segunda-feira, 20 de março de 2023

O Cerco de Jericó e o novo Magnificat que necessitamos.
Carlos Alberto dos Santos Dutra



A Paróquia Cristo Bom Pastor iniciou nesta semana com muita devoção o chamado Cerco de Jericó que é uma celebração não litúrgica, mas que tem embasamento bíblico e origem na Igreja Católica. A exemplo do que ocorre em diversas partes do mundo, os fiéis dedicam uma semana de intensa oração, missa diária, adoração ao Santíssimo, confissão, jejum, pregação da Palavra de Deus e o terço de Nossa Senhora; cada comunidade a seu modo e possibilidade.
 
Mas, o que é o Cerco de Jericó? Qual é a sua fundamentação bíblica? Sua prática de configuração carismática pentecostal nos aproxima mais da Igreja? Qual é o seu valor para a superação dos problemas pessoais, familiares, econômicos, enfermidades, dependências químicas, influências de demônios, etc.? O que essa devoção desperta em cada um de nós?
 
Movidos pela fé interior, na verdade, os fiéis são motivados, num sentido figurado, a derrubar as muralhas de um Jericó que hoje são os seus maiores dramas, limites e sofrimentos. E o fazem a partir de uma pequena porta de Luz que se abre e lhes oportuniza realizar uma experiência religiosa íntima, profunda e existencial de fé.
 
De certa forma aproxima os fiéis de uma Igreja que, aos poucos, se tornou distante, com liturgias formais, sermões moralistas e uma linguagem inacessível, incapaz de dialogar com os simples e com elementos do cotidiano.
 
E isso tudo é alcançado, quando se revisita o Antigo Testamento, pelas palavras do jovem Josué (6,1ss), que foi formado por Moisés desde sua juventude para substituí-lo, e que deu continuidade à tomada de posse da terra prometida, recebendo a autoridade espiritual e o governo sobre as tribos de Israel. Esse é o objetivo do Cerco de Jericó: derrubar as muralhas do pecado pela força do Santíssimo e da Oração.
 
É com essa intenção que o evento iniciado lá na Polônia, organizado por fiéis piedosos daquele país, e que recebeu o nome de Cerco de Jericó propagou-se. Em fins de novembro de 1978, sete semanas depois do Conclave que havia eleito João Paulo II, lá encontrava-se o peregrino, movido pela força do Espírito Santo, semeando na sua própria terra, a Oração e o Santo Terço, como força capaz de remover a discórdia, a divisão e o pecado no mundo.
 
Estava li o sentido maior do Cerco de Jericó: prostrar-se no silêncio fecundo diante do Senhor Eucarístico, que semeia luz às almas e quebra os alicerces das muralhas que nos afastam de Deus e dos irmãos. Essas são as curas e libertações que os fiéis esperam: portas que estavam fechadas se abrem, crises conjugais e econômicas, doenças, e tantos outros problemas são colocados aos pés do Santíssimo, implorando a sua Misericórdia.
 
A Paróquia Cristo Bom Pastor, sem dúvida, vive e sente nestes dias o poder de Deus derramando o seu Santo Espírito sobre os católicos e a todos aqueles que se encontram distantes e se sentem chamados a participar dos Sacramentos, da Palavra e da vida comunitária, que cresce e se multiplica no coração de cada um, verdadeira benção que transforma vidas.
 
Quando chegamos ao ponto de falar: Agora só Deus! Se não for o Senhor nesta situação, é impossível prosseguir! Está na hora de voltar a conversar com Deus. Como bem lembrou o padre João Marcos Polak, nesta hora precisamos sair do superficial para mergulharmos em uma maior intimidade com Deus.
 
Porém alerta: o caminho não é fácil, pois fácil é ir para baixo, para o abismo. Uma vida de facilidade é uma vida sem objetivos e sem virtudes. O homem só se torna virtuoso renunciando a si mesmo e aos seus vícios, focando no chamado e na missão que Deus lhe confiou.
 
Segundo este padre da Canção Nova, o céu é para gente forte, guerreira, ‘teimosa’ consigo mesma, persistente e confiante na Misericórdia do Senhor. O medíocre vai viver na média, se contenta com pouco, vive em cima do muro e reclama de tudo.
 
Em que pese a procura exacerbada do aspecto curativo e contemplativo da Religião, esquecendo o principal – a dimensão profética a serviço da vida e da justiça – possa levar a constituir um caminho de subjetiva alienação, o Cerco de Jericó e a Adoração ao Santíssimo, se realizam em unidade com a Igreja.

Sobremaneira quando seguido da Celebração Eucarística, expressão do Corpo místico de Cristo que é a Igreja e seu Magistério. Precaução e vivência, sem dúvida, que impede o risco de que Deus seja transformado em mero objeto de desejos pessoais. Em suma, evoca o novo Magnificat que o mundo cristão de hoje necessita e é chamado a proclamar.

Brasilândia/MS, 20 de março de 2013.
 
 
 
Fonte: 


https://www.vidapastoral.com.br/edicao/o-cerco-de-jerico-uma-critica/, Publicado em setembro – outubro de 2017 - ano 58 - número 317.
 


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