A vocação de Samuel que existe em todos nós.
Carlos
Alberto dos Santos Dutra
Neste 2º Domingo
do Tempo Comum, as leituras do Livro Sagrado se revelam essencialmente
Cristocêntricas: Cristo é o centro da nossa fé. Duas passagens da Bíblia nos
conduzem hoje a refletir sobre o tema da vocação, da nossa vocação.
Inicialmente
é preciso deixar claro que, no campo da vocação, que vem do latim vocare=chamar,
é sempre Deus que toma a iniciativa e se aproxima dos homens e mulheres
chamando-os para sua obra. E o faz a todo tempo e lugar. A todos
Ele chama ao apostolado.
E este
chamamento, impulsionado pelo Espirito Santo que ilumina, se dá de diversas
formas, uma vez que, à semelhança do vento, o Espírito sopra onde quer
(Jo 3,8).
Poderíamos
nos perguntar: como e quando somos chamados? Quando haveremos de
responder: “Sim, Senhor?”. A qual chamado ou conselho daremos ouvido: os apelos
e vantagens do mundo, ou àquele que se encontra ao nosso lado e se diz ser nosso amigo?
A história
do chamamento do profeta Samuel ainda menino nos mostra a dinâmica, o modus
operandi de Deus quando se acerca de nós, da nossa vida, com um propósito.
Primeiro,
o chamado é sempre uma iniciativa misteriosa e gratuita de Deus. É Ele que
vem ao encontro do homem. Chama-o pelo nome. Deus conhece a cada um de nós.
Como um pai ou uma mãe haveria de esquecer um de seus filhos? Não seriam pais
se não fossem atrás daquela ovelha perdida retornando com ela nos ombros, machucada que fosse.
Ao nos
chamar Deus acolhe como somos e ao mesmo tempo, nos desafia a ser sinal e
testemunho de seu projeto no mundo. O presente e o futuro de nossa vocação
dependem da resposta que vamos dar a esse chamado.
Da 1ª
leitura podemos extrair que Deus se manifesta a Samuel enquanto ele estava
deitado, presumivelmente a noite. É o momento do silêncio, da tranquilidade e
da calma, quando a algazarra, o barulho e a confusão se calaram. Ou seja, é no
silêncio que a voz de Deus é mais facilmente perceptível; quando o coração e a
mente do homem abandonaram a preocupação
com os problemas do dia a dia e estão mais livres para escutar os apelos e
desafios de Deus.
Bonito? Maravilhoso? Sim. Simples? Fácil? Não. Não raras vezes temos dificuldade de reconhecer este chamado, de identificar a voz de Deus, como aconteceu com o jovem Samuel. Javé chamou Samuel três vezes e só na quarta vez é que o jovem conseguiu perceber que voz era aquela (1Sm 3,3b-10.19).
A mensagem
aqui evidencia a dificuldade que qualquer chamado experimenta no sentido de
identificar a voz de Deus, no meio da multiplicidade de vozes e apelos que nos
envolvem todos os dias e atraem nossa atenção e os nossos sentidos.
O papel de Eli
na descoberta vocacional de Samuel foi essencial. Eli compreende que era o
Senhor que chamava o menino. É, portanto, Eli que ensina Samuel a abrir o coração ao
chamamento de Javé: “Se fores chamado outra vez, responde: ‘fala, Senhor, o
teu servo escuta”.
Veja aqui a
importância dos irmãos que nos rodeiam, que nos aconselham e orientam. Eles têm
um papel importante na percepção da vontade de Deus a nosso respeito.
Eli
compreendeu que Samuel ainda não conhecia o Senhor e que a Palavra ainda não o
havia sido manifestada. Samuel descobre a Deus e Eli, ao aconselhar, põe em
prática sua vocação.
Em síntese,
o chamado de Samuel nos ensina e reforça as palavras do Evangelho de hoje que
nos propõe o que pode ser chamado de Teologia do Seguimento. Seguimento
a Jesus por uma Igreja – Povo de Deus --, discípula e missionária. Uma Igreja em saída, como pede o Papa Francisco.
No Evangelho
(Jo 1,35-42) observamos João Batista que está parado vê Jesus andando
e aponta aos dois discípulos que lhe acompanhavam, que deviam seguir e acompanhar
a Jesus.
A
missão/vocação de João Batista não é anunciar a si mesmo ou ao seu grupo de
seguidores, mas a missão de apontar o caminho: “Eis o cordeiro de Deus”.
É a Ele que devemos seguir. Aos poucos, depois de anunciar o Senhor e batizá-lo,
pedir para aplainar os caminhos, João Batista, vai saindo de cena, cumprindo
sua missão, sua pastoral.
Em nossas
comunidades, a pastoral e os serviços que realizamos são os sinais visíveis da
nossa vocação e resposta ao chamamento a Jesus. Mas ao contrário do que muitas
vezes pensamos, o papel e vocação das pastorais e movimentos não é atrair
pessoas para o grupo, mas para implantar o projeto de Reino de Jesus.
Um Jesus que
está em constante movimento; não está parado, como vimos no Evangelho:
caminha pelos campos, desertos, vilas e cidades, pratica milagres, abençoa, faz
curas e ensina os segredos da vida e da felicidade, através da prática da
justiça, da verdade e da solidariedade aos menos favorecidos. Nos ensina a responder ao chamado. Nos
ensina a ficar atento aos conselhos, à semelhança de Eli a Samuel. Nos ensina a
dizer ao Senhor: “Fala que teu servo escuta”.
Fiquemos, pois,
atentos aos conselhos, notícias e informações que recebemos todos os dias, dos
amigos e daqueles que estão ao nosso lado dizendo: Jesus está aqui, Jesus está acolá. E, principalmente aquelas que nos chegam pelas redes sociais:
informações, pregações, correntes de oração e grupos que nem sempre libertam.
E tampouco fazem discípulos de Jesus, aquele que perguntou no Evangelho de
hoje: “O que estais procurando?”.
Que nesta hora, diante de tal pergunta, possamos
responder em alto e bom som: buscamos “Rabi”, o nosso Mestre. E que tenhamos
coragem de estender-lhe a mão quando Ele nos disser: sim, sou Eu. “Vinde ver” onde eu
moro e para que vim ao mundo...
Assim, como
Ele falou a Simão Pedro, chamado Cefas, que quer dizer pedra, somos
também convidados a ouvir e a responder, interpretar os sonhos e os chamados de
Deus que nos tocam o coração, pegar na sua mão e seguir em frente.
A vocação
sempre é intermediada por pessoas que
um dia nos apresentaram Jesus e d’Ele nunca mais nos apartamos. Rezemos, pois
por todos aqueles que um dia nos apresentaram Jesus, aos quais somos eternamente gratos pela nossa vocação: nossos
pais, padrinhos, avós, tios, irmãos, professores, familiares, amigos e
comunidade de fé, esperança e caridade. Assim seja.
Brasilândia/MS,
14 de janeiro de 2024. Diácono Carlito. 2º Domingo do Tempo Comum. Igreja Matriz da Paróquia Cristo Bom Pastor. Celebração das 19:00 horas.
Foto: Jovens profetas: Samuel e Jeremias (capuchinhos.org); Fonte: Liturgia - Dehonianos; Homilia do Pe. Antônio Tasquetto, da Paróquia e Santuário Nossa Senhora das Vitórias, de Cacequi/RS. (5) Facebook
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