Que queres
de nós, Jesus Nazareno?
Carlos
Alberto dos Santos Dutra
As
leituras deste 4º Domingo do Tempo Comum nos falam da missão profética, a
partir de Moisés, que é destinada a todos nós (Deuteronômio 18,15-20), e que também, por isso, devemos repensar nossas prioridades no serviço de Deus e dos irmãos (1
Coríntios 7,32-35).
Mas
é no Evangelho que encontramos o caminho e as condições para alcançar esses propósitos contidos na 1ª e 2ª leitura. Condições que se dão inevitavelmente por aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida, Jesus Cristo, que nos ensina a agir com autoridade quando interpelados: --Que
queres de nós, Jesus Nazareno?. Sábia resposta que há de nos transformar em
homens e mulheres livres da força do pecado.
Vejamos as belas e atiladas palavras dos discípulos de Leão Dehon sobre esse tema. Aquele homem com um espírito impuro que interpela Jesus na sinagoga de Cafarnaum representa todos os homens e mulheres, de todas as épocas, que são reféns do egoísmo, do orgulho, da autossuficiência, do medo, da exploração, da exclusão, da injustiça, do ódio, da violência, do pecado;
O homem com um espírito impuro representa
essa humanidade que percorre um caminho à margem de Deus e das suas propostas,
que aposta em valores efémeros e escravizantes ou que procura a vida em
propostas falíveis ou efémeras.
Para todos nós que, de uma forma ou de outra,
vivemos mergulhados nesta realidade desumanizadora, o relato de Marcos deixa
uma Boa Notícia: Deus não se conforma com o fato de os homens trilharem
caminhos de morte, e virá sempre ter conosco para nos oferecer a liberdade e a
salvação.
Para
Marcos, a proposta de Deus chega a todos, e torna-se realidade viva e atuante em Jesus.
Ele é o Messias libertador que, com a sua vida, com a sua palavra, com os seus
gestos, com as suas ações, vem propor aos homens um caminho novo de liberdade e
de vida.
Ao egoísmo,
Ele contrapõe a doação e a partilha;
Ao orgulho e à autossuficiência, Ele contrapõe o serviço simples e humilde a Deus e aos irmãos;
À exclusão,
Ele propõe a tolerância e a misericórdia;
À injustiça, ao ódio, à violência, Ele contrapõe o amor sem limites;
Ao medo, Ele contrapõe a liberdade;
À morte,
Ele contrapõe a vida.
Diante de
tanta generosidade, podemos nos perguntar: --Estou disponível para caminhar com
Jesus, para acolher as suas propostas, para abraçar o seu projeto, para acolher
a libertação que Ele veio me oferecer?
Os
discípulos de Jesus são as testemunhas, aqui e agora, da sua proposta
libertadora. Eles têm de continuar a missão de Jesus e de assumir a mesma luta
de Jesus contra todos os demônios que introduzem no mundo dinâmicas
criadoras de sofrimento e de morte.
Ser
discípulo de Jesus é percorrer o mesmo caminho que Ele percorreu e lutar, se
necessário até ao dom total da vida, por um mundo mais humano, mais livre, mais
solidário, mais justo, mais fraterno.
Os
seguidores de Jesus não podem ficar de braços cruzados, a olhar para o céu,
enquanto o mundo é construído e dirigido por aqueles que propõem uma lógica de
egoísmo e de morte; mas têm a grave responsabilidade de lutar, objetivamente,
contra tudo aquilo que desumaniza os filhos e filhas de Deus.
Será que essa
é também a minha luta?
O texto
refere o incomodo do homem com um espírito impuro, diante da presença
libertadora de Jesus. O pormenor faz-nos pensar nas reações agressivas e
intolerantes – por parte daqueles que pretendem perpetuar situações de
injustiça e de escravidão – diante do testemunho e do anúncio dos valores do
Evangelho.
Apesar da
incompreensão e da intolerância de que são, por vezes, vítimas, os discípulos
de Jesus não devem deixar-se encerrar nas sacristias, ficando à margem da
história por medo ou comodismo; mas devem assumir corajosamente e de forma bem
visível o seu empenho na transformação das realidades políticas, econômicas,
sociais, laborais, familiares.
Aquele
homem dominado por um espírito impuro não deve ter entrado pela primeira
vez na sinagoga de Cafarnaum naquele sábado. Provavelmente participava
habitualmente na liturgia e orações, escutava a Palavra de Deus que era lida e
as explicações dos escribas. Mas só nesse dia se sentiu questionado e
incomodado pela Palavra que escutou.
Por quê? Com
certeza porque Jesus proclamou e explicou a Palavra de uma forma nova, com
autoridade, com aquela autoridade que lhe vinha da sua experiência de Deus.
Sim, é
possível. E entre nós? A Palavra de Deus que ecoa todos os dias nas nossas
celebrações por onde anda?
Elas transmitem uma experiência de Deus e nos faz sentir a presença de Deus?
Provoca alguma transformação no coração dos que a escutam?
Ela nos interroga?,
nos desafia?, nos provoca?, nos inquieta ou nos deixa indiferentes e sempre
adormecidos?
--Que queres de nós, Jesus Nazareno?
A luta
contra os demônios que desafiam o mundo e escravizam a nós e nossos irmãos
é sempre um processo doloroso. Ele gera conflitos, divisões, sofrimento; mas é,
também, uma aventura que vale a pena ser vivida. Uma luta que vale a pena
travar. Embarcar na barca de Jesus nessa aventura é tornar-se cúmplice de Deus na construção de
um mundo de homens e mulheres livres.
Os ouvintes de Jesus estavam habituados
a receber ensinamentos. A diferença que fazem entre o ensino de Jesus e o dos
escribas e fariseus é que Jesus ensina como homem que tem autoridade. O que ele
fala não é repetição, nem palavras ditas de cor, mas pronunciada do coração
para atingir o coração.
O espírito mau sabe quem é Jesus
– o Santo de Deus – e reconhece a sua autoridade: Jesus veio para vencer as
forças do mal com um ingrediente novo: Jesus diz coisas novas. Ele não diz
em nome de alguém alguma coisa. Por isso Ele diz: --Eu vos digo...
Então, meus irmãos. O que faremos
com a Palavra que nos foi ofertada hoje? Por duas vezes, Marcos chama a nossa
atenção para o ensino de Jesus, feito com autoridade. Jesus anuncia uma
palavra nova, trata-se de uma palavra que faz crescer, que está ao serviço do
crescimento do ser e da vida.
É o sentido da ordem de Jesus ao
espírito mau: --Cala-te e sai deste homem! Isso porque Jesus veio para
que os homens tenham a vida e a tenham em abundância. A sua autoridade é
unicamente um poder de vida e não de morte. Quando Ele diz, aquilo que Ele diz
se realiza.
Autoridade sim. Autoritário não.
O autoritário é um fraco, um prepotente que quer fazer aquilo que pensa só
porque está comandando e as pessoas têm que obedecer de alguma forma, e aí
produz nas pessoas uma obediência amarga, muitas vezes, um peso e não convence
ninguém.
Já Jesus e sua autoridade,
convence, sabe o que quer, propõe, faz com que as pessoas acolham, demonstra
nos fatos a sua autoridade. Por isso Jesus tem credibilidade quando fala de
paz, amor e fraternidade.
Que a missão profética iniciada
com Moisés e as palavras ditas com a santa autoridade de Jesus nos ajudem a
repensar nossa prática a serviço do Reino de Deus e que também é nosso. E dar a
resposta firme e profética contra o mal: —Cala-te e sai...
Louvado Seja Nosso Senhor Jesus
Cristo.
Brasilândia/MS, 27 de janeiro de 2024. Diácono
Carlito. 4º Domingo do Tempo Comum. Paróquia Cristo Bom Pastor. Celebração na Comunidade São Vicente de Paulo e Igreja Matriz.
Foto: 09/01
– Ele manda até nos espíritos maus, e eles obedecem! – Pastoral Universitária
UniSALESIANO
Fonte: 04º Domingo do Tempo Comum
- Ano B [atualizado], 28 de janeiro de 2024. https://www.dehonianos.org/portal/leao-dehon/; José Ornelas, Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, Ricardo
Freire, António Monteiro. Província
Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos). Rua Cidade
de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal. Liturgia -Dehonianos
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