A Biblioteca, o Livro e o Conhecimento.
Carlos Alberto dos Santos Dutra
Tudo começou no ano de 2013 em São Paulo com uma ideia inspirada no conceito de BookCrossing, criado nos EUA no começo dos anos 2000 e buscava combinar leitura e urbanidade. Trata-se do projeto Esqueça um livro e espalhe conhecimento, que, preferencialmente, passou a ser comemorado no Dia do Escritor, 25 de julho.
A ideia, nos informa a amiga Yuri, consiste em esquecer,
de propósito, um livro em algum lugar: no restaurante, no ponto de ônibus,
num banco da praça, no mercado, consultório médico; a escolha é livre.
O doador ainda pode deixar no interior do livro um
bilhetinho explicando o projeto e o presente. Tipo, assim: Ei, você que
achou este livro. Agora ele é SEU. Que tal
LER esse livro e depois incentivar que outra pessoa faça o mesmo?
A iniciativa faz parte de um projeto de incentivo à leitura e
compartilhamento de conhecimento que está sendo utilizado, principalmente, nos
grandes centros urbanos onde o corre-corre é maior e quase não se tem mais
tempo de frequentar uma biblioteca e muito menos adquirir um livro em alguma
livraria.
Cá na nossa pequenina Brasilândia,
felizmente ainda nos sobra tempo de frequentar a Biblioteca Pública instalada
no centro da cidade. O prédio do Centro Cultural Ramez Tebet configura um marco e esteio da cultura local, o
que nos enche a todos de orgulho observar que a Biblioteca e a Casa da Cultura ainda resistem, desafiando o
obscurantismo que por vezes ronda a todos.
Tal fato nos faz retroceder no tempo quando lá
encontrávamos entre as estantes de livros, duas servidoras públicas animadas
desempenhando o ofício de bibliotecárias, conferindo o cutter dos livros
e fichas catalográficas das novas obras que chegavam à Biblioteca Municipal
Profª. Abadia dos Santos. Tratava-se das professoras Vicentina de Jesus
Coutinho e Vilma Galli Dutra.
Há 10 anos, a internet ainda não havia assumido o controle total
sobre nossas vidas e as buscas bibliográficas ainda brotavam do papel; tampouco o celular havia se
popularizado a ponto de se tornar indispensável à nossa sobrevivência e
informação. Ir a Biblioteca Pública permanecia sendo um hábito salutar
incentivado pelos professores das redes municipal e estadual de ensino de Brasilândia.
A efervescência cultural e a demanda era tanta que a Biblioteca,
na época, teve de ampliar o horário de atendimento os leitores. Não somente
alunos em busca de obras indicadas pelos currículos escolares, uma vez que as
escolas também possuíam suas bibliotecas prático-pedagógicas. Mas também a
população em geral valia-se daquele acervo para ampliar seus conhecimentos,
dedicando-se à leitura de obras de alcance universal.
A Biblioteca passou a funcionar das 7 horas da manhã às 22 horas
da noite, de segunda à quinta-feira, quando eram disponibilizados os 10.299
livros do acervo que a instituição possuía na época, sobre os mais variados
temas desde a ficção dos poemas, contos e crônicas, até o mundo da filosofia,
história, geografia e obras da literatura encartadas em enciclopédias, livros
e revistas.
Segundo as professoras que prestavam atendimento na Biblioteca o horário noturno foi mais que aprovado pelos frequentadores que passaram a contar com a comodidade de poderem acessar obras literárias e pesquisas escolares, fora do horário de trabalho.
Animadas com a receptividade, as
professoras montaram painéis de fotografias registrando a presença dos leitores
naquele espaço de saber. Painéis que permanecem até hoje, sendo constantemente
atualizados pelos novos professores e bibliotecários que ao longo dos anos
revezaram-se na tarefa de incentivadores da leitura.
Num antigo site da Biblioteca, no Facebook ainda é possível conferir a alegria de dezenas de leitores reunidos naquele espaço, desde rostos muito jovens e olhinhos brilhantes debruçados sobre desenhos infantis, até rostos já marcados pela idade cujo olhar e pensamento buscam descobrir os mistérios da vida e do mundo que os rodeia, seja na simples arte de viver, seja no crescimento pessoal e profissional.
A Biblioteca Pública de Brasilândia, desta forma, assume papel importante na democratização do acesso à cultura e à informação, tendo sua vocação e olhar voltados para a comunidade contribuindo na preservação de sua memória, sua produção material e intelectual e seu acervo. O que em última instância reforça o valor e a autoestima de sua gente.
Enquanto a Biblioteca Escolar cada vez mais volta os olhos, por força de seus currículos, para as novas tecnologias e demandas da sociedade, que exige célere o acesso à informação de forma ágil e digital, as Bibliotecas Públicas e os livros impressos representam a última trincheira do conhecimento palpável acumulado, despacito, que explicam e constroem perene o patrimônio dessas comunidade.
Temos visto muitas Bibliotecas Públicas municipais fechando suas portas ou então sendo acomodadas em espaços cada vez mais diminutos e precários, como se já fosse dispensável sua utilidade e importância. Felizmente Brasilândia ainda se mantém firme no propósito de continuar semeando ao vento, através dos livros, o alimento do saber com gosto de ver saltar do papel as letras que transformam homens e mulheres em cidadãos e cidadãs que o futuro espera para nossa cidade. Parabéns Biblioteca Municipal Profª. Abadia dos Santos!
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Fonte: https://portalregional.net.br/2013/10/biblioteca-municipal-professora-abadia-dos-santos-amplia-horario-para-atender-leitores/?amp, 30 de outubro de 2013.
https://www.educamaisbrasil.com.br/educacao/noticias/campanha-esqueca-um-livro-e-espalhe-conhecimento-incentiva-a-leitura-em-todo-pais, 25 de julho de 2018.
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