quarta-feira, 28 de julho de 2021

 Ariovaldo Carlos de Oliveira: as mãos e o trabalho de um homem de bom coração.


 






Um dia existiu um homem que olhava o mundo a sua volta de forma diferente. De origem rural e formação humilde contentava-se em apreciar o nascer do dia desde os primeiros raios de sol de cada manhã. Ficava horas mirando o horizonte como se estivesse conversando com a estrela maior que despertava, a ponto de, às vezes, nem perceber que pé ante pé uma menina de rosto rosado se aproximava jogando-se inteira nos seus braços.

Pouco se importava e nem reparava as mãos calejadas do pai: o que ela queria mesmo era abraçá-lo e estar junto de seu astro-rei o resto dia. Tudo se transformava de repente e tudo parecia um sonho. Mas a menina e o irmãozinho ao seu lado, permaneciam ali, olhando, sorrindo, acenando, como se dele estivessem lembrando e vendo aquele vulto pela última vez.

O carinho e a presença dos filhos, Ariani e Henrique, sempre foram o maior tesouro que aquele homem carregou no coração e nos braços. Com o mesmo amor que devotava à esposa Nina, de candura inigualável, sua dedicação aos filhos era uma verdadeira oração. Juntos formavam o mais belo par. Algo que o jovem Ariovaldo Carlos de Oliveira sempre sonhou em construir e foi abençoado com este presente do céu: a sua amada e respeitada família.

E lá encontramos o pai, seu Andrelino Carlos de Oliveira, carinhosamente chamado por todos de seu Ico, e dona Dorvina Pereira Oliveira, mãe guerreira regendo a orquestra de uma família de dez filhos, em busca de  um jeito de lhes dar nomes que facilitasse chamá-los sem confundir-se. E assim foi, na medida em que iam nascendo foram recebendo o nome, todos com a letra ‘A’: Ariovaldo (Ari), Anadir, Ariobaldo (Badim, falecido), Adalto (falecido), Adalberto (Branco, falecido), Ademar (Zino, falecido), Adelmo (), Analzira, Nilton (César), e Alessandro (Britinho).

O filho mais velho nestas horas, ao lado do pai, era o esteio da casa. Foi no convívio íntimo com a mãe, e a responsabilidade de ajudar a criar os irmãos que o jovem Ariovaldo foi moldando o caráter e sedimentando o encargo que o transformou num homem e o fez ainda muito novo trabalhar nas fazendas com o pai para ajudar a sustentar a família. Tal exigência se, por um lado lhe conferiu respeito e independência, por outros o afastou dos estudos, tendo concluído somente a quarta série na fazenda onde trabalhava.

Sua família era natural da região de Três Fronteiras, no estado paulista, mas, no ano de 1956 aportaram no município de Brasilândia, quando foram trabalhar na fazenda São João. Foi ali que o jovem Ari e a família de seu pai trabalharam por trinta anos para a família Ferreira, que eram donos das fazendas São João e Barra do Cedro, cuidando de lavoura e pecuária.

Mas para o jovem Ari, que havia nascido no dia 25 de novembro de 1950, foi em terras brasilandenses que ele fez sua verdadeira história. Embora tenha estudado somente as séries iniciais numa escola que funcionava na Cabeceira Perdida, ele sempre se mostrou muito interessado e conhecedor da ciência da matemática e da dinâmica dos números: fazia cálculos sempre de cabeça sem o auxílio de lápis (e muito menos calculadora que nem existia na época) e, como recorda a filha Ariani: - ele carregava sabedoria de quem tinha a experiência e amor pela família.

Quem o conheceu em Brasilândia, logo percebia que ele amava e conhecia palmo a palmo esta cidade e sua gente. Desde a infância e juventude, e depois já homem feito, sempre era visto indo e voltando para o trabalho em sua bicicleta Monark barra forte vermelha, recorda a filha Ariani. Ele teve várias mas sempre da mesma cor e modelo, sorri com saudade.

Nas horas de folga, o seu lazer era jogar bola. Torcedor desde pequeno do time do São Paulo, sempre gostou do esporte, em especial do futebol de campo. Isso sempre foi uma alegria para aquele moço de olhar cabisbaixo e um enorme coração poder correr com a bola nos pés pelos campos em jogos pelas fazendas quando eram realizados torneios, muito comuns em tempos passados. Quando sabia que ia acontecer um desses eventos, mesmo em lugares distantes, ele sempre dava um jeito de ir: muitas vezes, a pé ou a cavalo para jogar bola.

Ainda moço, aos 24 anos de idade, casou com Nina Miranda de Oliveira, de 21 anos, e que conhecera alguns anos antes. O casamento ocorreu no dia 31 de julho de 1976 em cerimônia religiosa realizada na igreja matriz da Paróquia Cristo Bom Pastor, e celebrado pela Irmã Maria Aparecida, da Congregação das Missionárias de Jesus Crucificado que administrava a paróquia na época.

Dessa união o casal teve dois filhos: Ariani Miranda de Oliveira Menezes e Jorge Henrique de Oliveira. Rebentos que frutificaram para a alegria dos avós brindando-lhes três netos: Matheus, hoje com cinco anos; Arthur, com dois anos, e Davi, com um ano e meio de idade. Já com família formada, no ano de 1985, seu Ariovaldo mudou da fazenda Barra do Cedro para a sede do município de Brasilândia, de modo que os filhos pudessem estudar.

Depois de ter trabalhado na lida do campo, desde as condições mais humildes, passando por cerqueiro [alambrador] e administrador de fazenda, concluiu sua trajetória de vida como servidor municipal. O fardo da vida que carregou, entretanto, nunca fez com que esmorecesse. Permaneceu sempre disposto para trabalhar, alimentando o gosto pela música caipira e assistir seus jogos de futebol.

E olha lá o avô, agora curtindo e brincando com os netos que eram sua maior paixão. O amor era tanto que, soluça a filha ao recordar, ele antes de falecer pediu para beijar a foto dos netinhos. Ver o filho formado era  outro sonho que seu Ari alimentava. E pode realizá-lo ao vê-lo cursando já o quinto ano de Medicina, muito próximo de dar-lhe completa alegria.

Entre as tristezas que a vida lhe reservou e que ele guardava no silêncio de seu coração estava a morte do pai, seu Andrelino, falecido em 30 de agosto de 2001 aos 82 anos de idade; e a perda dos irmãos: Adalto, Branco, Zino e Badim. Quando descobriu que estava com câncer ele e sua esposa mudaram para a cidade de Dracena/SP, onde a filha Ariani residia. A filha recorda que durante o tratamento o pai falava que depois, quando fosse curado iria voltar para terrinha amada, Brasilândia.

Mesmo com as dores da metástase óssea, ele sempre falava que o difícil não era a doença e sim não poder trabalhar. Homem acostumado ao labor, sempre que as pessoas perguntavam como ele estava ele prontamente  respondia --estou bem, estou melhorando, com um sorriso inocente no rosto. Mesmo nos piores momentos de dor ele nunca reclamou da sorte. Sempre muito positivo e, com sorriso, encarou a vida sempre de frente.

Esse foi o legado que seu Ariovaldo deixou para a esposa, os filhos e os netos: um  exemplo de dedicação como esposo, um pai carinhoso e presente, e que plantou  no coração de cada um de seus rebentos o orgulho de vê-lo sempre lutando para à família nada faltar.

Orgulho igual sentia o pai, agradecido, enquanto seu rosto queimado pelo sol conversava  com a aurora de cada dia: era todo gratidão pela família, pela esposa fiel e dedicada, pela filha bancária e pelo filho que em breve há de ser um médico. Lições de humildade e perseverança que todas as manhãs lhe animavam. E que permaneceram guardadas na alma, até o dia em que a dor já não lhe causou mais qualquer sofrer.

Ariovaldo Carlos de Oliveira faleceu no dia 23 de julho de 2021, com 71 anos de idade deixando um rastro de admiração e saudade. Descanse em paz amigo Ari, homem de um bom coração.

 

Brasilândia/MS, 28 de julho de 2021.


























Fotos e texto redigido com informações fornecidas pela filha Ariani Miranda de Oliveira Menezes, em 27 de julho de 2021. 

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