terça-feira, 21 de março de 2023

 

A violência, a infância e as redes sociais.

Carlos Alberto dos Santos Dutra






Hoje, os servidores municipais ao ligarem seus computadores na rede da Prefeitura de Brasilândia se depararam com uma linda imagem em homenagem à memória de Gabi, lembrando da importância de não deixar quem você ama ser a próxima vítima. E conclamando à sociedade a denunciar qualquer forma de violência contra crianças e adolescentes. Sim, a denúncia pode ajudar a salvar e mudar uma vida. 


violência é um fenômeno social que cresceu de forma significativa nos últimos tempos. Em termos gerais a definição e categorização mais utilizada quando se refere à violência é apresentada pela Organização Mundial da Saúde, OMS, que identifica três tipos de violência:

 

A primeira, a violência autoinfligida, que é a violência cometida pelo indivíduo contra si próprio, cujos exemplos são a automutilação e o suicídio; a segunda, a violência comunitária, que é a violência cometida por grupos políticos, sociais ou econômicos, cujos exemplos são as formas de atuação das facções criminosas e os crimes de ódio direcionados a determinados grupos.

 

E a terceira, a mais frequente, que é a violência interpessoal, quando ela é cometida por um ou mais indivíduos contra outro indivíduo, podendo ele ser parte ou não do mesmo círculo social do agressor. São exemplos de violência interpessoal a violência contra a mulher, o feminicídio, o abuso infantil, o abuso ao idoso, os homicídios e os latrocínios. 

Concorre ainda o fato de que, objetivamente, a violência, na maior parte das vezes, vai além da violência física, conduta que ofende a integridade ou saúde corporal do indivíduo. É o caso da violência psicológica, da violência sexual, da violência patrimonial, da violência moral. 

Para o senso comum as causas da violência são sempre de natureza estrutural e sistêmica, tidas como resultantes das profundas desigualdades socioeconômicas, a falta de oportunidades à população mais pobre e a ausência ou inadequação das políticas públicas sociais e de segurança promovidas pelo Estado. 

No mais das vezes busca-se sempre justificar o que é injustificável, encobrindo os fatores e os motivos que os indivíduos têm para serem violentos. A pressão social e os valores que as instituições exercem sobre os cidadãos pouco são mencionados, porém, são essenciais pois apresentam-se como instrumentos que influenciam na exacerbação da violência no cotidiano das pessoas. 

Um dos fatores pouco lembrado que potencializam a violência no Brasil, além da negligência do Estado, o sistema judiciário falho, o aumento da circulação de armas e o tráfico de drogas, é a violência virtual motivada pelo avanço da tecnologia e a velocidade com que as informações circulam diariamente através da internet e nas mídias sociais. 

Segundo Luciana de Rezende Nogueira, as redes sociais, os aplicativos e os sites colocaram a população em outro nível interativo, outra etapa da sociedade contemporânea. Entre as ferramentas que estão ao alcance de qualquer pessoa estão os vídeos ou textos que são lançados nas redes sociais e são capazes de mobilizar pessoas com uma velocidade que nunca se tinha visto ou se podia imaginar antes. 

A pesquisadora lembra que os celulares que antes tinham a função de comunicação via voz, agora com a evolução da tecnologia auferem novas funções e dão às pessoas comuns outras possibilidades como a visibilidade, através de vídeos, fotos ou textos que ganham destaque, como o exemplo de denúncias dos mais diversos tipos de abusos vivenciados pelas pessoas. 

Esse movimento traz à tona um novo tipo de interação com a sociedade, que antes era dominada apenas pelos grandes meios de comunicação como a televisão. Apesar desse novo universo ser útil e facilitador de informações e debates, as redes sociais e outras áreas da comunicação digital têm aberto um novo espaço para a violência, sobretudo contra as crianças, o adolescente e a mulher. 

Realidade que, se não enfrentada com determinação e coragem, só reforça a violência social que vitima o cidadão desde a inocência do mundo infantil, jogando-o irremediavelmente nos braços da transgressão, da pornografia, e do aliciamento ao crime, entre outros. Formas de violência sutis e sorrateiras que pedagogicamente adentram os lares sem a devida atenção dos pais ou responsáveis.

Não é de hoje que os profissionais médicos alertam para o aumento nas queixas que chegam até seus consultórios relacionadas ao uso excessivo de aparelhos eletrônicos, e para a diminuição da capacidade de comunicação, de resolução de problemas e de sociabilidade de crianças até 5 anos.


Todo pai e mãe devia saber que, além do conteúdo não supervisionado que é visto pelo filho, o problema não se limita à primeira infância somente. O contato excessivo com telas mexe com o cérebro de jovens, que ainda não está suficientemente amadurecido para controlar impulsos, fazer julgamentos, manter a atenção e tomar decisões.


Que os celulares são parte da rotina da vasta maioria das pessoas, isso é inconteste. Mas, diante dos riscos e exigências será que é possível ter uma relação mais saudável com a tecnologia? O desafio está em como identificar as situações em que o uso desses dispositivos ultrapassou os limites, especialmente na infância e na adolescência.


Para o psicólogo Thiago Viola, do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul, a primeira coisa é estabelecer limites. A criança e o adolescente precisam saber que podem entrar na internet por um determinado número de horas por dia.


A recomendação de tempo varia de acordo com a faixa etária. A recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria – SBP é a de que crianças menores de dois anos não tenham nenhum acesso às telas. Dos três aos seis anos, é possível ofertar atividades em dispositivos eletrônicos por 30 minutos a uma hora, sempre com a supervisão de um adulto. E, entre o sexto e o décimo ano de vida, é possível ampliar um pouquinho esse limite, desde que exista um acompanhamento de alguém responsável.


Ademais, é muito importante mesclar as atividades online com outros momentos de lazer, brincadeiras e conversas presenciais entre familiares e amigos, recomenda o psicólogo. Isso porque existem formas de identificar e tratar os quadros de vício no uso de celular e outros dispositivos eletrônicos:


A primeira coisa é observar se a prática está prejudicando algum aspecto da vida daquele indivíduo. Se ele apresenta dificuldades nos âmbitos social, profissional, educacional ou familiar, é necessário buscar a avaliação de um profissional de saúde, orienta o médico Rodrigo Machado, do Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.


Se os pais percebem que seus filhos têm queda no rendimento escolar, estão substituindo o dia pela noite, não participam das refeições e faltam à rotina estabelecida na casa, ele deve passar a observar mais de perto a relação de seus filhos com o celular ou o computador. Para os casos em que há diagnóstico de um transtorno, é possível intervir por meio da terapia cognitivo-comportamental, uma abordagem da psicologia que busca analisar, racionalizar e propor intervenções nos hábitos e nos pensamentos do paciente.


Por fim um alerta: nesse contexto, a primeira intervenção é se desconectar aos poucos. De nada adianta castigar ou tirar o celular da criança ou do adolescente de forma brusca e definitiva, aponta a médica Evelyn Eisenstein, que coordena o Grupo de Trabalho em Saúde Digital da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). E conclui: E, claro, esse ato de se desconectar da internet precisa envolver todos os integrantes da família, não apenas os jovens, destaca a pediatra.


Em síntese, a precaução dos pais com o uso do celular e das redes sociais pelos filhos é também uma forma de proteger as crianças e adolescentes contra a violência virtual no universo cruel que vivemos. Eventos do tipo Gabi Vive, celebrando o Dia Municipal de Combate à Violência Infantil são bem-vindos e motivo de aplauso para a conscientização de nossa cidade. Em que pese as crianças e jovens terem acesso franco e livre a todo o conteúdo e informação possível através da internet, muito de vigilância parental ainda precisa ser posto em prática.


Conscientização urgente e necessária capaz alargar os horizontes da parca formação crítica da população, permitindo aos pais e responsáveis se antecipar ao risco de ver seus filhos sofrerem ou virem a praticar algum tipo de violência motivada por sabe lá quem. Mesmo a violência daquelas imagens aparentemente ingênuas e diálogos banais velados que somente aqueles olhinhos inocentes trancados no quarto entendem e teimam em contemplar... 

Brasilândia/MS, 21 de março de 2023.


Fonte: https://www.preparaenem.com/geografia/violencia-no-brasil.htm#:~:text=As%20causas%20da%20viol%C3%AAncia%20s%C3%A3o,de%20seguran%C3%A7a%20promovidas%20pelo%20Estado., acesso em 21.03.2023. 

https://www.ibes.med.br/7-estrategia-para-acabar-com-violencia-contra-criancas-e-adolescentes/ acesso em 21.03.2023. 

http://ihs.sites.uff.br/wp-content/uploads/sites/47/2019/08/MIDIAS-SOCIAIS-porta-de-entrada-para-violencia-contra-mulher-de-LucianaRezende.pdf acesso em 21.03.2023. 

https://www.bbc.com/portuguese/geral-60853962 acesso em 21.03.2023.

2 comentários: