sexta-feira, 3 de março de 2023

 

A Biblioteca, o Livro e o Conhecimento.

Carlos Alberto dos Santos Dutra



Tudo começou no ano de 2013 em São Paulo com uma ideia inspirada no conceito de BookCrossing, criado nos EUA no começo dos anos 2000 e buscava combinar leitura e urbanidade. Trata-se do projeto Esqueça um livro e espalhe conhecimento, que, preferencialmente, passou a ser comemorado no Dia do Escritor, 25 de julho.

A ideia, nos informa a amiga Yuri, consiste em esquecer, de propósito, um livro em algum lugar: no restaurante, no ponto de ônibus, num banco da praça, no mercado, consultório médico; a escolha é livre.

O doador ainda pode deixar no interior do livro um bilhetinho explicando o projeto e o presente. Tipo, assim: Ei, você que achou este livro. Agora ele é SEU. Que tal LER esse livro e depois incentivar que outra pessoa faça o mesmo?

A iniciativa faz parte de um projeto de incentivo à leitura e compartilhamento de conhecimento que está sendo utilizado, principalmente, nos grandes centros urbanos onde o corre-corre é maior e quase não se tem mais tempo de frequentar uma biblioteca e muito menos adquirir um livro em alguma livraria.

Cá na nossa pequenina Brasilândia, felizmente ainda nos sobra tempo de frequentar a Biblioteca Pública instalada no centro da cidade. O prédio do Centro Cultural Ramez Tebet configura um marco e esteio da cultura local, o que nos enche a todos de orgulho observar que a Biblioteca e a Casa da Cultura ainda resistem, desafiando o obscurantismo que por vezes ronda a todos.

Tal fato nos faz retroceder no tempo quando lá encontrávamos entre as estantes de livros, duas servidoras públicas animadas desempenhando o ofício de bibliotecárias, conferindo o cutter dos livros e fichas catalográficas das novas obras que chegavam à Biblioteca Municipal Profª. Abadia dos Santos. Tratava-se das professoras Vicentina de Jesus Coutinho e Vilma Galli Dutra.

Há 10 anos, a internet ainda não havia assumido o controle total sobre nossas vidas e as buscas bibliográficas ainda brotavam do papel; tampouco o celular havia se popularizado a ponto de se tornar indispensável à nossa sobrevivência e informação. Ir a Biblioteca Pública permanecia sendo um hábito salutar incentivado pelos professores das redes municipal e estadual de ensino de Brasilândia.

A efervescência cultural e a demanda era tanta que a Biblioteca, na época, teve de ampliar o horário de atendimento os leitores. Não somente alunos em busca de obras indicadas pelos currículos escolares, uma vez que as escolas também possuíam suas bibliotecas prático-pedagógicas. Mas também a população em geral valia-se daquele acervo para ampliar seus conhecimentos, dedicando-se à leitura de obras de alcance universal.

A Biblioteca passou a funcionar das 7 horas da manhã às 22 horas da noite, de segunda à quinta-feira, quando eram disponibilizados os 10.299 livros do acervo que a instituição possuía na época, sobre os mais variados temas desde a ficção dos poemas, contos e crônicas, até o mundo da filosofia, história, geografia e obras da literatura encartadas em enciclopédias, livros e revistas.

Segundo as professoras que prestavam atendimento na Biblioteca o horário noturno foi mais que aprovado pelos frequentadores que passaram a contar com a comodidade de poderem acessar obras literárias e pesquisas escolares, fora do horário de trabalho.

Animadas com a receptividade, as professoras montaram painéis de fotografias registrando a presença dos leitores naquele espaço de saber. Painéis que permanecem até hoje, sendo constantemente atualizados pelos novos professores e bibliotecários que ao longo dos anos revezaram-se na tarefa de incentivadores da leitura.

Num antigo site da Biblioteca, no Facebook ainda é possível conferir a alegria de dezenas de leitores reunidos naquele espaço, desde rostos muito jovens e olhinhos brilhantes debruçados sobre desenhos infantis, até rostos já marcados pela idade cujo olhar e pensamento buscam descobrir os mistérios da vida e do mundo que os rodeia, seja na simples arte de viver, seja no crescimento pessoal e profissional.

A Biblioteca Pública de Brasilândia, desta forma, assume papel importante na democratização do acesso à cultura e à informação, tendo sua vocação e olhar voltados para a comunidade contribuindo na preservação de sua memória, sua produção material e intelectual e seu acervo. O que em última instância reforça o valor e a autoestima de sua gente.

Enquanto a Biblioteca Escolar cada vez mais volta os olhos, por força de seus currículos, para as novas tecnologias e demandas da sociedade, que exige célere o acesso à informação de forma ágil e digital, as Bibliotecas Públicas e os livros impressos representam a última trincheira do conhecimento palpável acumulado, despacito, que explicam e constroem perene o patrimônio dessas comunidade.

Temos visto muitas Bibliotecas Públicas municipais fechando suas portas ou então sendo acomodadas em espaços cada vez mais diminutos e precários, como se já fosse dispensável sua utilidade e importância. Felizmente Brasilândia ainda se mantém firme no propósito de continuar semeando ao vento, através dos livros, o alimento do saber com gosto de ver saltar do papel as letras que transformam homens e mulheres em cidadãos e cidadãs que o futuro espera para nossa cidade. Parabéns Biblioteca Municipal Profª. Abadia dos Santos!

.

Fonte: https://portalregional.net.br/2013/10/biblioteca-municipal-professora-abadia-dos-santos-amplia-horario-para-atender-leitores/?amp, 30 de outubro de 2013.

https://www.educamaisbrasil.com.br/educacao/noticias/campanha-esqueca-um-livro-e-espalhe-conhecimento-incentiva-a-leitura-em-todo-pais, 25 de julho de 2018.



Nenhum comentário:

Postar um comentário