sexta-feira, 10 de março de 2023

 

A Feira da Lua, os Produtores e a Cultura

Carlos Alberto dos Santos Dutra


Feira do Artesanato na Praça da Pedra em Brasilândia em 2004 (Foto: Arquivo Jair Bezerra Xavier, 2015).


Existem binômios que são sempre estimulantes: feira e artesanato; feira e viola; feira e empreendimento; feira e literatura; feira e esporte. Isso porque Feira é sempre  manifestação de Cultura, espaço residual de liberdade e criatividade do povo e dos amantes da arte que se expressa na música, na dança, no teatro, no artesanato, nas artes plásticas, entre outras obras e produtos confeccionados com todo o primor pelos moradores de um lugar. 

Aqui em Brasilândia não seria diferente. Desde muito cedo suas instituições e poder público dedicaram especial atenção para as manifestações culturais de sua gente, acolhendo-as e promovendo-as. Seja pela beleza e originalidade das coisas da terra produzidas, seja pelo elo de comunicação criado entre os governantes e o povo, ainda de configuração rural. 

Um dos primeiros eventos dessa natureza que se tem notícia foi a 1ª Feira Verde Arte de Brasilândia, realizada entre os dias 20 e 22 de outubro de 1989 sob a coordenação do CODECOMB (Conselho de Desenvolvimento Comunitário de Brasilândia), e aconteceu nas dependências da quadra de esportes da Escola Municipal Arthur Höffig. 

Foi uma das primeiras exposições culturais que aconteceu na cidade, onde os munícipes tiveram a oportunidade de expor sua produção artesanal. Cada entidade na época montou sua barraca com o apoio da administração municipal garantindo a participação de associações, grupos de artesãos, apresentações musicais e produtores rurais. 

Ponto alto do evento na época, sob o aspecto cultural, foi a participação de integrantes da comunidade indígena Ofaié que ainda era novidade para muitos dos brasilandenses que somente aos poucos passava a identifica-los como detentores de uma cultura própria digna de ser apreciada. Foi-lhes reservada uma barraca e onde integrantes deste povo expôs seus produtos, basicamente arcos, flechas e colares, aos visitantes. 

Passados 33 anos deste acontecimento, o fato ainda é lembrado por quem viveu nesta época. E lá estavam os alunos das escolas do município sentados no chão, em frente dos indígenas que fabricavam ali mesmo, na frente dos visitantes, seus artefatos, numa ação pedagógica impar para aqueles tempos. 

Sobre esse evento, na época, a equipe do professor José Cândido da Silva, que era o prefeito, chegou a filmar em VHS as atividades ali realizadas, porém, a ação do tempo e o desleixo das administrações públicas com a memória e patrimônio cultural é inexorável, e este material se extraviou, perdendo Brasilândia um dado de sua história consubstanciada na figura dos pioneiros artesões Eduardinho Cri-í, Aparecida Hanto-grê, Pereirinha He-í, e o jovem João Carlos Canrê, hoje todos in memoriam, que se fizeram presentes naquela que foi, senão, a primeira grande feira cultural realizada no município. 

Mas estava lançada a semente. Seis anos após, eis que o então vereador Jaime Assis de Alencar, popular Jaime Doce propõe a criação de uma Feira Livre no município. Embora a preocupação inicial fosse o barateamento dos alimentos para a população, ela carregava no ventre a ideia que, anos mais tarde, seria concretizada. 

De fato. A indicação apresentada em 1995 propunha a implantação de uma Feira Livre aos domingos para a população ter alimento mais barato. Iniciativa que deveria ser estendida também ao distrito Debrasa. A ideia foi tão bem aceita na época, que chegou a ser anunciada pela administração com o Povo no Poder, sob o título de 1ª Feira Livre do Produtor de Brasilândia. 

A concretização da iniciativa, entretanto, teve o reforço de duas importantes proposições apresentadas pelo Legislativo municipal. A primeira, pelo vereador Irineu de Souza Brito, no ano de 1997, que sugeriu para o evento um nome original e criativo: Feira da Lua em razão de ser realizada a noite e que deveria funcionar aos sábados. E a segunda proposição, dois anos depois, da lavra do vereador Marcos Roberto Lopes, popular Beto da Maurimar, então presidente da Câmara, que reforçou o pedido anterior do colega. 

Foi, contudo, com o surgimento dos Reassentamentos Santana, Santa Emília e Pedra Bonita, em 1999, que a ideia da Feira Livre tomou impulso e vigor. Desejo revigorado com o aumento de produtores de hortifrutigranjeiros no município em busca de local para venderem os seus produtos, o que foi decisivo para a implantação da Feira. 

A inauguração oficial da Feira Livre do Produtor Rural de Brasilândia deu-se no dia 8 de fevereiro de 2000, na localidade conhecida como Praça da Pedra (Praça José Pinto Nunes). Cinco anos depois, a Secretaria Municipal de Agricultura, sob a coordenação do secretário José Carlos Dela Bandera, consolidou a Feira Livre do Produtor como política pública, passando a também fazer parte das comemorações de aniversário do município. 

Com o tempo, em consequência das dificuldades e oscilação inerentes aos ciclos sazonais da agricultura, a participação dos pequenos produtores rurais na Feira foi diminuindo, sendo substituída a oferta de produtos diversificados e comercializados por entidades filantrópicas e por empresários do próprio comércio local. Permaneceu, entretanto, o viés cultural e de abertura de espaço para as manifestações artísticas do povo brasilandense que passou cada vez mais a ser incentivado. 

Não obstante, estava materializado o destino da Feira como espaço de promoção do que o município melhor produzia: hortifrutigranjeiros, alimentação, artesanato e arte musical. Depois, com o nome de Feira e Viola que vigora até hoje, já a partir de sua 2ª edição realizada em  2013 estava garantido aquele espaço destinado a levar diversão e entretenimento aos brasilandenses (...). Este é o nosso objetivo: valorizar o que tem de melhor em Brasilândia, ressaltou o prefeito, na época. 

A partir de então seguiram a cada semana novas edições do Feira e Viola, evento que reunia centenas de pessoas sob o comando do radialista Ceará Santos, e sempre apresentando diversas atrações musicais da cidade e da região. A partir de 2014, o evento passou a ser realizado também no Bairro João Paulo da Silva (Praça Ostelino Cardoso) nas quartas-feiras, permanecendo na Praça da Pedra aos sábados, sempre conciliando produtores rurais e os talentos artísticos da cidade e região (...). 

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Fonte: História e Memória de Brasilândia, Volume II-Patrimônio, página 36-37;  Volume III-Cidadania, página 102; Volume IV-Desenvolvimento, página 320.

  










Feira do Artesanato na Praça da Pedra em Brasilândia em 2004 (Foto: Arquivo Jair Bezerra Xavier, 2015).

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