domingo, 14 de janeiro de 2024

 

A vocação de Samuel que existe em todos nós.

Carlos Alberto dos Santos Dutra


 

Neste 2º Domingo do Tempo Comum, as leituras do Livro Sagrado se revelam essencialmente Cristocêntricas: Cristo é o centro da nossa fé. Duas passagens da Bíblia nos conduzem hoje a refletir sobre o tema da vocação, da nossa vocação.

Inicialmente é preciso deixar claro que, no campo da vocação, que vem do latim vocare=chamar, é sempre Deus que toma a iniciativa e se aproxima dos homens e mulheres chamando-os para sua obra. E o faz a todo tempo e lugar. A todos Ele chama ao apostolado.

E este chamamento, impulsionado pelo Espirito Santo que ilumina, se dá de diversas formas, uma vez que, à semelhança do vento, o Espírito sopra onde quer (Jo 3,8).

Poderíamos nos perguntar: como e quando somos chamados? Quando haveremos de responder: “Sim, Senhor?”. A qual chamado ou conselho daremos ouvido: os apelos e vantagens do mundo, ou àquele que se encontra ao nosso lado e se diz ser nosso amigo?

A história do chamamento do profeta Samuel ainda menino nos mostra a dinâmica, o modus operandi de Deus quando se acerca de nós, da nossa vida, com um propósito.

Primeiro, o chamado é sempre uma iniciativa misteriosa e gratuita de Deus. É Ele que vem ao encontro do homem. Chama-o pelo nome. Deus conhece a cada um de nós. Como um pai ou uma mãe haveria de esquecer um de seus filhos? Não seriam pais se não fossem atrás daquela ovelha perdida retornando com  ela nos ombros, machucada que fosse.

Ao nos chamar Deus acolhe como somos e ao mesmo tempo, nos desafia a ser sinal e testemunho de seu projeto no mundo. O presente e o futuro de nossa vocação dependem da resposta que vamos dar a esse chamado.

Da 1ª leitura podemos extrair que Deus se manifesta a Samuel enquanto ele estava deitado, presumivelmente a noite. É o momento do silêncio, da tranquilidade e da calma, quando a algazarra, o barulho e a confusão se calaram. Ou seja, é no silêncio que a voz de Deus é mais facilmente perceptível; quando o coração e a mente do homem  abandonaram a preocupação com os problemas do dia a dia e estão mais livres para escutar os apelos e desafios de Deus.

Bonito? Maravilhoso? Sim.  Simples? Fácil? Não. Não raras vezes temos dificuldade de reconhecer este chamado, de identificar a voz de Deus, como aconteceu com o jovem Samuel. Javé chamou Samuel três vezes e só na quarta vez é que o jovem conseguiu perceber que voz era aquela (1Sm 3,3b-10.19).

A mensagem aqui evidencia a dificuldade que qualquer chamado experimenta no sentido de identificar a voz de Deus, no meio da multiplicidade de vozes e apelos que nos envolvem todos os dias e atraem nossa atenção e os nossos sentidos.

O papel de Eli na descoberta vocacional de Samuel foi essencial. Eli compreende que era o Senhor que chamava o menino. É, portanto,  Eli que ensina Samuel a abrir o coração ao chamamento de Javé: “Se fores chamado outra vez, responde: ‘fala, Senhor, o teu servo escuta”.

Veja aqui a importância dos irmãos que nos rodeiam, que nos aconselham e orientam. Eles têm um papel importante na percepção da vontade de Deus a nosso respeito.

Eli compreendeu que Samuel ainda não conhecia o Senhor e que a Palavra ainda não o havia sido manifestada. Samuel descobre a Deus e Eli, ao aconselhar, põe em prática sua vocação.

Em síntese, o chamado de Samuel nos ensina e reforça as palavras do Evangelho de hoje que nos propõe o que pode ser chamado de Teologia do Seguimento. Seguimento a Jesus por uma Igreja – Povo de Deus --, discípula e missionária. Uma Igreja em saída, como pede o Papa Francisco.

No Evangelho (Jo 1,35-42) observamos João Batista que está parado vê Jesus andando e aponta aos dois discípulos que lhe acompanhavam, que deviam seguir e acompanhar a Jesus.

A missão/vocação de João Batista não é anunciar a si mesmo ou ao seu grupo de seguidores, mas a missão de apontar o caminho: “Eis o cordeiro de Deus”. É a Ele que devemos seguir. Aos poucos, depois de anunciar o Senhor e batizá-lo, pedir para aplainar os caminhos, João Batista, vai saindo de cena, cumprindo sua missão, sua pastoral.

Em nossas comunidades, a pastoral e os serviços que realizamos são os sinais visíveis da nossa vocação e resposta ao chamamento a Jesus. Mas ao contrário do que muitas vezes pensamos, o papel e vocação das pastorais e movimentos não é atrair pessoas para o grupo, mas para implantar o projeto de Reino de Jesus.

Um Jesus que está em constante movimento; não está parado, como vimos no Evangelho: caminha pelos campos, desertos, vilas e cidades, pratica milagres, abençoa, faz curas e ensina os segredos da vida e da felicidade, através da prática da justiça, da verdade e da solidariedade aos menos favorecidos. Nos ensina a responder ao chamado. Nos ensina a ficar atento aos conselhos, à semelhança de Eli a Samuel. Nos ensina a dizer ao Senhor: “Fala que teu servo escuta”.

Fiquemos, pois, atentos aos conselhos, notícias e informações que recebemos todos os dias, dos amigos e daqueles que estão ao nosso lado dizendo: Jesus está aqui, Jesus está acolá. E, principalmente aquelas que nos chegam pelas redes sociais: informações, pregações, correntes de oração e grupos que nem sempre libertam. E tampouco fazem discípulos de Jesus, aquele que perguntou no Evangelho de hoje: “O que estais procurando?”.

Que nesta hora, diante de tal pergunta, possamos responder em alto e bom som: buscamos “Rabi”, o nosso Mestre. E que tenhamos coragem de estender-lhe a mão quando Ele nos disser: sim, sou Eu.Vinde veronde eu moro e para que vim ao mundo...

Assim, como Ele falou a Simão Pedro, chamado Cefas, que quer dizer pedra, somos também convidados a ouvir e a responder, interpretar os sonhos e os chamados de Deus que nos tocam o coração, pegar na sua mão e seguir em frente.

A vocação sempre é intermediada por pessoas que um dia nos apresentaram Jesus e d’Ele nunca mais nos apartamos. Rezemos, pois por todos aqueles que um dia nos apresentaram Jesus, aos quais somos eternamente gratos pela nossa vocação: nossos pais, padrinhos, avós, tios, irmãos, professores, familiares, amigos e comunidade de fé, esperança e caridade. Assim seja.

Brasilândia/MS, 14 de janeiro de 2024. Diácono Carlito. 2º Domingo do Tempo Comum. Igreja Matriz da Paróquia Cristo Bom Pastor. Celebração das 19:00 horas.

Foto: Jovens profetas: Samuel e Jeremias (capuchinhos.org); Fonte: Liturgia - Dehonianos; Homilia do Pe. Antônio Tasquetto, da Paróquia e Santuário Nossa Senhora das Vitórias, de Cacequi/RS. (5) Facebook

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