Augusto Höffig, na distante Zossen, Brandemburgo, Alemanha.
Pirassununga foi uma das cidades do interior paulista que mais recebeu imigrantes alemães, suíços e austríacos que se instalaram na região como trabalhadores nas plantações de café, e que aos poucos foram incorporados à população local, a ponto de os descendentes das gerações seguintes esquecerem por completo o idioma alemão.
O navio já não avança mais pelas águas da insegurança e não há mais medo à sua frente. O menino Arthur Höffig, nascido no dia 21 de maio de 1912 não recorda o temor da 1ª guerra que abalou o mundo durante a sua infância. O braço firme do pai, em seus sonhos, com certeza o fez crescer forte, à semelhança de um cutelo forte, de cabo de madeira e aço bem afiado para desvendar o mundo e transformá-lo num homem.
O menino que corre à sua frente e é observado pela sua irmã Ondina já não se encontra mais aqui. Tampouco os olhos daquela mãe perfumada e carinhosa para afagar o cabelo de seu menino. Dona Tina faleceu em 1984, aos 94 anos de idade, porém, ainda em tempo de dar seu último adeus ao filho Arthur, falecido no dia 28 de abril de 1983 em Cornélio Procópio.
Hoje, a família Höfig festeja a memória dos feitos de um menino que não desistiu de sonhar. Libertou suas asas planando sobre o passado hostil deixando-as livres para voar. O filho do cuteleiro Cristiano Höffig, tornou-se professor, aviador, servidor público, agricultor e pecuarista; fundador de instituições, cidades, fazendas e empresas, cujo nome é ostentado em ruas e avenidas, prédios, bustos e portais de cidades, tudo em sua homenagem.
Seu Teixa e dona Tina, têm razões de sobra para festejar no céu, com alegria e júbilo, os feitos de seu pequeno grande Arthur: ele cresceu e causou, enquanto viveu, toda a alegria que um pai e mãe poderiam desejar.
Aqui em Brasilândia, este pioneiro construtor da cidade, e que em 10 de fevereiro de 1950, aos 37 anos de idade, teve a ousadia de fundar a empresa que hoje aniversaria é o grande homenageado e merecidamente saudado.
Os sonhos do menino Arthur perenizaram no tempo pelos laços de sangue dos que herdaram a fibra cuteleira do avô e bisavô empreendedor e patriarca desta marca que pode, sim, ser com orgulho pronunciada: Agropecuária AH!
Brasilândia/MS, 10 de fevereiro de 2025.
Homenagem aos 75 anos da Agropecuária AH.
Fonte: História e Memória de Brasilândia, Vol. IV – Desenvolvimento, pág. 125s, e Vol. I - Pioneiros, pág. 122s; Site da Árvore Genealógica Hofig; Pirassununga | imigracaoalemasp.
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