Izabel Senedeze
Oliveira: uma admirável e pioneira cidadã de Brasilândia.
Carlos Alberto dos
Santos Dutra
O nome escolhido
para o Centro de Convivência de Brasilândia,
o antigo Lar do Idoso, agora com o
pomposo nome de ILP-Instituto de Longa
Permanência, foi concedido a uma das mais brilhantes pioneiras brasilandenses a quem o
município conferiu homenagem póstuma à sua memória. História tantas vezes esquecida das honrarias oficiais do tempo, aqui pede passagem para condecorar e recordar quem foi esta mulher singular.
Izabel Senedeze Oliveira era conhecida e
carinhosamente chamada de dona Iza, e faz parte da história desta comunidade, uma vez que aqui plantou os pés,
juntamente com a família, ainda muito antes do surgimento do povoado que depois se transformou em cidade.
Corria o ano de
1911 em Villa de Jardinópolis, comarca de Batatais, estado de São Paulo, e
naquele dia, 21 de setembro seu Antônio
Senedeze e dona Maria Nunciata
Bugantim ergueram os braços aos céus agradecendo a Deus o presente
recebido: a filha Iza, rebento que
brotou em terras de América onde aportaram em busca da felicidade.
Vindos da região do
Vêneto, no norte da Itália, foi o destino que os uniu. O pai, Antônio, vindo de além-mar, da cidade de
Treviso, com 44 anos de idade, viúvo e com quatro filhos pela mão; e a mãe, Maria, da cidade de Padova, com 29 anos de idade,
igualmente viúva e com duas filhas, aqui eles se conheceram e aqui uniram seus caminhos formando uma família.
Para a alegria e
segurança dos filhos de seu Antônio: de nome Arcanjo, Alpino, Créia e Clotilde, e dos filhos de dona Maria: de nome Maria e Rosa, eles se casaram. A cerimônia foi simples e aconteceu no distrito de Engenheiro
Brodowski, então comunidade de lavradores que emergiu com a chegada dos trilhos
e estação do trem na região de Rio Preto. Honravam, assim, com a bênção e o trabalho, a
memória dos avós paternos Pedro Senedeze
e Thereza Pessutti, e avós maternos Antônio Bugantim e Thereza Sabadim.
Além dos filhos do
primeiro casamento, tanto de Antônio
Senedeze, como de Maria Nunciata, eles
tiveram juntos quatro filhas: Jenuefa,
Isabel, Catarina e Adelaide. E lá estava Izabel Senedeze Oliveira no raiar do século XX, cheia de
felicidade com a vida que desabrochava em meio ao jardim que cultivava.
Espirituosa e
sonhadora, procurando andar sempre bem vestida, os arroubos da juventude sempre lhe fizeram companhia e pouco lhe incomodava com o lugar modesto onde
morava. Passou sua infância na mesma vila
em que nasceu, porém nunca descuidou dos estudos que realizava em casa junto
dos irmãos.
Seu Antônio, num dado momento da vida, vendeu
o sítio onde moravam e a família toda mudou para o município de Presidente
Venceslau, onde adquiriu propriedade rural e todos os seus filhos, incluindo Izabel, se lançaram no trabalho braçal na
plantação e colheita da lavoura de café.
Um dia, em meio à
faina diária, eis que os olhos daquela menina trabalhadora pousaram sobre o rosto queimado
pelo sol de um jovem de nome José de
Souza Oliveira, conhecido como Zé
Baiano. Havia vindo do estado que lhe emprestou o nome, para trabalhar no
interior paulista, passando a residir em Presidente Venceslau. Foi ali
que conheceu a jovem Izabel, encantando-se
dela. Depois do tradicional namoro, ao completar 25 anos de idade, no ano de 1934, o
casal se uniu em matrimônio.
Enquanto
permaneceram em Presidente Venceslau tiveram oito filhos, sendo eles: Onofre de Souza Oliveira, Amélia de Souza Oliveira,
Jardelina de Souza Oliveira, Lúcia de Souza Oliveira, Ezilda de Souza Oliveira,
Antônio de Souza Oliveira, e os gêmeos Josefina de Souza Oliveira e José de Souza Oliveira.
Ao lado do esposo e
nunca perdendo de vista a família, Izabel
sempre se dedicou ao lar; sua família era a maior riqueza, e estava sempre lado
a lado com o esposo ajudando nas atividades do campo, na pecuária e na lavoura,
o que garantia o sustento da família que a cada ano ia aumentando. Porém, sempre
tiveram de tudo um pouco, nunca deixaram faltar nada para os filhos.
Naquela época não havia
muitas opções e atividades no lugar onde viviam; a maior diversão era as toureadas, os rodeios e os
circos que de vez em quando se instalava na
cidade. O casal e os filhos também iam
à missa, sempre que era ministrada, uma vez por mês na região onde moravam.
Em 1949, vieram
para o Mato Grosso quando o estado ainda era uno. Adquiriram um sítio na região da fazenda Cisalpina
e continuaram trabalhando com a pecuária e a lavoura. Ali nasceram as filhas
caçulas: Maria Helena de Souza Oliveira e
Izabel de Souza Oliveira.
A filha caçula que
herdou o nome da mãe, Izabel, conta
que nesse sítio residiram por cinco anos, depois, coincidindo com a ampliação
da área adquirida pela empresa Cisalpina Agrícola S. A., venderam a propriedade
e compraram a fazenda São José, mudando para lá ao final do ano de 1954.
Um fato interessante que marcou a vida de dona Izabel foi quando a zona rural se transformou em zona urbana. O município de Brasilândia, antes, povoado; depois, distrito, mudou suas feições: começou a ter recursos. Isso a deixou muito feliz. Era como se o passado, o tempo das dificuldades onde eram desprovidos de escola, transporte e médicos, tivesse ficado para trás.
O sonho de dona Izabel Senedeze Oliveira era que seus
filhos estudassem e tivessem uma formação. Desde pequenos, ela sempre se
dedicou à educação deles; mesmo no tempo quando não havia escolas, quando vieram para o Mato Grosso, ela encontrou um jeito de pagar um professor
para ensinar as primeiras lições em casa para seus filhos.
Não transparecia,
mas no íntimo, foi uma grande decepção ter de sair de Presidente Venceslau,
onde havia escolas e hospitais. Vir morar num lugar que não oferecia quase
nada, nenhum recurso, foi um tremendo desafio. Sua preocupação e desolação tinha um motivo: foi
aqui que ela perdeu um filho, de aproximadamente quatro anos de idade, vítima de
desidratação.
Mas, enfim, a
família sobreviveu; aqui ela viveu e venceu. Ao longo dos anos, essa guerreira acompanhou um a
um, com orgulho de mãe, o casamento de todos os seus filhos; também o nascimento da maioria de seus
netos e chegou a conhecer a sua primeira bisneta antes de despedir-se da grande
família que construiu e da qual ela era o centro que irradiava vida.
Dona Izabel Senedeze Oliveira faleceu no dia 11 de abril de 1978, devido a uma parada cardiorrespiratória, três anos após o falecimento de seu esposo, José de Souza Oliveira que realizou sua Páscoa definitiva no dia 18 de março de 1975.
No total foram 10
filhos que cresceram e multiplicaram a força e garra de uma mãe que nunca
desanimou e hoje ainda é possível percebê-la no rosto dos netos, bisnetos e tataranetos,
na trilha do êxito por ela iniciada.
Do antigo tronco daquela aroeira, que suportou fortes ventos e o calor torrencial de uma cidade que viu nascer, resta apenas duas filhas: Josefina e Izabel. E elas ainda guardam na lembrança o rosto terno e o abraço da mãe em seus corações. Recordam aquela mulher pioneira, como um exemplo de esposa, mãe e avó a ser seguido.
Sempre muito carinhosa, amiga, inteligente, era sábia e carismática. Católica praticante ensinou aos filhos, os valores da fé e a importância de se ter uma religião. Disposta e generosa, ela soube o que é a luta diária de uma família, razão pela qual era sensível ao sofrimento de quem se encontrava a sua volta, estando sempre pronta para ajudar os necessitados.
A herança que dona Izabel Senedeze Oliveira deixou, ainda hoje povoa os corações e mentes daqueles que receberam o maior dos louros que
uma mãe pode deixar aos filhos: o reto ensinamento e o abraço afetuoso lhes apontando um caminho.
Durante a inauguração do Centro de Convivência do Idoso Izabel Senedeze Oliveira, ocorrida no dia 2 de março de 1995, o filho, Onofre de Souza Oliveira proferiu as palavras que todos os demais irmãos gostariam de terem dito àquela mulher incrível que deixou um grande legado para a família e a cidade de Brasilândia:
Sinto-me orgulhoso de ver o nome da minha saudosa mãe sendo lembrado em uma casa de lazer para os idosos, disse, lembrando que ela foi precursora do progresso e do desenvolvimento deste município.
No dia 7 de julho de 2019 da família de dona Izabel Senedeze Oliveira reuniu-se para homenagear o filho, irmão, esposo, pai, avô, bisavô, tataravô, tio e amigo Onofre de Souza Oliveira. Neste dia ele se despediu, pois seu voo para as estrelas o aguardava onze dias depois. Agradecido partiu, levando na singela bagagem sua maior riqueza: o sorriso e alegria de todos aqueles que Deus lhe deu.
Brasilândia/MS, 18 de julho de 2021.
Data do 2º aniversário de falecimento de Onofre de Souza Oliveira, filho de Izabel Senedeze Oliveira que recebe da família e amigos esta
homenagem póstuma à sua saudosa mãe.
Texto redigido a
partir de informações fornecidas pela filha Izabel
de Souza Pacheco.
Mais informações
sobre o ILP Centro de Convivência do
Idoso Izabel Senedeze Oliveira, cf. Dutra, C.A.S. História e Memória de
Brasilândia/MS, Volume III – Cidadania, que se encontra no prelo.
Que linda homenagem parabéns Dr Carlito pelo trabalho dedicação 👏👏👏👏👏
ResponderExcluirObrigado. Que bom se valorizássemos mais aqueles que abriram caminhos e nos antecederam na história.
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