Por onde anda o Fórum dos Usuários do SUS de Brasilândia?
Carlos Alberto dos Santos Dutra
O sonho da municipalização da saúde nasceu com a Constituição de 1988, e
se tornou realidade com a Lei
8080/90, que criou o Sistema Único de Saúde, o SUS. Sua implantação efetiva,
entretanto, deu-se somente em 1996, com a instituição da Norma Operacional
Básica – NOB
01/96, que consolidou a política de municipalização da saúde no Brasil.
Política essa regulamentada pela Norma Operacional da Assistência à Saúde
– NOAS-SUS
01, de 2001, que ampliou as responsabilidades dos municípios na Atenção
Básica e criou mecanismos para o fortalecimento da capacidade de gestão do
Sistema Único de Saúde, ao lado de outros avanços.
Entre os mecanismos de gestão da saúde nos municípios encontram-se os Conselhos
Municipais de Saúde, de configuração paritária e responsáveis pela dinâmica
do controle social a ser exercido pelos gestores, trabalhadores em saúde e
usuários. Conselhos estes escolhidos pelos segmentos que o compõem, entre eles,
o de maior peso, os usuários que representam 50% contra 25% de representantes
dos gestores em saúde e 25% dos trabalhadores em saúde
Em 2011 a 14ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em Brasília, nos meses
de novembro de dezembro, proclamou o SUS como patrimônio do povo
brasileiro. Naquele ano, a 7ª Conferência Estadual de Saúde aqui em Mato
Grosso do Sul aprovou o documento chamado Carta
Pantanal onde 400 delegados elegeram a estratégia de gestão
participativa como forma de se alcançar o controle social.
O ponto alto desta Conferência, sem dúvida, foi ter aprovado como meta
no Estado: Implantar ou reestruturar o funcionamento dos Fóruns
Permanente dos Usuários e dos Trabalhadores do SUS nos municípios de MS,
estabelecendo um canal democrático de participação, comunicação direta com os
usuários e trabalhadores do SUS, ouvindo, encaminhando, acompanhando e
respondendo às suas manifestações junto aos Gestores do SUS.
Nos grandes municípios esses Fóruns de Usuários existem
e funcionam. Em Campo Grande, por exemplo, participam dele cerca de 80
entidades. E são atuantes. Às vezes mais combativos que os próprios Conselhos
Municipais de Saúde, pois esses, muitas vezes experimentam a alta
rotatividade de seus membros, a falta de capacitação e a cooptação pelos
gestores e agentes políticos locais.
Tudo isso faz com que esses Fóruns
se transformem na última esperança dos usuários em fazer valer sua voz e direitos,
configuram-se em excelentes espaços de participação e debate sobre a saúde dos
municípios. Em Brasilândia, isso pode ser medido através das mais de 40
entidades civis não governamentais que existem, incluindo 3 sindicatos e 7
conselhos paritários, além de 21 entidades e instituições de cunho
confessional. Eis aqui a força do controle social local, não somente no tocante
à área da saúde, uma vez que o município possui um total de 65 entidades da sociedade civil para apoiar e fiscalizar 51
instituições governamentais.
Não obstante, a tomada de consciência sobre a realidade local não alcança a
todos de maneira uniforme, e o povo desconhece a força e responsabilidade que
tem. Por isso os Conselhos e os Fóruns de usuários encontram dificuldade
para impor-se na sociedade e mostrar que essas instâncias existem para estimular
a participação comunitária no controle, na manutenção e no desenvolvimento das
ações de saúde, bem como para fiscalizar a aplicação dos recursos destinados à
saúde.
Pois foi neste espírito de colaboração e comprometimento que o Fórum
Permanente dos Usuários do SUS, o FUSUS de Brasilândia venceu seus primeiros
passos desde a fundação em 10 de maio de 2011 pelos braços de seu primeiro
coordenador, Jair Bezerra Xavier,
representante da Associação ACOJAC, do Jardim Camargo, depois passando a
coordenação a João Brito de Souza,
representante da Associação de Produtores Agroecológicos de Subsistência
Familiar-APASF, do Reassentamento Santana.
A exemplo do Conselho Municipal de Saúde que iniciou seus trabalhos lá nos idos
1993, sob a coordenação do secretário Alberto
Kobayashi, 19 anos depois, lá se encontravam os integrantes do Fórum dos
Usuários-FUSUS de Brasilândia – representantes das entidades Sinais do Reino
Sócio Ambiental-SR Brasil; Pastoral da Criança; Sindicato dos Trabalhadores
Rurais; Associação Comunitária Jardim Camargo-ACOJAC; Instituto
Cisalpina de Pesquisa e Educação Sócio Ambiental; Associação de Moradores
do Parque João de Abreu-AMPAJA; Associação de Paes e Amigos dos
Excepcionais-APAE, entre outras -, reunidas discutindo a Saúde no município.
Passados 28 anos daqueles tempos primeiros, a simplicidade e o despojamento
de outrora é possível percebê-las no registro fotográfico da época. Eram cadeiras
simples de madeira, no plenário da Câmara Municipal, mas o empenho altruísta dos
pioneiros que compunham o Conselho era admirável.
E o exemplo vingou e prosperou. Neste tempo de pandemias, onde os
recursos financeiros para a saúde têm fôlego e aportam aos montes nos cofres
públicos de Estados e Municípios, mais do que nunca, a função deliberativa e
fiscalizadora desses Conselhos e Fóruns de usuários se fazem necessárias.
Tudo de modo a assegurar a justa e transparente aplicação do erário, demonstração
de lisura e garantia de que a confiança do povo em seus gestores locais deitou sólidas
raízes no tempo e na história; e fez florescer a paz social desejada pela comunidade.
Brasilândia/MS, 12 de julho de 2021.
Foto: Conselho Municipal de Saúde reunido na Câmara Municipal de Brasilândia/MS, no ano de 1993.
Fonte: DUTRA, C.A.S. História e Memória de Brasilândia/MS, Volume III – Cidadania (no Prelo).
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