quarta-feira, 22 de março de 2023

 

Os cientistas do amanhã diante de nossos olhos.

Carlos Alberto dos Santos Dutra.



Dizem que escrever é que nem se coçar. Depois que começa é impossível parar. Mas como ficar calado diante de tanta coisa acontecendo a nossa volta? Quantas coisas maravilhosas e edificantes diante dos nossos olhos enquanto muitos continuam presos à intrigas que só alimentam o desânimo e o descrédito no ser humano?

Pois é contra essa ideologia da desesperança, de só levar vantagem e só ver o lado negativo das coisas, que as letras do articulista se rebelam e insistem em saltar do teclado espraiando sua verve no papel como se fosse uma prancha de surf avançando em direção ao imenso mar azul que ainda cobre as fibras de nossos corações de marinheiros.

A noite do dia 28 de novembro daquele ano de 2014 prometia ser animada. O anfiteatro do Centro Cultural Senador Ramez Tebet logo se tornou pequeno para o evento. Pais e filhos, professores e monitores da Biblioteca SESI Indústria do Conhecimento nesta noite presenciaram algo inédito em Brasilândia. Acontecia neste dia um encontro histórico entre o presente e o futuro, encontro digno de dar inveja à National Aeronautics and Space Administration-NASA.

O evento, uma simples entrega de certificados, diplomando concluintes de um curso e uma turma de alunos, aparentemente somava-se a mais uma dessas cerimônias que as autoridades municipais estão cansadas de promover, mormente numa cidade que no último lustro se notabilizou em preparar muito bem sua mão de obra e valorizar o aprendizado profissional e cultural de seus munícipes... adultos.

Mas, na verdade, o que presenciávamos não era mais uma cerimônia, mas a cerimônia, pois estava marcando naquele momento a vida de 68 crianças que cumpriram não um curso qualquer, mas a temporada amarela do Programa Genius Robotic, desenvolvido pela Lego Education, programa dirigido ao público infanto-juvenil focado no desenvolvimento de habilidades, competências, atitudes e valores para a vida, com forte ênfase em liderança e empreendedorismo, com o mérito de alimentar desde cedo as potencialidades das crianças.

Nem sempre valorizamos nossas crianças como elas merecem. Na maioria das vezes as nivelamos por baixo, pelas piores notas, pelos defeitos e pelos erros cometidos. Com raras e honrosas exceções, as promovemos à grandeza, à sabedoria e ao conhecimento. Esse, porém, não é o caso da elite pensante da urbe que lá se encontrava nesta noite memorável. Acima da classe social, etnia ou credo, o que vimos ali foi um espetáculo de conhecimento e grandiloquência. Mais que isso: vimos mãos de crianças manipulando o futuro e o amanhã com os pés firmes no hoje desta terra fundada há 50 anos por Arthur Hoffig.

Nas palavras da secretária municipal de educação da época, professora Floriana Débora de Souza Ladeia, representando o prefeito municipal, Jorge Justino Diogo, os presentes puderam conhecer melhor o programa e adentrar o mundo da tecnologia já vivido e partilhado por aquelas crianças especiais que, todas sorridentes, exibiam com orgulho poder apresentar e ser apresentados a seus pais como futuros cientistas.

Por meio de aventuras robóticas em formato de histórias em quadrinhos e baseadas na metodologia do aprender-fazendo, as crianças e os jovens estão sendo estimulados a resolver situações-problema vivenciadas pelos personagens e a desenvolver soluções criativas e inovadoras para as questões propostas, em síntese disse.

A cerimônia, entretanto, ainda reservou uma agradável surpresa. Algo incomum ocorreu, contrariando o que geralmente acontece em eventos oficias, quando pseudopolíticos se alongam em enfadonhos discursos e arrazoados distantes de tudo e de todos. Foi dada a palavra às crianças que puderam dizer suas impressões sobre o programa e a experiência comum que viveram.

Sem dúvida o ponto alto da festa: ouvir dos beneficiados, sem ensaios e deixando a voz do coração falar mais alto o que essas atividades semanais cercadas de zelo pelas monitoras representaram para suas vidas, seu aprendizado e consciência cidadã. Uma mãe também falou do significado e importância do projeto no aprendizado, resultando mudanças de comportamento e amadurecimento dos filhos, sentimento esse comungado pelos demais pais e educadores.

Também se pronunciou a professora Maria Cristina Alves da Silva, representando as monitoras professoras Benedita Laurinda Cardoso, Vilma Galli Dutra, Leila Datore Schio, Suely Fernandes Costa e a colaboradora Gilda Gomes da Cruz, explicando aos presentes a dinâmica dos encontros e a abrangência do ensino ali ministrado.

Falou que os módulos eram compostos por episódios, conduzidos por meio de uma aventura central e aplicado às turmas, de forma individualizada, por educadores certificados pela Lego Education, que foram capacitados, sendo que as aulas foram desenvolvidas por meio do uso integrado de material de robótica - bloco Lego programável, motores, roldanas, engrenagens e sensores - e dinâmica de aprendizagem com foco no trabalho em equipe, gerando para os alunos uma aprendizagem sólida e significativa de forma lúdica, estimulante e divertida, explicou.

Diante de todos ali se encontrava a elite intelectual de hoje e os cientistas do amanhã de nossa cidade, sendo capacitada nos conceitos tecnológicos por meio de aventuras e construção de robôs, quem diria. Maior felicidade sentiu quando, um a um, foram receber o diploma sendo anunciados pela chefe de cerimônia, a assistente social Dalreny Dourado Junqueira, todos sorrisos. Carinhosos e dando demonstração de afeto e respeito às monitoras, foi lindo vê-los abraçarem-se, indo alguns às lágrimas, tamanha a emoção.

Quando as crianças voltaram para casa, carregando junto de si o pequeno diploma amarelo conferido pela Oficina de Tecnologia Franqueadora Ltda, empresa do grupo Zoom, distribuidor exclusivo da Lego Education no Brasil, certificando a sua participação no programa Genius Robotic, elas não eram apenas a alegria de seus pais e professores.

Mais do que uma ação da FIEMS/SESI de Mato Grosso do Sul que o governo municipal de Brasilândia desenvolveu na cidade, a noite para aquelas famílias representou um momento de fé e  fortalecimento dos laços que os unia, uma espécie de oração, pautada no respeito e admiração a esses pequenos gênios: primeiro passo para que essas crianças com idade entre 7 e 11 anos se engajem no mundo da ciência e da tecnologia, preparando-se para buscar soluções às questões de hoje e do amanhã para o Brasil e a humanidade.


 

Fonte: 



























DUTRA, C.A.S. Diálogos impertinentes e crônicas de adeus, Brasilândia/MS, 2020, pág. 93.


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